Amazônia em cinco minutos #03: pandemia em Tabatinga, impactos no Vale do Javari e ação internacional

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No terceiro episódio do “Amazônia em Cinco Minutos”, podcast com os destaques da semana, saiba como anda Tabatinga, cidade amazonense na tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru. O local sofre o impacto da pandemia entre as suas populações urbanas e indígenas, que atinge o Brasil há mais de três meses.

Até 16 de junho, segundo o governo do Amazonas, Tabatinga e Benjamin Constant, localidades do Alto Solimões, próximas e dependentes entre si, têm confirmados cerca de 2.500 casos. Apenas em Tabatinga foram 67 mortes por Covid-19 registradas até aquele dia.

Entenda ainda como é o protagonismo dos povos indígenas frente à pandemia do coronavírus não muito longe da região, no Vale do Javari, onde vivem cerca de 6 mil pessoas, incluindo grupos em isolamento voluntário e autônomos. Em 16 de junho, de acordo com a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), 39 indígenas do vale testaram positivo para a doença.

Reforçando o pedido de proteção desses e de outros povos originários, comentamos ainda sobre artigo assinado pelo professor Marcos Colón, que relata a urgência de uma ação conjunta e solidária a nível internacional para enfrentar a doença entre os indígenas da Amazônia.

Este episódio é dedicado à memória de Paulinho Paiakan, líder kaiapó que atuou por décadas como defensor da demarcação e proteção de terras indígenas no Brasil. Ele faleceu na quarta-feira (17) em consequência do coronavírus.

A dica cultura da semana é o Trio Roraimeira, formado pelos músicos compositores Neuber Uchôa, Zeca Preto e Eliakin Rufino, que cantam sobre as belezas naturais e cultura popular de Roraima, no extremo norte do país. As músicas são “Cidade do Campo” homenagem à capital Boa Vista e “Makunaimando”.

O podcast é mais uma frente da missão da Amazônia Latitude: ampliar o debate crítico sobre a floresta e divulgar sua diversidade cultural, sua riqueza natural e seus dilemas. Está disponível no tocador acima, no Deezer, no Apple Podcasts e no Spotify. Para navegar por todos os episódios, clique aqui.

Leia a transcrição completa abaixo:

19 de Junho de 2020, no ar “Amazônia em 5 minutos”, um programa para você atualizar-se nas pautas importantes que fazem parte do contexto social, ambiental e humano da região, e que estão no foco do site Amazônia Latitude.

No programa de hoje, que é o terceiro episódio do “Amazônia em 5 minutos”, não temos como deixar de falar do protagonismo e da situação dos povos indígenas diante da pandemia que atinge o Brasil há mais 3 meses. E logo após às notícias, você ouve a nossa dica musical, um trio de Roraima com mais de 30 anos de história nos palcos do Brasil e do mundo.

Tabatinga, cidade do estado do Amazonas, localizada na tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, sofre impacto da pandemia entre as suas populações urbanas e indígenas.
O boletim da Fundação de Vigilância em Saúde do estado do Amazonas, divulgado em 16 de junho, registrava 2.550 óbitos e mais de 58 mil casos confirmados do novo coronavírus em todo o estado, sendo 60% no interior. Somente Tabatinga e Benjamin Constant, ambos os municípios no Alto Solimões, tem confirmados cerca de 2500 casos. A situação de Tabatinga é mais preocupante: com 67 mortes por Covid registradas até o momento.

Próxima dali está a Terra Indígena Vale do Javari, a segunda maior do Brasil, onde vivem cerca de 6 mil pessoas, incluindo grupos em isolamento voluntário e autônomos. Em 16 de junho, dados divulgados pela Secretaria Especial de Saúde Indígena, a Sesai, apontam que 39 indígenas do Vale do Javari testaram positivo para Covid. Muitos se recolheram ao isolamento por meios próprios e ainda dependem de doações.
No início deste mês, o governador do Amazonas, Wilson Lima, decidiu flexibilizar a quarentena. A medida, criticada por cientistas, foi baseada na diminuição da taxa de ocupação dos leitos de UTI para Covid-19 em Manaus.
Segundo lideranças de Tabatinga, muitos indígenas com sintomas preferem não recorrer aos hospitais, pois ou tiveram parentes que morreram aguardando transferência, ou não receberam o corpo de volta, no caso dos que tiveram parentes transferidos para Manaus. Preferem, então, ficar nas aldeias, evitando fazer o teste e recorrendo aos seus meios de tratamento tradicionais.

Considerando esse quadro preocupante, presente não apenas nas áreas de fronteira, mas em toda a Amazônia, o professor Marcos Colón publicou o artigo intitulado “Indiferença do Estado brasileiro demanda ação multilateral contra pandemia na Amazônia”, disponível, na íntegra, no site Amazônia Latitude, e que você ouve agora, resumido em seus principais pontos.

A pouca informação que chega da Amazônia indica que o atendimento médico aos povos indígenas está próximo do colapso. É urgente uma ação solidária, nacional e internacional, pela saúde dos povos indígenas, tendo como objetivo central o enfrentamento às causas que agravam a vulnerabilidade dos povos originários.
Todos os níveis de governo devem se engajar na proteção das vidas indígenas e dos agentes de saúde que atendem essas populações. É urgente repensar práticas de assistência à saúde indígena que contemplem os contextos culturais, sociais e econômicos.

Sem acesso aos devidos cuidados de saúde e vítimas de invasão pelos criminosos que sempre lucram com a destruição da floresta, as populações indígenas estão novamente enfrentando o risco de genocídio. A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, a Coiab, organizações de base, o Conselho Indigenista Missionário, o CIMI, instituições científicas como a Fundação Oswaldo Cruz e universidades brasileiras, juntas vem denunciando o abandono e a condição precária de vidas indígenas entregues ao próprio destino.
Aos organismos internacionais e instituições humanitárias, lembramos que o apoio técnico e político de órgãos multilaterais é imprescindível. Refere-se aqui a recursos, mecanismos, condições materiais, assistência médica especializada e logística para enfrentar as estratégias de silenciamento e marginalização das políticas de extermínio que a pandemia da Covid-19 acentuou.

O descaso com a saúde da população amazônica exemplifica as relações espúrias entre o governo federal e a região Norte, a mais afetada do país em termos proporcionais. Há ainda o problema das subnotificações e da vulnerabilidade nas comunidades indígenas locais frente ao coronavírus.
Uma frente ampla e diversa, potencializada pela solidariedade e criatividade, e pelos recursos e poder de instituições multilaterais, pode combater as políticas de morte que assombram comunidades indígenas. Não temos tempo a perder.

Dedicamos o programa à memória de Paulinho Paiakan, liderança kaiapó que fez sua passagem nesta quarta-feira, por consequência da covid 19. Paiakan atuou durante décadas como árduo defensor da demarcação das terras indígenas e da proteção dos seus territórios.

Você está ouvindo o Trio Roraimeira, formado pelos músicos compositores Neuber Uchôa, Zeca Preto e Eliakin Rufino, que cantam as belezas naturais e a cultura popular de Roraima. Esta música é uma homenagem à capital Boa Vista, e se chama Cidade do Campo.

Para você conhecer mais a história e a arte do Trio Roraimeira a dica é buscar no youtube um documentário chamado “Roraimeira – Expressão Amazônica”, um filme de Thiago Briglia.

E ao som da música Makunaimando, agradecemos ao nosso público pela audiência. “Amazônia em 5 minutos” é uma produção da Amazônia Latitude, com apresentação de Bob Barbosa. E segue o som, com Trio Roraimeira!
 
 

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