Mulheres indígenas lutam pela sobrevivência de seus povos e tradições

Se as eleições de 2018 tornaram explícito o clima de ódio no Brasil, foram também o eco de uma força ancestral. Pela primeira vez, a democracia teve a presença indígena em uma chapa presidencial. O ineditismo foi abrilhantado por se tratar de uma mulher, Sonia Guajajara. Seria uma conquista imensurável, não fosse a que veio se somar no final do pleito. Joênia Wapixana se tornou a primeira mulher indígena eleita deputada federal.

Não se tratam de acasos. As conquistas simbolizam um momento em que o poder feminino tomou as rédeas da luta pela sobrevivência de seus povos e tradições. Em vários cantos do país, não param de aparecer novas caciques e vozes-potência do movimento indígena.

Contudo, esta é apenas uma faceta de sua importância no contexto dos povos da floresta. São elas as guardiãs dos saberes milenares, da língua à espiritualidade, do artesanato à colheita. Sem os saberes acumulados e transmitidos pelas mulheres, é impossível pensar em cultura indígena.

Fora a luta para garantir a sobrevivência de suas comunidades e superar barreiras dentro das aldeias, elas vêm lidando com desafios novos e cada vez maiores. O domínio dos ciclos da natureza, que guia os modos de vida indígena, vê-se desafiado por oscilações climáticas bruscas. Por sua vez, o interesse dos jovens pela cultura compete com as distrações dos brancos.

O ensaio fotográfico a seguir, produzido pelas lentes de Renato Soares, expõe toda a força, encanto e dureza do universo feminino indígena. Um texto de autoria do fotógrafo sobre o ritual Yamurikumã, pano de fundo de algumas das imagens apresentadas, recria a potência mística da ancestralidade.

“Numa expedição de 1535 o navegador Francisco de Orellana, penetrou pela foz do rio Orinoco. No medio Amazonas teve um encontro com mulheres guerreiras que atacaram sua embarcação. Conforme consta da Relación de frei Gaspar de Carvajal, a viagem empreendida por Orellana pelo maior rio do mundo ajudou recriar a lenda das mulheres guerreiras, as amazonas da mitologia grega clássica. O rio ainda era chamado de Rio Grande, Mar Dulce ou Rio da Canela, por causa das grandes árvores de canela que existiam ali. A belicosa vitória das icamiabas contra os invasores espanhóis foi tamanha que o fato foi narrado ao rei Carlos V, o qual, inspirado nas antigas guerreiras hititas ou amazonas, batizou o rio de Amazonas.

Certamente Orellana e Carvajal tiveram um encontro com uma aldeia em dia de Yamurikumã. Ritual onde as mulheres tomam os pertences dos homens como cocares de penas, lanças, flechas, bracadeiras e entoam cantos onde provocam os homens. Nestes dias a aldeia ganha um novo ritmo dominado pelo universo feminino”.

 

 

01 – As Yamaricumã na aldeia Kamayurá no Parque Indigena do Xingu.

 

02 – As Yamaricumã do Xingu sob o cair da tarde.

 

03 – Kaiti Kamayura pronta para o ritual do Yamurikumã.

 

04 – Momentos de magia da Luz e do Fogo no acampamento das Mulheres Kalapalo. A dança em volta da fogueira constitui um momento único, quando as sombras se moldam e criam um universo paralelo. As Yamarikumã saem da escuridão e caminham na noite no Xingu.

 

05 – No pátio da aldeia Kamayurá, mulheres em conversa descontraída sobre os rituais que iriam acontecer.

 

06 – Mulher Kalapalo prepara o Beiju. Alimento tradicional feito com o polvilho da mandioca.

 

07 – Mulheres Kaiapó durante o ritual Metora, na Aldeia Mojkarako.

 

08 – “A primeira vez em que estive com os Ticuna, foi em 1991, em minha primeira grande viagem ao Amazonas. Lembro das barrancas do rio e da chegada na primeira aldeia. Lá acontecia a festa da Menina Moça, e como estava chegando pela primeira vez, não pude fotografar. Quase 30 anos depois voltei ao Alto Solimões e lá pude registrar duas festas, dois rituais de passagem fascinantes e que marcam para sempre as vidas dessas mulheres.  Na mão, a tintura do jenipapo no ritual da Moça Nova na aldeia Ticuna do Vendaval”.

 

09 – As crianças Kaiapó são pintadas por suas mães desde seu nascimento. A pintura corporal é uma identidade cultural.

 

10 – A mulher Tuiuca da aldeia Utapinoponã. Autodenominam-se Dokapuara, Utapinõmakãphõná ou Umerekopinõ. Utapinoponã significa “filhos da cobra de pedra”.

 

11 – A criança observa sua avó tecendo um cesto feito com as folhas de Buriti na aldeia Krahô Pé de Coco, no Tocantins.

 

12 – A indígena Pataxó Jandaia em ritual de cura no interior da oca na aldeia da Jaqueira, na Bahia.

 

13 – Os Kaiapó estão sempre pintados com o Jenipapo. A pintura e os motivos fazem parte de sua identidade cultural. Aldeia Mojkarako Kaiapó – Terra Indígena Mebengokre, Pará.

 

14 – Os Guarani-Kaiowá esquecidos pela sociedade brasileira seguem a vida na dura rotina do trabalho no campo para o plantio da Mandioca. Às margens da BR-060, em Jardim (MS), mãe e filha cultivam aos poucos a lavoura.

 

15 – Mulher Kalapalo com sua pintura tradicional de Urucum.

 

16 – As Yamaricumã na aldeia Kamayurá no Parque Indígena do Xingu.

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As fotos usadas nessa galeria são de autoria de Renato Soares, Renato Soares é fotógrafo indigenista, especializado no registro aprofundado de povos indígenas, bem como da arte, da cultura e da biodiversidade do país. Desde 1986 realiza sistemáticas viagens pelo território nacional para retratar diferentes formas de expressão cultural dos variados grupos étnicos brasileiros. A identificação com o universo indígena o tem levado a longos períodos de imersão em aldeias e reservas, e o estimulou a desenvolver o projeto “Ameríndios do Brasil”, uma ambiciosa documentação fotográfica das quase 300 nações indígenas do país.
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