O Forte de São José da Barra do Rio Negro 350 anos depois

Na quinta-feira, 24 de outubro, a cidade de Manaus completa mais um aniversário. Sua história começa com a construção do Forte de São José da Barra do Rio Negro, em 1669, para proteger a região norte de invasões espanholas, e passa por momentos de prosperidade econômica, como foi o caso dos ciclos da borracha, que trouxeram muito  desenvolvimento ao município, levando-o a ser conhecido como a Paris dos Trópicos.

Para comemorar a ocasião, a prefeitura da cidade realiza o evento “Cultura 350”, que conta com visitas especiais e eventos no Teatro Amazonas, apresentações dos Corpos Artísticos e de grupos do Liceu Cláudio Santoro, lançamentos de livros, exibição de filmes e documentários, entre outros, todos oferecidos gratuitamente desde terça-feira (22).

Comemorações a parte, passados 350 anos de seu trajeto de resistência e até mesmo glórias, Manaus apresenta sintomas comuns às capitais brasileiras – superpopulada, com problemas relacionados à violência, infraestrutura e distribuição de renda. A população manauara ultrapassou 2 milhões de pessoas, das quais apenas 23% se encontram formalmente ocupadas e 37% vivem com até meio salário mínimo por mês, segundo dados do IBGE.

Além disso, é importante ressaltar o papel ocupado por Manaus na região amazônica. A cidade, embrenhada no seio da selva tropical, esteve presente no roteiro de todas as tentativas de conquista da Amazônia empreendida pelo governo brasileiro – que torna a bater na mesma tecla desenvolvimentista nesse ano de 2019. Um exemplo relativamente recente disso é a Zona Franca de Manaus, pólo industrial livre de impostos que atraiu grandes empresas e ondas de migrantes nortistas e nordestinos em busca de melhores oportunidades de vida.

Nesse sentido, podemos interpretar Manaus como um pólo magnético da região Norte, atraindo toda sorte de pessoas em busca de riquezas e prosperidades (talvez, o Magnetismo de Manaus em relação ao Norte possa ser comparado ao da cidade de São Paulo em relação ao Sudeste). Mas como em São Paulo, as promessas de prosperidade podem ser apenas promessas, visto a desigualdade e a marginalização das populações desfavorecidas, relegadas à favelas onde as condições de vida, muitas vezes degradantes.

Nesta data especial, trazemos esta seleção de fotos para evidenciar os sinais da idade em Manaus. Nossa intenção aqui não é atacar o município, tampouco ofuscar o brilho e a alegria desse momento especial para os manauaras. Com esta fotogaleria, queremos refletir sobre os conflitos socioambientais que se abatem sobre a população, em sua maioria, acuada por um sistema predatório de acúmulo de bens.

Confira abaixo a galeria com imagens de Manaus tiradas do arquivo do fotojornalista e colaborador da Amazônia Latitude, Edmar Barros.

 

1 – Manaus foi fundada em 24 de outubro de 1669, a partir do Forte de São José da Barra do Rio Negro, para demonstrar a presença do império português e fixar domínio na região amazônica. Antes de os europeus chegarem à Amazônia, no século XVI, diversos povos indígenas habitavam a região. Foto: Amazônia Latitude.

 

2 – Neste 24 de outubro, Manaus completa 350 anos. Para comemorar a data, a gestão municipal realiza o evento “Cultura 350”, uma programação cultural espalhada pela cidade que contempla visitas ao icônico Museu do Amazonas; exposições como a “Aquarelando Manaus”, que retrata os pontos histórico da cidade em pinturas; lançamento de livros nas bibliotecas da cidade; visitas à museus e exibição de filmes sobre o Município. Foto: Edmar Barros/ Amazônia Latitude.

 

3 – A produção industrial da Zona Franca representa uma fatia significativa dos empregos e do PIB em Manaus, respondendo por 30% do total. O polo industrial livre de impostos conta com a presença de grandes empresas multinacionais, como a Sony, LG, Samsung, Philips, Coca-Cola Brasil, Honda (acima), Yahama, Panasonic, Bic e Gillette, sendo a Argentina uma das principais importadoras das mercadorias ali produzidas. No entanto, por conta da posição geográfica da capital amazonense, o escoamento da produção acaba relativamente prejudicada. Foto: Edmar Barros/ Amazônia Latitude.

 

4 – Já o setor primário configura uma fatia menos importante na economia manauara. Segundo informações do IBGE, em 2016, a agropecuária (que se concentra às margens das rodovias próximas à cidade) rendeu R$212 milhões para Manaus. Na foto acima, vemos a Feira da Manaus Moderna, onde pescadores vendem o fruto de seu trabalho – importante ressaltar que atividades paralelas não registradas, como a pesca, representa cerca de 50% da renda per capita dos manauaras. Foto: Edmar Barros/ Amazônia Latitude.

 

5 – Manaus foi uma das promessas de desenvolvimento econômico, social e de garantia de soberania brasileira sobre as fronteiras amazônicas ao longo dos séculos – um dos argumentos usados para validar a implementação da Zona Franca durante o regime militar. No entanto, a promessa não se cumpriu, mas convenceu migrantes de diversos pontos do país que chegaram à cidade. A falta de planejamento urbano ordenado e inchaço da população com a constante chegada de migrantes (nortistas e nordestinos) acarretou em graves problemas estruturais, como o aumento na incidência de enchentes. Foto: Edmar Barros/ Amazônia Latitude.

 

6 – Em julho, publicamos uma fotogaleria sobre o efeito do crescimento desordenado de Manaus em seus igarapés. Em 2005, um trabalho da Fiocruz atestou que todos os igarapés localizados na área urbana de Manaus estavam contaminados por efluentes (esgoto) domésticos e que não possuíam estrutura de escoamento de águas pluviais. O problema do acúmulo de efluentes e lixo, assim como o do transbordo dos resíduos em períodos de cheia, reflete a ausência de educação ambiental e de uma gestão ambiental insuficiente. A falta de saneamento básico perpetua ciclos de pobreza e vulnerabilidade social, que têm consequências nos aspectos ambientais e atingem os igarapés. Foto: Edmar Barros/ Amazônia Latitude.

 

7 – Outro problema gerado pelos ideais desenvolvimentistas aplicados à Manaus é o surgimento de favelas por conta da falta de emprego e moradia. Segundo reportagem do Portal Amazônia, publicada em setembro deste ano, a capital concentra 20% da população do estado em situação de extrema pobreza. Na foto acima, vemos a reintegração de posse da comunidade Cidade das Luzes, no Bairro Tarumã, em dezembro de 2015, onde cerca de 2000 famílias foram retiradas da área pela Polícia Militar do Estado. A invasão, que ocorreu em um terreno de 61.000 m2 e teve início em 2013, promoveu o desmatamento e outras agressões ao meio ambiente para que as residências fossem erguidos. Foto: Edmar Barros/ Amazônia Latitude.

 

8 – Ainda em 2015, teve início a Invasão José Melo, que carrega esse nome em homenagem ao então governador do Amazonas, uma tentativa de sensibilizar o poder público quanto ao problema habitacional. Essa invasão, localizada no Distrito Industrial 2, na Zona Leste de Manaus, foi desmantelada pela PM e retomada pelos ocupantes mais de uma vez, como mostra a reportagem de A Crítica. O mesmo processo de limpeza do terreno aplicado na invasão Cidade da Luz foi usado em José Melo – corte de árvores e queimadas para preparar o terreno e demarcá-lo. A época, a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), responsável legal pela área, entrou com um requerimento de reintegração de posse para a remoção das 5,5 mil famílias ali instaladas. Foto: Edmar Barros/ Amazônia Latitude.

 

9 – As emissões de gás carbônico produzido pela queima de combustíveis fósseis também configura um problema para os manauaras. A grande frota de veículos da cidade (acima de 750 mil), somada ao modelo de energia termoelétrica usada no estado, comprometem o ar do município e a saúde da própria floresta amazônica. Segundo entrevista concedida por cientistas do projeto GoAmazon à BBC em setembro deste ano, que usou um moderno aparato de coleta de dados sobre a qualidade do ar em Manaus, assim como os efeitos dos gases emitidos pela cidade, dizem que a poluição tem alterado a composição química da atmosfera da floresta amazônica, modificando a formação de nuvens, a ocorrência de chuva, a incidência de luz solar na mata e o processo de fotossíntese da vegetação, atividades essenciais ao ecossistema da Amazônia. Foto: Edmar Barros/ Amazônia Latitude.

 

10 – Mesmo com todos os problemas, Manaus segue como uma das mais expressivas capitais brasileiras, e o papel que desempenhou na história do país é inegável. Alguns manauaras veem o futuro com otimismo, como é o caso do escritor Alfredo Lopes, entusiasta de uma perspectiva de revolução tecnológica e científica na Amazônia. Termos como “Manaus Inteligente” refletem um rumo para o qual a cidade poderia seguir – aliar tecnologia, desenvolvimento socioeconômico e preservação do meio ambiente. Mas só o futuro dirá se esse plano será levado a cabo. Foto: Amazônia Latitude.

 

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