Território é corpo, arte é proteção: a Amazônia pelas lentes de Beto Oliveira, o Margem do Rio

Sob o pseudônimo de ‘Margem do Rio’, o fotógrafo e pesquisador Beto Oliveira mostra que os "povos das margens" são protagonistas amazônicos

Uma pergunta norteia o trabalho de Beto: como é possível enxergar a Amazônia por dentro? Fotos: @margemdorio / Instagram. Arte: Isabela Leite / Amazônia Latitude.
Uma pergunta norteia o trabalho de Beto: como é possível enxergar a Amazônia por dentro? Fotos: @margemdorio / Instagram. Arte: Isabela Leite / Amazônia Latitude.
Uma pergunta norteia o trabalho de Beto: como é possível enxergar a Amazônia por dentro? Fotos: @margemdorio / Instagram. Arte: Isabela Leite / Amazônia Latitude.

Uma pergunta norteia o trabalho de Beto: como é possível enxergar a Amazônia por dentro? Fotos: @margemdorio / Instagram. Arte: Isabela Leite / Amazônia Latitude.

Beto Oliveira, 28 anos, também conhecido como Margem do Rio, é um fotógrafo, poeta, farmacêutico, ativista, mestrando em Antropologia pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), nascido em Manaus. 

Seus primeiros passos foram dados no quilombo Passagem, que fica no município de Monte Alegre no Oeste do Pará, local para onde se mudou ainda com poucos meses de vida, junto da mãe, que queria estar próxima dos pais moradores do quilombo. 

Beto ainda não sabia, mas aquele local lhe semeara de sonhos, vivências, saberes. Os passos do menino foram sonhados por seus antepassados, que mais tarde o despertaram para as formas de vidas visíveis e invisíveis do seu território, processo que desaguou no seu fazer artístico-poético-visual. 

O trabalho fotográfico do artista surge como um contraponto à visão “satélite” que se tem da Amazônia, em que a região é vista de cima, o que permite ver apenas a copa das árvores. Embaixo delas tem pessoas, bichos, sonhos, plantas, amores, espíritos, encantarias e muito mais. 

Uma pergunta norteia o trabalho de Beto: como é possível enxergar a Amazônia por dentro? 

A partir desse questionamento, munido de sua câmera fotográfica, o Margem do Rio lança seu olhar sensível e poético sobre os universos que o cercam, mostrando as marginalidades amazônicas para o mundo e, generosamente, alimentando o imaginário de um futuro ancestral. 

Afinal, o que seria a arte, se não um ato de sincera e pura generosidade?

A Revista Amazônia Latitude conversou com esse criador amazônida sobre o papel da cultura no combate às mudanças climáticas, como sonhar um rio, o futuro do fazer artístico na região e a importância do protagonismo amazônida nos processos que envolvem o território.

Nascido em Manaus, criado no Quilombo Passagem, que fica no município de Monte Alegre no Oeste do Pará, Beto Oliveira é fotógrafo e pesquisador e é conhecido como "Margem do Rio". Foto: Divulgação.

pesquisador manauara e conhecido como “Margem do Rio”. Foto: Divulgação.

Amazônia Latitude: O legal de conversar contigo sobre esse tema é que, além de artista e uma série de outras coisas, tu também está fazendo um mestrado em Antropologia, um campo de conhecimento super relevante para as discussões sobre os rumos do mundo. Como você relaciona os universos de cultura e clima?

Beto Oliveira: Eu entendo que a cultura é um meio. Quando eu falo em meio, pode ser até no sentido materializado, como a estrada funciona para poder criar caminho para se locomover. A cultura está assim para gente, enquanto um meio de viver. Eu enxergo que o nosso jeito de viver amazonense, paraense, amapaense, o jeito de viver das amazônias é lido como arte. Está cada vez mais nesse lugar de descobertas. 

O nosso viver, culturalmente, é um meio de viver e sobreviver. Quais são os impactos das mudanças nos territórios? A gente pode falar de rios que são contaminados e que podem afastar os Encantados dali. A gente vai falar de práticas de pesca, de relacionamento com os botos, que vai deixar de existir quando o rio secar. [Com o agravamento de extremos climáticos] a gente vai falar das festas folclóricas que tem nos municípios que não vão mais acontecer por conta da seca. Então, as mudanças climáticas começam a impactar os nossos modos de viver culturalmente nas cidades, nos interiores. E isso inevitavelmente vai passar pela vida da gente que faz arte. E aí o que que a gente vai fazer enquanto artistas desse território que utiliza muito da energia e da magia daqui pra criar, compor. Qual o nosso papel nesse contexto? 

Como você revisita hoje as memórias da sua infância no quilombo Passagem e de que forma essas vivências transbordam no seu fazer artístico? 

Hoje eu estou fotografando menos e escrevendo mais. Não sei se o mestrado também me instiga a fazer isso. Mas eu encontrei o caminho que é traduzir sentimentos meus em haicais, que são aquelas poesias curtas. Ao mesmo tempo, eu comecei a consumir muitos livros de poetas daqui da região, do interior. Geralmente, eu vou muito à banca do Lago e saio de lá com um livro de algum poeta que nunca ninguém ouviu falar. Fazendo essas leituras, eu vejo o quanto eles olhavam a realidade. Claro, de uma maneira muito ainda elitista, a maioria dos poetas são políticos, foram políticos da cidade, pessoas brancas, ricas que moravam no centro. Mas entendendo o processo até mesmo etnográfico, antropológico deles, de olhar a cidade e escrever poesia. Comecei a escrever poesias como uma brincadeira. Eu consigo traduzir algumas coisas em frases curtas e que simbolizam coisas que eu acho que tenho que gritar muitas vezes. 

Esse ano o perfil Margem do Rio extrapolou isso, furou a bolha com o post ‘‘Pra onde os rios vão quando morrem?’’ 

Falando sobre fotografia, sabemos que muitas das imagens produzidas da Amazônia, durante muito tempo, foram feitas por pessoas de fora que vinham pra cá e fotografavam. Você é um dos exemplos de que isso tem mudado. Como você avalia o atual panorama da produção imagética da Amazônia? 

Eu acho que o que a gente tem feito é muito massa. Eu e outras pessoas daqui de Manaus, do interior, estamos fazendo muita arte falando dos nossos territórios. Uma das coisas mais incríveis é o quanto estamos honrando uma ancestralidade que está presente na gente. Porque eu acredito que tudo isso foi sonhado, assim como é a Amazônia. Ela foi plantada, ela foi manejada, ela foi co-criada com os povos, bichos e todo mundo junto. A gente está honrando esses legados a partir do momento que a gente cria arte e potência dentro do nosso território. Por isso que é tão poderoso e criativo. Se você se descola do território, você pode tentar fazer sua arte amazônida, mas você não vai estar sendo real consigo mesmo, primeiro. Então, quando a gente volta a pisar no chão no nosso território e entende que o território continua no nosso corpo, isso tem sido um grande legado que a gente tem feito com essa geração, estimulando cada vez mais pessoas. 

Ainda faltam muitas coisas pra gente se potencializar mais, como políticas públicas na cidade. Precisamos de mais oficinas sobre elaboração de projeto para a galera da periferia. Precisamos de mais envolvimento entre a gente, entre os artistas mesmo, colaborações, se conhecer mais. Eu vejo que muita gente não sabe o que eu faço aqui na cidade e eu não sei o que que o outro está fazendo. E, às vezes, a gente está fazendo coisas muito parecidas. Por que não se juntar, sabe?

Sinto que estamos plantando sementes para o futuro. A cena cultural de Manaus tem mudado bastante, tem se profissionalizado e se politizado mais. Vem chegando, a cada ano, uma leva de novos artistas, muitos são da periferia e trazem a arte para um lugar pedagógico, de denúncia também. Mas não só. Como imaginas a cena cultural do Amazonas no futuro? Para não ir tão longe, daqui a uns 10 anos. 

Acho que temos uma grande possibilidade de continuar a ganhar mais espaços e a ter mais produções daqui, feito com a gente daqui. Isso não tem volta mais. Precisamos que nós façamos coisas “de nós, para nós”. Que a produção de um grande evento tenha pessoas amazônidas, que não seja sempre uma galera do sudeste que chega aqui… Enfim, acho que a gente está ligado nisso e cada vez mais estamos atentos a algumas inegociações e é inegociável que não tenha pessoas amazônidas dentro desse circuito cultural, fazendo arte, trabalhando, recebendo e fazendo os seus corres. Mas eu vejo riscos muito sérios quando a gente não se comunica. Acho que a gente está em um limbo. Estamos fragmentados enquanto rede artística. Para o futuro, ou a gente vai desalinhar e realmente vai cada um para sua bolha, ou a gente pode ter esse momento de se agrupar e fazer grandes coisas, grandes festivais, quem sabe um Psica. 

Aqui em Manaus a gente teve o festival Até Tucupi, uma produção cultural que trouxe muito a questão climática para o discurso. Como que esses eventos culturais, que permitem a gente agitar culturalmente e artisticamente um território, contribuem, de maneira prática, para a conscientização climática e nessa missão de sustentar o céu? Eu realmente não quero que ele desabe. 

É uma questão de sensibilização. De usar a arte como essa ferramenta de sensibilizar mesmo. É sobre estar em um festival totalmente com a identidade de combate às mudanças climáticas, fazer a população ver o seu artista preferido e ter, talvez, o primeiro contato com a expressão ‘mudança climática’. Eu acho que esse é o papel da cultura, que se infiltra muito rápido na gente. Quando a gente consome arte, ouve uma música, vê um filme, vê uma pintura, lê um livro, se infiltra muito rápido na gente o sentimento. É uma provocação rápida. Tem que aproveitar essas provocações que as artes e os festivais podem fazer pra falar de clima. É uma ferramenta de educação mesmo. Educação, arte e cultura juntas. Elas se materializam na sensibilização. A programação do Até o Tucupi não teve só shows, eles também fizeram rodas de conversa, oficinas, foram em escolas públicas para levar o assunto. Então, um festival que era de música, eles já desdobraram em outras coisas também. Então, é aí que está a grande materialização da gente fazer acontecer e falar de clima, usando esses esses espaços. 

Tem uma oficina muito interessante sobre como sonhar o rio que você faz com crianças no projeto Arte Ocupa, iniciativa que leva oficinas de arte e meio ambiente para as periferias de Manaus . Queria que você falasse um pouquinho sobre a proposta dessa oficina. Como é que aqui a gente sonha um rio? 

Uma das primeiras coisas que a gente deve fazer para sonhar um rio é pensar no que a gente deseja ver em um rio. Acho que começa por aí. O que que a gente quer ver no mundo? No caso delas, é um igarapé. Eu questiono primeiro: o que vocês veem no igarapé? As crianças são muito espontâneas, elas respondem coisas como cocô, saco de lixo, geladeira. E aí a gente fala sobre o que queremos ver no igarapé. Será que a gente quer ver no igarapé um tambaqui? A proposta da oficina é desenhar num papel um igarapezão e as crianças ficam livres para elas desenharem o que que elas querem ver no igarapé. A galera começa a desenhar caixa de som, bicicleta, árvore, as crianças piram. Tem a questão de que só de imaginar o que você quer, no mundo dos sonhos isso já existe. Os yanomami falam isso, os krenak também falam. Pensar é sonhar e sonhar é existir para os yanomami. Se uma criança está sonhando o igarapé ali, por uma fração de segundos, já está existindo e só de existir já é possível.

Ultimamente, o futuro tem ficado acinzentado, estamos vivendo um colapso desse modo de vida capitalista. Tem a clássica frase “é mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo”. A arte também está nesse lugar de alimentar a imaginação, pensar em utopias. Como você vê esse papel da arte como plataforma de criação e reinvenção de futuros? 

A gente só vai conseguir pensar em possibilidades otimistas, digamos assim, nas possibilidades reais pra gente, pro nosso território, quando a gente entender que nós somos o território e que nós somos fodas. Aí entra a questão da autoestima. O quanto a gente manauara, amazonense, está recuperando a nossa autoestima. A gente está aprendendo a se enxergar. 

A galera fala que o Pará está na moda, que o tecnobrega gera tanto impacto. Eu fui numa aparelhagem e vi os paraenses se entregando e vivendo aquilo, isso é autoestima. Ele sabe que é foda. Ele sabe que são deles. “Isso é nosso, a gente ama”. Acho que essa autoestima está junto desse processo de fazer arte, pelo menos nos meus processos. Acho que a gente só vai conseguir projetar alguma no futuro se a gente se gostar, gostar da nossa identidade e se conectar com o território. 

A sustentabilidade virou um negócio. Sabe essas conversas de bioeconomia? Muito próxima de um “capitalismo verde”, como se isso fosse possível. E tem acontecido um processo parecido com a arte também. Existe uma reprodução de estigmas e estereótipos sobre a Amazônia, normalmente, feito por artistas de fora com o único intuito de vender. A Amazônia vende e é vendida. Para gente, a arte tem esse lugar tão especial, uma energia mística, encantada, e tem rolado essa apropriação bem tacanha do fazer artístico, com apropriações estéticas e discursivas do que é a Amazônia. Como que a gente se defende disso? 

Olha, é uma boa pergunta. O que a gente faz? [após uma pausa de quase 10 segundos, ele responde a própria pergunta] Acreditando na nossa arte. E não pode dar mole. A gente tem que aprender a negociar, negociar com as pessoas do sudeste, que vão vir atrás, cada vez mais, da Amazônia. Entender o mercado é uma coisa bem importante. Eu até postei nos stories uma frase que eu vi no livro do Bem Viver: “Aprender o caminho do inferno, para dele se livrar”. Eu peguei “aprender o caminho do inferno” e continuei “[…] pra poder devorar a cabeça dos brancos”. Arte amazônica é um mercado próprio, em todos os ramos, na biotecnologia, no turismo, nas artes em geral. Se a gente conseguir fazer isso, a gente se apropria mais do conhecimento dos territórios e começa a falar de igual pra igual com essa galera. 

Ouvimos você falando que é sobre extrativismo cultural. A Cultura é uma alternativa econômica sustentável, mas isso é pouco discutido nos espaços de poder. Nossa região é riquíssima culturalmente e isso é pouco explorado. 

É um um setor próprio. De novo aquela questão da complexidade da Amazônia, ela é culturalmente esse grande mosaico com muita coisa, com muitas ideias, com muitos festivais. A gente fala dos bois de Parintins [boi-bumbá], mas tem mais de 100 bois no Amazonas, muitos municípios têm seus próprios festivais. Essa grana poderia ser movimentada da gente pra gente, se tivesse uma estrutura política com esse olhar. Mas a Amazônia foi construída sobre o olhar da madeira, da hidrelétrica, do garimpo, da mineração, acho que está cristalizado o petróleo e gás, desfazer essa malha.. olha não sei. 

Como você enxerga o papel do artista hoje? 

Acho que ele tem essa grande importância de dar a voz, de ser a voz, e de acolher as vozes. Também tem a importância de fazer com que as suas obras sejam identidades que protegem territórios. Que não só falem, mas que protejam o território. Acho que isso faz sentido para o artista hoje. Se ele consegue fazer isso, independente da maneira que esteja fazendo, mas se ele está protegendo o seu território, acho que já é uma grande coisa. Proteger também é valorizar.

Generosamente, o “Margem do Rio” compartilhou com a Amazônia Latitude alguns de seus trabalhos que também foram divulgados em suas redes sociais e mostram o protagonismo das pessoas na luta pela Amazônia e a importância do território para a preservação da vida. Confira!

Nascido em Manaus, criado em um quilombo no Pará, o "Margem do Rio" registra o que está às margens (físicas e simbólicas) na Amazônia e defende que são elas que tornam a Amazônia protagonista. Foto: Beto Oliveira/Margem do Rio.

Nascido em Manaus, criado em um quilombo no Pará, o “Margem do Rio” registra o que está às margens (físicas e simbólicas) na Amazônia e defende que são elas que tornam a Amazônia protagonista. Foto: Beto Oliveira/Margem do Rio.

Protesto no centro de Manaus realizado em 2021. Foto: Beto Oliveira/Margem do Rio

Protesto no centro de Manaus realizado em 2021. Foto: Beto Oliveira/Margem do Rio

Luta e resistência indígena pelas lentes do "Margem do Rio' mostram como o território é mais do que um lugar onde se vive. É o corpo de quem vive na Amazônia: indissociável e essencial. Foto: Beto Oliveira/Margem do Rio.

Luta e resistência indígena pelas lentes do “Margem do Rio’ mostram como o território é mais do que um lugar onde se vive. É o corpo de quem vive na Amazônia: indissociável e essencial. Foto: Beto Oliveira/Margem do Rio.

Criança durante prortesto. "Margem do Rio" refleta sobre quando passamos da infância para a "vida adulta" e perdemos o elo com a pureza infantil. Foto: Beto Oliveira/Margem do Rio.

Criança durante prortesto. “Margem do Rio” refleta sobre quando passamos da infância para a “vida adulta” e perdemos o elo com a natureza infantil. Foto: Beto Oliveira/Margem do Rio.

"A gente pode falar de rios que são contaminados e que podem afastar os Encantados dali. A gente vai falar de práticas de pesca, de relacionamento com os botos, que vai deixar de existir quando o rio secar". Foto: @margemdorio / Instagram.

“A gente pode falar de rios que são contaminados e que podem afastar os Encantados dali. A gente vai falar de práticas de pesca, de relacionamento com os botos, que vai deixar de existir quando o rio secar”. Foto: @margemdorio / Instagram.

Imagens de "Margem do Rio" dão protagonismos ao que está "à margem" na Amazônia. Foto: Beto Oliveira / Margem do Rio.

Imagens de “Margem do Rio” mostram também cotidiano e formas de viver na Amazônia. Foto: Beto Oliveira / Margem do Rio.

Produção das comunidades tradicionais está ligada a uma forma única de viver. Foto: Beto Oliveira/Margem do Rio.

Produção das comunidades tradicionais está ligada a uma forma única de viver. Foto: Beto Oliveira/Margem do Rio.

O trabalho fotográfico do artista surge como um contraponto à visão “satélite” que se tem da Amazônia, em que a região é vista de cima, o que permite ver apenas a copa das árvores. Foto: @margemdorio / Instagram.

O trabalho fotográfico do artista surge como um contraponto à visão “satélite” que se tem da Amazônia, em que a região é vista de cima, o que permite ver apenas a copa das árvores. Foto: @margemdorio / Instagram.

Texto: João Felipe Serrão
Fotografias cedidas por Beto Oliveria/Margem do Rio
Edição e Revisão: Glauce Monteiro
Montagem de Página: Alice Palmeira
Direção: Marcos Colón

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