A destruição dos igarapés pesa trinta toneladas por dia

Lodo e entulhos em igarapé de Manaus.
Na quinta maior cheia já registrada em Manaus-AM, em 2019, o nível da água do Rio Negro demorou a  baixar e prolongou o acúmulo de lixo. 39 municípios e 317 pessoas foram afetados pela cheia em 2019. Edmar Barros/Amazônia Latitude
Série de fotos retrata o acúmulo de lixo em córregos vitais para os ecossistemas amazônicos

Uma busca na internet pelos termos “igarapé” e “manaus” revela manchetes alarmantes. Lixo, poluição e alterações genéticas em animais da região, entre outras. Os igarapés são córregos de pouca profundidade, existentes em grande número na bacia amazônica. Sofrem com o acúmulo de lixo e de esgoto não tratado nas zonas urbanas.

Esses pequenos cursos d’água têm uma importante função nos ecossistemas amazônicos. Funcionam como corredores ecológicos, que ligam fragmentos de floresta e concentram grande diversidade de espécies animais e vegetais. Em um estudo realizado por cientistas da Rede Amazônia Sustentável em Santarém-PA, pesquisadores mapearam 44 espécies de peixes em um trecho de 150 metros.

O nome igarapé tem origem no tupi e significa “caminho de canoa”. Por serem rasos, comportam a navegação de pequenas embarcações e servem como meio de comunicação e transporte. 

Em 2005, um trabalho da Fiocruz atestou que todos os igarapés localizados na área urbana de Manaus estavam contaminados por efluentes (esgoto) domésticos e que não possuíam estrutura de escoamento de águas pluviais. O problema do acúmulo de efluentes e lixo, assim como o do transbordo dos resíduos em períodos de cheia, reflete a ausência de educação ambiental e de uma gestão ambiental insuficiente. 

Além disso, a falta de sistemas de abastecimento de água obriga a população a consumir água de poços artesianos, que facilita a propagação de doenças diversas por meio da água, como amebíase, cólera e gastroenterites. Dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) de 2017 apontam que apenas 12,25% dos 2.130.264 habitantes de Manaus-AM (IBGE 2017), isto é, pouco mais de 260.000 pessoas, têm acesso a serviços de saneamento.

A falta de saneamento básico perpetua ciclos de pobreza e vulnerabilidade social, que têm consequências nos aspectos ambientais e atingem os igarapés.

Diversas reportagens publicadas nos últimos anos tratam do negócio que envolve a limpeza dos córregos e da perpetuação do problema a cada cheia do Rio Negro. Nas imagens a seguir, é possível entender de forma direta os contrastes e a magnitude do impacto provocado pela poluição dos igarapés.

 

Balsa transporta lixo em rio na cidade de Manaus

1 – Balsa com escavadeira recolhe lixo jogado no igarapé do bairro Educandos, no centro de Manaus(AM) em 03 de maio de 2019. O jornal A Crítica diz que a prefeitura do município gastou R$ 70 milhões para retirada de entulhos de 2013 a junho de 2019. Edmar Barros/Amazônia Latitude.

 

Garis trabalham em limpeza de igarapé repleto de lixo

2 – Garis tentam recolher a grande quantidade de lixo acumulado no igarapé da ponte do bairro São Jorge, em Manaus, no dia 04 de julho de 2019. A cheia dos rios e a falta de estrutura apropriada para drenagem de água da chuva ocasiona o acúmulo de lixo. Em 2019, a prefeitura afirmou recolher cerca de 30 toneladas de lixo por dia a um custo de R$ 1 milhão por mês. Edmar Barros/Amazônia Latitude.

 

Garis recolhem lixo de igarapé com auxílio de equipes na ponte

3 – Garis tentam recolher a grande quantidade de lixo acumulado no igarapé da ponte do bairro São Jorge, em Manaus. Foto do dia 05 de julho de 2019. Dados da prefeitura indicam que de janeiro a abril deste ano foram retiradas mais de 3.200 toneladas de lixo. Edmar Barros/Amazônia Latitude

 

Iguana em cima de telhado com árvore ao fundo.

4 – Iguana é vista em telhado próximo de onde garis tentam recolher a grande quantidade de lixo acumulado no igarapé da ponte do bairro São Jorge, em Manaus. A destruição dos igarapés também é a interrupção dos ciclos de vida que dependem dos ecossistemas que os córregos integram. Edmar Barros/Amazônia Latitude.

 

Balsa recolhe lixo de igarapé em Manaus.

5 – Balsa Gênesis remove lixo no igarapé do bairro São Raimundo, em Manaus-AM. Balsas, pás-carregadeiras e pequenos botes são utilizados na remoção diária do lixo. Edmar Barros/Amazônia Latitude.

 

Entulho e moradias em igarapé de Manaus com céu nublado ao fundo.

6 – Moradias e lixo se misturam no igarapé do bairro São Raimundo, em Manaus-AM, no local conhecido com Bariri. Cheia do Rio Negro e falta de estrutura de escoamento provocam acúmulos de entulho cada vez mais graves. Edmar Barros/Amazônia Latitude.

 

Mulher na janela e criança na passarela de madeira em meio a grande quantidade de lixo em igarapé de Manaus.

7 – Para atravessar a inundação de água e lixo, moradores construíram passarela no bairro São Raimundo, em Manaus-AM. A convivência com o entulho e a falta de acesso a saneamento básico provoca doenças que poderiam ser facilmente evitadas. Edmar Barros/Amazônia Latitude.

 

Cão dorme sobre o lixo em igarapé inundado de entulho em Manaus.

8 – Cachorro dorme sobre o lixo no igarapé do bairro da Matinha, em Manaus. Edmar Barros/Amazônia Latitude.

 

criança observa lixo pela janela de sua casa em Manaus.

9 – Criança observa o lixo e a enchente no bairro da Matinha, em Manaus. Grande parte da população não possui acesso a saneamento básico e depende de poços artesianos para o abastecimento de água. Edmar Barros/Amazônia Latitude

 

Lodo e entulhos em igarapé de Manaus.

10 – Na quinta maior cheia já registrada em Manaus-AM, em 2014, o nível da água do Rio Negro demorou a  baixar e prolongou o acúmulo de lixo. 39 municípios e 317 pessoas foram afetados pela cheia naquele ano. Edmar Barros/Amazônia Latitude.

 

Veja a galeria completa:

 

 

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