A morte das plantas é o nosso esquecimento: uma conversa com Patrícia Vieira

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A Amazônia é um centro de embates políticos e culturais há mais tempo do que costumamos lembrar. Participa da imaginação de outros mundos, outros possíveis, as utopias, por meio de ciências, do cinema e da literatura, entre outras artes.

Para Patrícia Vieira, professora e pesquisadora da Universidade de Georgetown, vai além disso: a maior floresta do mundo é fundamental, e tem sido utilizada como um instrumento político, para os mais diversos modos de viver e ideologias.

A pesquisadora escreveu “Estado de Graça”, sobre as utopias na cultura brasileira. E está organizando seu próximo livro, “A Mente das Plantas”. O nome surpreende exatamente pela proposta da obra.

“Meu trabalho tem ido nesse sentido: pensar sobre a perspectiva dos seres não humanos. O que nos trazem? como poderíamos ver sua maneira de ser e de estar? O livro, em que estou a trabalhar agora, é até sobre isso: pensar o que seria o modo de pensar das plantas, que é diferente do nosso modo de pensar humano, mas que existe, certamente”, diz a professora.

Utopias e distopias

Além do livro, Patricia trabalha com a ecocrítica, corrente que pensa as representações do ambiente — e seus agentes humanos e não humanos — nas variadas artes. Em um contexto de agressões cada vez mais visíveis contra Amazônia e seus povos, é preciso repensar as utopias e revisar o papel da floresta nos diversos imaginários.

“Parece que a retórica do governo brasileiro em relação à Amazônia é muito antiga, vai desde o inicio da colonização, quando chegaram os exploradores e os comentários eram sempre ‘uma terra rica, uma terra fértil’, e que, portanto, os colonizadores podiam extrair muitas riquezas da Amazônia, cultivar a Amazônia, torná-la um paraíso natural e selvagem. Mas um paraíso cultivado, bom para agricultura e gado”, explica.

Mais importante: não estamos tão separados do ambiente quanto pensamos. Além dos ensinamentos de comunidades originárias e tradicionais, precisamos entender que a nossa história e nossas memórias humanas dependem do ambiente. A morte das plantas pode ser o nosso esquecimento.

Patrícia Vieira é pesquisadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, em Portugal, e professora do Departamento de Espanhol e Português da Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos. Confira as outras edições do videocast aqui.

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