‘A Flor de Mungubeira’: uma homenagem à várzea amazônica por Mestre Girão

Mestre Girão- pensando a amazônia pela música
Foto: Arquivo pessoal. Arte: Fabrício Vinhas/Amazônia Latitude.
Mestre Girão- pensando a amazônia pela música

Foto: Arquivo pessoal. Arte: Fabrício Vinhas/Amazônia Latitude.

Num cenário no coração da Amazônia central, emoldurado pelas paisagens entre a várzea e o igapó, navegando os igarapés no período de floração entre as árvores da mungubeiras, surgiu a inspiração em Francisco Everardo Girão, ou Mestre Girão, para rabiscar a poesia e compor a canção (toada) “A Flor de Mungubeira”, como forma de agradecimento por viver na Amazônia em harmonia com as águas, as plantas e os povos da floresta, bem na linha do Equador.

A Mungubeira (Pseudobombax munguba) pertence à família das leguminosas, também conhecida como ibonguiaba, castanheira d’água em outros. É uma árvore característica da várzea amazônica que tem uma flor branca, e sua plumagem é utilizada para confeccionar travesseiros e a fibra para fazer corda. Além disso, o fruto produz farinha, e as sementes são apreciadas pelos peixes locais, como tambaqui e sardinha.

Mestre Girão, baseado na ilha da Cultura Popular, Parintins, desde 2019, nasceu no Ceará e é apaixonado pela Amazônia. Geógrafo, mestre em Geociências pela Universidade Federal do Amazonas, professor, poeta e músico. Seus contos têm como base os modos de vida das comunidades tradicionais, como ribeirinhos e indígenas, e as belezas da flora.

Amazônia Latitude: Como surgiu a composição “A Flor de Mungubeira”?

Mestre Girão: Surgiu numa viagem numa canoa de madeira pela floresta de igapó na Amazônia, onde estava deitado, navegando com uns amigos pescadores. De repente, dei um cochilo e quando acordei, tive a impressão que estava passando entre gigantes nuvens de algodão. Porém, era o período de floração da árvore da Mungubeira, que produz muitas flores brancas (plumas). E veio a inspiração de escrever e homenagear essa linda árvore da várzea amazônica que tem muitas utilidades e beleza cênica. Fiz, na verdade, uma analogia com as dádivas da natureza, a vida ribeirinha e a ancestralidade amazônica que se utiliza dessa árvore para várias utilidades: cordas, travesseiros e outros.

Como a canção se relaciona com suas vivências na Amazônia?

Essa canção é um acalanto para quem nasceu ou vive na Amazônia, pois tem o rio como suas estradas, os pássaros como orquestra, os peixes como alimento e as árvores como proteção divina e referências ancestrais.

Como foi sua trajetória musical, do Ceará à Amazônia?

Nasci numa família sonora e autodidata na música. Meu pai, Mestre Geraldo, tocava acordeão e pandeiro. Meu tio, Zé Girão, seu único irmão, era cordelista, violeiro, artesão e poeta anônimo. Cresci nesse ambiente musical e aprendi a tocar violão aos 15 anos de idade, sozinho.

O Sertão sempre me encantava, mesmo com todas as dificuldades e resistência da nossa humilde família. Éramos muito felizes, e todos os dias, no final da tarde e início da noite, meu pai e meu tio sentavam na varanda e tocavam seus instrumentos. Era lindo, emocionante. E foi assim que resolvi aprender a tocar um instrumento e cantar. Na universidade, participei de coral, apresentações culturais em calouradas, e veio o convite para tocar em bares na Beira Mar de Fortaleza, conseguindo tirar minha carteira de músico na Ordem dos Músicos do Ceará.

Posteriormente, veio a decisão de tornar-me professor de Geografia, junto com a oportunidade de morar na Amazônia em 1995, onde o tempo ficou curto para me dedicar à música, pois fui contemplado em concurso público no Governo do Amazonas. No entanto, foi na pandemia de Covid-19 que veio o reencontro com a arte, poesia e música, como uma fuga em função do confinamento. Infelizmente, fui acometido gravemente pelo vírus, mas consegui sobreviver e escrevi dois livros de poesias e dois CDs, sendo premiado pelo Ministério do Turismo e Secretaria de Economia Criativa do Amazonas, prêmio Feliciano Lana de 2021, com o álbum “Paragem – Músicas para Amazônia” e o livro “O brilho da inocência – Poesias para Amazônia”.

Tenho os rios da Amazônia, a Floresta e a vida dos ribeirinhos como fonte de inspiração para compor minhas canções e escrever minhas poesias, haja visto que moro na margem do maior rio do mundo, o Amazonas, em Parintins, desde 2019.

Como sua formação em Geografia influencia suas composições?

Acredito que abriu um universo de oportunidades, em função do convívio com o patrimônio natural e cultural da Amazônia, além do discernimento da resistência dos povos originários que habitam o coração da Floresta e respeitam a natureza.

De que maneira você considera que a arte auxilia na preservação da Amazônia?

A arte, de uma forma geral, é fundamental em nossas vidas. Quem não se emociona como uma linda canção ou poesia? A música e a poesia têm o poder de sensibilizar as pessoas a enxergar novos horizontes e oportunidades. Isso principalmente para quem mora e vive num bioma dinâmico como o amazônico, onde as estradas são os rios e a floresta nos ensina todos os dias a enfrentar nossos desafios de viver e ser feliz.

Produção: Isabella Galante
Arte e montagem do site: Fabrício Vinhas
Direção: Marcos Colón

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