Acesso a antiveneno na Amazônia é investimento que compensa, diz estudo

soro antiofidico antiveneno de cobra
Foto: Freepik
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Tornar o antiveneno mais amplamente disponível em redes de hospitais e centros de saúde comunitários na região amazônica do Brasil reduziria significativamente as mortes e incapacidades causadas por picadas de cobras venenosas, segundo um estudo publicado na The Lancet Regional Health – Americas.

O estado do Amazonas tem uma das taxas mais altas do mundo de picadas de cobra, sendo elas 45 a 235 picadas venenosas por 100.000 pessoas anualmente. O tratamento adequado com antiofídicos é altamente eficaz contra a maioria das picadas.

Entretanto, no Brasil, o antiveneno geralmente está disponível apenas em hospitais urbanos maiores, e muitas pessoas picadas por cobras venenosas em regiões remotas do estado sofrem complicações graves ou até mesmo morrem antes de receberem tratamento.

O novo estudo, conduzido por cientistas e médicos da Duke University e de duas instituições brasileiras, avaliou o custo-benefício de disponibilizar o antiofídico em mais hospitais e centros de saúde comunitários da região. Os resultados mostram que essa medida seria um investimento que valeria a pena.

“Acreditamos que nosso estudo é o primeiro a avaliar os benefícios econômicos e de saúde do aumento da acessibilidade ao antiveneno de cobra na América Latina”, diz João Ricardo Nickenig Vissoci, Ph.D., chefe da Divisão de Ciências da Saúde Translacional do Departamento de Medicina de Emergência da Duke e principal autor do estudo.

Os pesquisadores avaliaram três estratégias para expandir o acesso ao antiveneno de cobras no Amazonas. Um modelo disponibilizou o soro em 95% dos hospitais do estado, enquanto um segundo testou a disponibilidade em 95% dos centros de saúde comunitários, que são mais amplamente distribuídos nas áreas rurais. O terceiro modelo expandiu o acesso a hospitais e centros de saúde comunitários.

Todos os três modelos produziram benefícios econômicos líquidos no valor de milhões de dólares e evitaram mortes e incapacidades, conforme medido pelos anos de vida ajustados por incapacidade (Dalys), que contam o número de anos de vida que são afetados ou perdidos devido a doenças ou lesões. De acordo com a pesquisa, a expansão do acesso a hospitais e centros de saúde comunitários produziria os maiores benefícios, evitando até 3.922 Dalys e gerando benefícios econômicos de até U$8,98 milhões, o equivalente a mais de R$44 milhões. O custo da expansão do acesso foi de cerca de U$328 (R$1624) para cada Daly evitado.

Apesar da produção robusta de medicamentos antiofídicos no Brasil, os resultados mostram que a falta de acesso ao soro pode ter um impacto significativo nas regiões onde ocorre a maioria das picadas de cobra. “As políticas que promovem o acesso ao antiveneno de cobras devem ser uma prioridade para os países com uma carga elevada de envenenamento por picadas de cobras”, diz Vissoci, que também faz parte do Duke Global Health Institute.

O próximo passo dos pesquisadores é iniciar testes para disponibilizar o antiveneno em centros de saúde comunitários no Amazonas. Os prestadores de serviços podem ser treinados para administrar o soro de forma segura e eficaz, afirmam os pesquisadores.

A nova pesquisa é consistente com as recomendações de um grupo de trabalho da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre envenenamento por picada de cobra, que enfatizou que as estratégias sustentáveis para lidar com isso dependem de mais do que a terapêutica, observa Charles J. Gerardo, M.D., presidente interino do Departamento de Medicina de Emergência da Duke e um dos autores do estudo. “Depende da distribuição descentralizada do tratamento, bem como da infraestrutura e do conhecimento para fornecê-lo.”

A pesquisa foi financiada pelo NIH Fogarty International Center, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas. A pesquisa foi liderada pelo Dr. Osondu Ogbouji, da DGHI, e pelo Dr. Wuelton Monteiro. Os pesquisadores da Duke colaboraram com cientistas brasileiros da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado e do Instituto Butantan.

O estudo completo Scaling up Antivenom for Snakebite Envenoming in the Brazilian Amazon: A Cost-Effectiveness Analysis pode ser acessado clicando aqui.

* Esta notícia é uma adaptação do texto publicado pela Duke University Global Health Institute
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