II “Conversatório” Indígena é destaque no Seminário Internacional de Ecologia Política

Ameríndios falam sobre conflitos provocados pelo capital, territorialidade e resistência.

O II “conversatório” que aconteceu no Seminário Internacional de Ecologia Política: Justiça socioambiental e Alimentar na Tríplice Fronteira Amazônica, no dia 5 de junho, na Universidade Estadual do Amazonas (UEA), em Tabatinga, reuniu cinco representantes indígenas que expressaram a problemática história atual de suas comunidades. Sem perspectivas positivas em relação ao governo federal, os ameríndios esclareceram que o momento atual designa a continuidade da resistência que acontece há anos e que está longe do fim.

Aldir Chota Santos (coordenação Indígena dos Kaixana do Solimões), Thoda Varney Kanamari (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari), Josimar Lopes de Oliveira (Conselho dos Povos Indígenas de Jutaí), Nelly Kuiru Moniya (Comisíon Nacional de Comunicación Indígenas de La Macro-Amazonia), e José Benhur Teteye Botyay (Gorbenanza Ambiental com Pueblos Indígenas, Programa Visíon Amazonia) compuseram o “Conversatório de Vozes Indígenas Fronteiriças”.

As lideranças indígenas do Kaixana do Solimões sofrem ameaças constantes vindas de setores da sociedade que possuem interesse comercial na Amazônia, como fazendeiros, posseiros, garimpeiros, madeireiros e narcotraficantes.  Aldir Chota Santos aproveitou o evento para expressar que os Kaixana do Solimões encontram dificuldades de promover lideranças já que os membros temem por sua vida. Além disso, projetos de agricultura, piscicultura e artesanato são aspirações da Coordenação que anseia por um aproveitamento melhor das terras.

Os Distritos Sanitários Indígenas (Dseis) existem a partir do objetivo de levar saúde adaptada e de qualidade aos ameríndios, mas a realidade atual da população do Vale do Javari é de extrema carência quando o assunto é “atendimentos médicos”. Thoda Varney Kanamari denuncia a falta de interesse dos profissionais de saúde em prestarem serviços à população e acusa o nepotismo e o desvio do dinheiro público como sendo os principais causadores de atividades precárias. A hepatite, como conta Thoda Kanamari, aparece como uma das principais doenças causadoras de mortes no Vale do Javari, além das altas taxas de suicídio.

O acesso à educação também foi destaque na fala do Kanamari, que falou sobre a necessidade de mais professores indígenas e não-indígenas, estrutura adequada e a construção de escolas nas aldeias que compõem o Vale do Javari. vovô

O Conselho dos Povos Indígenas de Jutaí representa sete povos e corresponde à administração político-social de 4.500 indígenas, aproximadamente. Josimar Lopes de Oliveira conta que, desde 1994, o conselho luta contra as invasões de garimpeiros que vêm de várias partes do mundo, incluindo brasileiros a japoneses.  A demarcação de terras, assunto relevante devido à conjuntura atual, é considerada de grande importante para os ameríndios, mas a obtenção dos direitos não condiz com a amenização de conflitos.  De acordo com a fala de Josimar Lopes de Oliveira, o Conselho dos Povos Indígenas Jutaí não conta com a contribuição da FUNAI desde 2010.

Por fim, Nelly Kuiru Moniya concluiu o “conversatório” explicando que a relação do indígena com o território é diferente da cultura ocidental, pois é nele que os ameríndios depositam suas forças espirituais. O território também é, para eles, a origem do alimento, da cultura e da Identidade. Os aplausos foram inevitáveis quando Nelly Kuiru Moniya afirmou que os povos indígenas continuarão resistindo.

 

Imagem em destaque – lideranças indígenas do Alto Solimões durante II Conversatório de Vozes Indígenas Fronteiriças, em 05 de junho, no auditório da Universidade do Estado do Amazonas em Tabatinga. Foto: Amazônia Latitude.

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