Barreira litorânea: sobre natureza e segregação da África do Sul ao Yosemite

O tato é o nosso sentido mais âmnico, mais primordial. Ele nos oferece nossa primeira experiência com o que a poeta Joy Harjo chamou de “o clima no ventre”. Com seis semanas – quando nós somos embriões de apenas uma polegada – já estamos desenvolvendo um sentido de tato. Muito antes de nossas orelhas, olhos e narizes começarem a absorver informação do mundo, nós principiamos a conduzir vida sensorial através da nossa porosa, excretante e respirante pele. O tato perdura: ele nos guia da vulnerabilidade fetal à fragilidade da idade avançada. O tato persiste mesmo quando a vista e a audição já caíram em ruína e as nossas capacidades de degustar e cheirar são apenas sombras do que já foram.

Nós podemos fechar nossos olhos e bocas, tampar nossos narizes e nossas orelhas. Mas a nossa pele está sempre em qui vive, envolvendo-nos em constante prontidão – informando, alertando, deleitando. Nossa pele possui quase dois metros quadrados de pura receptividade: o maior e (depois do cérebro) mais versátil dos nossos órgãos. A pele serve como a bainha do indivíduo, selando e encobrindo, mantendo-nos unidos, preservando-nos afastados. 

O tato começa para mim em memórias não com apertos de mão, mas dentro de poças de maré na infância. Meu irmão e eu imersos – sondando, cutucando, hesitantemente manuseando as criaturas que o mar oferece e então remove das águas que em alguns dias sobem acima das nossas cinturas e em outros repousam rasas ao tornozelo. As poças estão vivas com revelações que nós não podemos nomear mas tentar, com quatro pequenas mãos, compreender.

A alguns terrenos acima da areia, um guarda-sol azul abriga meus pais, avó e três irmãs. Atrás deles, por sua vez, onde começam as dunas de grama, uma alta placa de madeira de um pé só declara em inglês e africânder: “Whites only. Blankes Alleen”,”Only” (“Somente”) era uma palavra ambiental determinante ao longo da baía de quase cem quilômetros que o Oceano Índico ceifou da província de Cabo Oriental, na África do Sul. Se o seu corpo fosse considerado da cor errada, não seria seguro banhar-se aqui, apenas acolá; o acesso à água era controlado areia adentro. Uma fenomenologia do tato deve necessariamente incluir as placas que entre si nos dividiam litoral acima: “Brancos somente”, “Negros somente”, “De cor somente”, “Indianos somente”, “Malásios somente”.

Eu vivenciei mudanças ambientais antes de entender as marés da história. Ambiente, história, marés são palavras adultas que, até então, eram inacessíveis para mim: a mudança que primeiro me comoveu foi o movimento para frente e para trás da água salgada através da pele enquanto eu permanecia submergido ao lado do meu irmão, dedos dos pés flexionados para maior equilíbrio na areia, todo o meu ser inundado de curiosidade. O Oceano Índico era quente, mas ainda não possuía a fama. Todas as infâncias são provinciais: elas começam desde mim, desde nós, desde aqui. Na falta de uma análise social, onde nós começamos a nos tornar o centro de tudo. Quando você é uma criança você vive a vida de perto, tão perto que os fundamentos formais da vida, por um tempo, permanecem ocultos.

Para a fenomenologia segregacionista dessa cena eu devo adicionar isto: nós íamos à praia pois era “de graça”. Éramos um pouco entremarés nós mesmos: classe média baixa com aspirações de classe média. Meu pai ganhava, no dinheiro de hoje, em torno de 40,000 rands (moeda sul-africana), único provedor de nossa extensa estirpe de quatro gerações – cinco crianças, pai e mãe, uma avó, um bisavô – abrangendo idades de 3 a 99 anos, todos amontoados no mesmo teto numa atmosfera de escassez moderada. Da perspectiva das cidades xhosa através da savana, nós éramos inacreditavelmente abastados. Mas ninguém de nenhum lado da família conseguiu chegar à universidade; apenas meu pai terminou o ensino médio. Então meus pais moldaram suas vidas em torno de um sólido objetivo: dar aos seus filhos a educação universitária que lhes foi negada. Que eu esteja escrevendo este texto enquanto um profissional de classe média deve-se tudo à fiscalização severa deles em conjunto com a desigualdade atroz do sistema escolar racista do Apartheid.

Nenhuma vez nós, durante minha infância e adolescência, comemos em um restaurante ou nos hospedamos em um hotel ou motel; o cinema estava fora de questão pois era muito caro. Todas essas coisas pertenceriam ao futuro, à minha vida americana de classe média. Mas nossa família poderia participar da natureza do Apartheid – em viagens à praia, caminhadas pelo mato, escalada nas montanhas – sem pagar nada, sem comprometer as esperanças educacionais dos meus pais por nós. Éramos uma família que só ia a lugares onde não havia entrada paga.

Nadine Gordimer escreveu sobre “cair, cair através da superfície do modo de vida sul-africano”. Após a minha caída na política, a paisagem me pareceu ilusória, deformada por uma geografia antiética. Na época em que eu entrei na universidade, a natureza em si se tornou um discurso tóxico. Por uma década e meia na vida adulta – boa parte no meu exílio na América – se eu pensasse de todo sobre a minha infância saturada de natureza, eu extrairia a política de perspectiva e deixaria o corpo vivo, uma inabitada amostra de injustiça para se opor. Certamente eu não estava inclinado a alcançar nada tão complexo quanto uma fenomenologia segregacionista daquelas poças de maré naquela praia de pele pré-designada.

O que eu sei é que essa cena contrapontística – oceânica e social, um corpo imerso, um corpo à parte – moldou o leitor que me tornei, de livros e de paisagens igualmente. Posso associar essas poças e areias divididas à minha paixão por justiça socioambiental, acima de tudo por todas as questões de acesso – seja sob o Apartheid ou seja sob o Consenso de Washington, em nome da liberalização dos mercados os ricos dividem os bens comuns e a mentalidade de reclusão e aparatos de segurança privada se espalham como kudzu pelo mundo. Essa cena de marés – e outras semelhantes – me transformou em um leitor que analisa literatura e paisagens por quem está presente, quem está faltando, pelas remoções forçadas, físicas e imaginativas, do ponto de vista permitido; um leitor atento a quem precisamente (na foto recortada, na história seletiva, na paisagem aparentemente sem costura) foi expulso da praia.

II

Shelton Johnson, Buffalo Ranger do Parque Nacional de Yosemite, EUA. Foto: NBC.

Afro-americanos são três vezes mais propensos do que seus compatriotas brancos a declararem os parques nacionais dos Estados Unidos como “lugares desconfortáveis”. Uma pesquisa de 2009 apurou que menos de 1% dos visitantes de Yosemite eram negros. Montanhas? Uma jovem de dezenove anos de Denver sabe por que ela mantém distância: “Meu avô me contou que o KKK anda pelas montanhas. Por que eu iria querer ir?”. Árvores? O poeta Ed Roberson coloca a questão sem rodeios: “as árvores americanas tinham cordas”.

Para que os parques se tornem um bem viável – o “playground da nação” que eles pretendem ser – a cultura dominante dos Estados Unidos na natureza deve passar por uma reforma radical. Décadas após a segregação oficial ser banida, muitos afro-americanos se sentem assombrados por um histórico de emboscada rural, violência e terror que mantém uma tenacidade visceral e corporal. Historicamente, os grandes espaços externos não eram tão grandes. Shelton Johnson está trabalhando para reverter essa memória racial. Johnson é uma anomalia: um dos poucos guardas florestais afro-americanos em qualquer lugar, ele trabalhou por sete anos em Yellowstone antes de se mudar para Yosemite, onde, desde 1994, tem atuado como um especialista interpretativo. Uma de suas especialidades, justamente, é reinterpretar a história.

Em 2001, Johnson se deparou com uma fotografia de arquivo – datada de 1899 – de cinco soldados da cavalaria do Exército dos Estados Unidos que patrulhavam montados as redondezas de Yosemite. Os soldados eram negros: soldados búfalos da 9ª cavalaria que, revelou-se, haviam sido designados para proteger o parque da caça ilegal, pastoreio clandestino, desmatamento e incêndios florestais logo após a criação de Yosemite. Depois que Johnson desenterrou uma série de cartas de soldados búfalos que serviram em Yosemite e em Sequoia National Park, ele se sentiu encorajado pelo precedente: sua descoberta diminuiu a sensação de ser um “esquisitão pioneiro” e intensificou a sua determinação em tornar os parques mais culturalmente disponíveis para afro-americanos ao divulgar o papel seminal destes como guardiões ambientais.

Por enquanto, ironiza Johnson, os visitantes negros de Yosemite continuam sendo “avistamentos” reais. É mais provável ele encontrar um turista da Finlândia ou de Israel do que um afro-americano. Para lidar com esse desequilíbrio, Johnson acrescentou ao seu trabalho interpretativo diário uma tripla abordagem estratégica: arquivo, celebridade e ficção. Uma carta súplice persuadiu a Oprah a dedicar dois programas – e uma viagem pessoal – a percorrer o sistema de parques nacionais. E Johnson, que possui um mestrado de escrita criativa pela Universidade de Michigan, publicou em 2009 um romance,Gloryland, que assume a forma de um livro de memórias fictício de um soldado búfalo. “Raça é o núcleo dessa história”, observa ele. “Isso mostra que os parques nacionais são tanto um recurso cultural quanto natural”.

Como muitas contranarrativas heroicas, a história de salvamento racial de Johnson não está isenta de contradições. Os soldados búfalos destacados em Yosemite tinham acabado de voltar de uma guerra imperial nas Filipinas. E Johnson – cuja mãe era parte cherokee e pai parte seminole – estaria a par da violência praticada contra os povos nativos por trás da invenção de Yosemite enquanto um exemplar intocado do sublime americano. Os ahwahneechees foram expulsos de suas terras históricas para que o parque onde os soldados búfalos patrulhavam pudesse ser construído. Mas Johnson também sabe, internamente, o papel que os militares têm desempenhado há muito tempo como um canal de estímulo racial – seu próprio pai, James O. Johnson Jr., alistou-se em fuga do Jim Crow no sul.

A história de Johnson não é redutível a um quadro nacional patriótico, ao estilo de Ken Burns. Seu compromisso de desafiar a cultura dominante dos Estados Unidos na natureza surgiu, em grande parte, de sua capacidade em observar essa cultura de fora. Duas experiências internacionais – a primeira uma revelação perturbadora, a outra uma epifania de infância – dispararam sua determinação em fazer o sistema de parques dos Estados Unidos mais plenamente representativo, algo mais próximo de um bem comum nacional. Depois de se formar na faculdade, Johnson passou dois anos na Libéria com o Destacamento de Paz, onde ficou surpreso com a fluência casual com que todos, até mesmo crianças, podiam nomear os pássaros, animais, flores e árvores que os cercavam. Isso o levou para casa, para a alienação ambiental infligida pela Passagem do Meio e pela longa e sobreposta violência contra os afro-americanos que se seguiu. Ajudar a reverter essa cultura de alienação tornou-se o seu objetivo.

No entanto, sua percepção histórica na Libéria teria sido insuficiente sem a força animadora de um encontro ocorrido na primeira infância. Em 1961, a mãe de Johnson e seu pai segundo sargento, instalados com os militares americanos na Alemanha, levaram-no para o Parque Nacional de Berchtesgaden, nos Alpes da Baviera. Berchtesgaden pode não ter sido tão remoto quanto o vilarejo suíço que James Baldwin retratou como um “deserto branco” em seu ensaio clássico de 1953, Stranger in the Village, um vilarejo onde as crianças se sentiam livres para percorrer os dedos por seu cabelo incomum e onde, nas palavras de Baldwin, ele permaneceu como “uma visão”, “uma maravilha viva”. Ainda assim, alguma iniciativa deve ter sido exigida, alguma tenacidade para os pais de Johnson se aventurarem naquele reduto bávaro. Casualmente, as montanhas comoveram o Shelton de cinco anos indelevelmente – a sensação de estar tão alto, tão íntimo com o grande céu que ele podia tocá-lo – de maneira que elas sobreviveram nele. Crescendo desde então no centro da cidade de Detroit, seu encontro com o sublime dos Alpes permaneceu alojado na memória de seu tecido corporal urbano. Essa breve emoção de infância agitou uma vida, acelerando seu compromisso adulto de revelar cedo o ar livre para as crianças afro-americanas: “Não consigo deixar de pensar nas outras crianças, como eu – em Detroit, Oakland, Watts, Anacostia. – hoje. Como faço para trazê-las aqui? Como faço para que elas conheçam a história dos soldados búfalos, para que elas saibam que nós, também, temos um lugar aqui?

III

Praia da cidade de Durban, Africa do Sul. Foto: Divulgação.

As primeiras paixões que moldam nossos caminhos neurais – em uma trilha alpina ou em uma poça de maré do Oceano Índico – são inseparáveis ​​da ressaca da história. Minha história viaja comigo: quando um ecologista marinho de Cabo Cod pronuncia a frase “barrier beach”, ela passa pelo meu corpo com ímpeto. Não consigo ouvir essas palavras como meramente topográficas.

Desde a libertação de Nelson Mandela, eu comecei a voltar todos os anos – geralmente por volta da época de Natal – para a cidade provinciana de infância a fim de visitar minha mãe enferma e meu irmão que dela cuida. Na maioria dos dias eu dirijo os dez minutos até as praias que tocam o que agora é chamado Baía de Nelson Mandela. As placas “Only” desapareceram há muito tempo, afundando no que W. G. Sebald outrora chamou de “a lagoa do esquecimento”. Mas o caminho não mais segregado através das gramas da duna ainda me atravessam uma praia sombria, onde as vastas emoções da infância inicialmente se reuniam em torno de meus pés, um lugar onde as marés da história e a atração da lua permanecem unidas. Aqui, ali, onde a memória começou a se acumular antes que memória fosse algo reconhecido por mim.

Estou lendo nessa praia a poderosa antologia de poesia afro-americana de Camille Dungy, Black Nature. Em um ensaio introdutório, ela revisita seus primeiros anos imersos no sul da Califórnia: “Quando eu era criança em Bluff View, os cães que chamamos de Bloodhounds, a ferramenta rastreadora de escravos, não eram nada que eu tivesse conhecimento para lembrar. Eu era uma menina naquele reino de espaço aberto, e toda a terra que eu podia ver, nomear e tocar era minha para amar”. Enquanto adulta e escritora, ela se debate com a lacuna entre essa inocência tátil, intensa, e a queda no trauma coletivo: “Como eu escrevo um poema sobre a terra e meu lugar nela sem estas memórias: a fugitiva com os cães em seus calcanhares; o lamento da árvore com o sofrimento da sua carga suspensa; terra é uma coisa para trabalhar, mas não para possuir?”.

Por um tempo, após a libertação de Mandela, foi como se os negros sul-africanos tivessem que trabalhar para possuir as praias em minha cidade natal. Até o primeiro ou segundo ano, aos poucos as pessoas voltaram para os principais pontos à beira-mar, mas em grupos, não multidões, como se ainda hesitantes em suas reivindicações, como se ainda olhassem mentalmente por cima dos ombros procurando por placas hostis e pela polícia. Mas hoje, ao meio-dia, o litoral está cheio a ponto de explodir. É o Boxing Day, que, ao lado do Tweede Nuwe Jaar (2 de janeiro), é o maior dia de praia do ano: centenas de táxis de minivans Hiace regurgitam seus passageiros sedentos de prazer , até as praias lotarem com 300 000 pessoas. Senhoras corpulentas de meia-idade saem com guarda-chuvas para afastar o calor gritante; jovens mulheres giram em sapatos de salto alto de lamê dourado com unhas de rubi; as rivalidades de caixas de som portáteis são colocadas em jogo; Kwaito aqui enquanto, a algumas toalhas de distância, Irene Mawela dá tudo de si no jive gospel. Territórios musicais demarcados, os rapazes correm para um pequeno jogo de futebol exibindo um domínio de bola extravagante. À beira da água, uma festa de casamento se reúne em um círculo, enquanto um homem vestido de branco passa sua faca por uma garganta balida. Logo, o aroma da cabra inteira no braai, o churrasco, mistura-se com o cheiro mineral da maré baixa.

Nesse lugar de plenitude casual, as divisões de classe ainda se registram, embora em uma menor tonalidade. A exata metade dos banhistas está de roupa íntima; enquanto os melhores exibem seus lustrosos trajes de banho, os homens naqueles speedos apertados que os australianos chamam de “traficantes de periquitos”. Mulheres mais velhas se aventuram cautelosamente em saias elevadas até o joelho, enquanto se curvam para encher garrafas com água do mar para enviar como um remédio terapêutico para os parentes do interior.

O lazer pode parecer uma coisa superficial em um país assolado por dificuldades: uma crise mal administrada da AIDS, a miséria rural, o roubo de carros, as reivindicações frustradas de terras, a expansão não administrada e sem assistência, o desemprego perene e a xenofobia. Ainda esta manhã, eu estava conversando com um camelô que, curvado sob sacos de girafas esculpidas, disse-me que no Malawi sonhara com “Joanesburgo, todos os dias”, mas quando chegou lá ele logo fugiu para o sul, aqui para Baía de Nelson Mandela. Para ele, a cidade de ouro da África do Sul não tinha nada além de problemas.

Na ampla jornada da expropriação ao autocontrole, essa praia pode ser algo modesto. Mas ainda parece – esse lugar agitado, esse baldio restaurado – em todos os sentidos fenomenal, esse local onde as segregações sistêmicas do ecossistema uma vez pareciam imutáveis, tão resilientes quanto as rochas. São as crianças na água que mais me interessam. O surfista pequenino de corpo, que sincroniza o seu impulso no momento exato, enquanto confia na quebra do mar e sente o oceano dobrar sobre ele, entrando no tubo, o seu fluxo direto pleno, perfeitamente equilibrado entre submissão e controle. E ali, logo abaixo das aves costeiras que cortam através da quebra da maré em bandos pálidos, imprevisíveis, as crianças na piscina rochosa, agachadas, molhadas cintura abaixo, olhos inclinados, mãos vivas. As crianças emergem em concerto cada vez que uma pequena onda inunda o seu mundo, agitando a areia, embaçando a água que lentamente irá de novo clarear, revelando o que quer que seja: caracóis marinhos talvez, ascídias, anêmonas vermelhas e amarelas que fecham suas folhas ao redor de um dedo, peixes-cachimbos translúcidos, lapas, caranguejos espinhosos, peixes de olhos esbugalhados que pressionam suas bocas indiscriminadamente contra cordões de algas e dedos do pé, cavalos-marinhos que se sacodem como marionetes enquanto voam através da cobertura de folhas que flutuam na brisa subaquática. Aqui as crianças tomam posição, em curiosidade agrupada, dentro do calor salino que recalibra os campos eletromagnéticos do corpo.

Eu nado além da linha da vala e fico suspenso, subindo e descendo com as ondas. Aqui, sinto o que eu sempre senti: na água, sou mais seguro, mais protegido do que em terra firme. Estar aqui no mar significa o oposto da perda, significa estar vivo para a vida da pele, trocando ansiedade por algum fluxo profundo de respiração necessária. Eu olho atentamente, como o visitante que sou, para o litoral desta cidade. Uma jovem xhosa, mais distante do que eu, desliza em membros fáceis, flexionando sua liberdade de movimento (nado crawl, de peito, de costas) no mar dessegregado da história.

 

Rob Nixon é Professor do Currie C. & Thomas A. Barron Família em Humanidades e Meio Ambiente. Também é afiliado do Princeton Environmental Institute nas humanidades ambientais. Ele é autor de quatro livros, sendo o mais recente Slow Violence and the Environmentalism of the Poor, ganhador do American Book Award e três outros prêmios. Contribui frequentemente com o jornal New York Times. Seus textos já figuraram no The New Yorker, Atlantic Monthly, The Guardian entre outros
Imagem em destaque retirada do arquivo de fotos “Martyrs, Saints and Sell-Outs“, que reúne o registro fotográfico dos fotógrafos Benny Gool, Zubeida Vallie e Adil Bradlow sobre o Apartheid na África do Sul. As três personalidades foram ativas em manifestações contra a segregação e precisavam driblar a censura e a polícia para fazer os registros, o que os levou a serem detidos em diversas ocasiões.
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