Coronavírus em Tabatinga, cidade de fronteira

Cidade amazonense sofre impacto da pandemia entre as populações urbana e indígena

A região Norte do Brasil é a mais afetada pela Covid-19. Um boletim da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM), divulgado na terça-feira (16), dizia que o Amazonas registra mais de 58 mil casos confirmados do novo coronavírus — 60% no interior do estado — e um total de 2.550 óbitos.

Além da capital, outros 59 municípios amazonenses registram casos da doença. Benjamin Constant e Tabatinga estão entre os oito mais atingidos. No Alto Solimões, essas cidades reúnem a maioria dos casos confirmados: cerca de 2.500 pessoas. A situação de Tabatinga é uma das mais preocupantes, com 67 mortes por Covid-19 registradas até o momento.

Próxima desses municípios, na fronteira do Brasil com o Peru, está a Terra Indígena Vale do Javari, a segunda maior do Brasil, com 8,4 milhões de hectares, cerca de 85% do município de Atalaia do Norte. Aí vivem cerca de 6 mil pessoas, incluindo grupos em isolamento voluntário e autônomos; o contágio põe em xeque a sobrevivência desses povos.

Dados do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI), divulgados pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) em 16 de junho, apontam que 39 indígenas do Vale do Javari testaram positivo para Covid-19. Muitos se recolhem ao isolamento com meios próprios e dependem de doações.

De acordo com lideranças locais, há um agravamento da situação. Tabatinga recebeu metade dos respiradores que possui (ao todo são 20) quando a doença já havia matado muitas pessoas. Uma das mortes ocorreu entre a população carcerária local, segundo o portal Amazonas Atual.

O governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), decidiu flexibilizar a quarentena no início de junho. Criticada por cientistas, a medida foi baseada na diminuição na taxa de ocupação dos leitos de UTI para Covid-19. As pessoas, principalmente indígenas, deixaram de procurar o hospital, como os Kokama, ao verem inúmeros parentes morrerendo aguardando transferência — houve casos com demora de 15 dias.

Manaus é a única cidade no estado que dispõe de UTI. Ainda de acordo com relatos, criou-se bastante temor em relação à intubação, por acreditar que esta acelera o óbito. Assim, os indígenas estão recorrendo a meios tradicionais e muitos já não fazem sequer o teste, optando por costumes tradicionais de lidar com a doença e a morte.

Veja nas fotos de Antonio Caldas os sinais do coronavírus em Tabatinga (AM), na Tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru.

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1 — Vista panorâmica da orla de Tabatinga (AM) margeada pelo rio Amazonas. A foto mostra a extensão do perímetro urbano da cidade, localizada na região da Fronteira Brasil-Colômbia-Peru. Foto: Antonio Caldas/Amazônia Latitude

 


2 – Considerada a principal via urbana de Tabatinga, a Avenida da Amizade concentra boa parte da zona comercial do centro da cidade. Em dias de saque de benefícios sociais, como o Bolsa Família, é possível ver a tradicional movimentação de pessoas, que formam filas nas agências bancárias na região. Foto: Antonio Caldas/Amazônia Latitude

 


3 – Mesmo em meio à pandemia, nos dias de pagamento de auxílios econômicos, populares se aglomeram próximos à agência da Caixa Econômica Federal localizada na Avenida da Amizade, em Tabatinga. Há distribuição de senhas aos clientes, que aguardam atendimento do banco. Foto: Antonio Caldas/Amazônia Latitude

 


4 – Na foto, é possível ver pessoas mantendo proximidade e ignorando as recomendações de uso de máscaras e distanciamento social enquanto aguardam atendimento na agência da Caixa Econômica da Avenida da Amizade, em Tabatinga. Muitos viajam de comunidades indígenas ou ribeirinhas nos arredores da sede municipal para fazer saques de auxílios governamentais, como o Bolsa Família. Foto: Antonio Caldas/Amazônia Latitude

 


5 – Vendedores comercializam produtos naturais da região e clientes circulam no mercado municipal de Tabatinga (AM), próxima ao rio Amazonas. Muitos ignoram os riscos do coronavírus e não utilizam as máscaras faciais de maneira adequada ou se aglomeram, facilitando a propagação da doença. Foto: Antonio Caldas/Amazônia Latitude

 


6 – O principal mercado municipal de Tabatinga (AM), visto de outro ângulo. Foto: Antonio Caldas/Amazônia Latitude

 


7 – Com asfalto em más condições, a foto mostra a rua Santos Dumont, próxima ao porto de Tabatinga (AM). A região é conhecida popularmente como “Feira do Bagaço” e reúne muitos comerciantes, a maioria peruanos, que têm pequenas lojas de variedades. Foto: Antonio Caldas/Amazônia Latitude

 


8 – Porto de Tabatinga (AM), considerado a principal porta de entrada da cidade fronteiriça, o porto é por onde chega a maioria dos viajantes de fora, ribeirinhos e indígenas da região quando visitam a sede do município. Foto: Antonio Caldas/Amazônia Latitude

 

9 – Na foto, é possível ver reunidos passageiros, taxistas de cooperativa e mototaxistas em um ponto utilizado para o embarque de viajantes em balsas e barcos. Ao fundo, a neblina, o “aru da selva”, mostra que ainda é cedo da manhã na região amazônica. Foto: Antonio Caldas/Amazônia Latitude

 

10 – Homem exibe peixes para a venda em um mercado informal a céu aberto na zona portuária de Tabatinga (AM). Foto: Antonio Caldas/Amazônia Latitude

 


11 – Cedo da manhã, clientes circulam segurando compras entre vendedores de produtos regionais de um mercado informal próximo ao porto de Tabatinga (AM), cidade fronteiriça da Amazônia. Foto: Antonio Caldas/Amazônia Latitude

 


12 – Porto de Tabatinga (AM) recebe passageiros de comunidades ribeirinhas e indígenas, que visitam frequentemente a cidade para receber benefícios sociais, fazer compras e visitar familiares e amigos. Além disso, parte da população depende do auxílio emergencial do governo. Foto: Antonio Caldas/Amazônia Latitude
13 – No alvorecer do dia, família de ribeirinhos chega ao porto de Tabatinga (AM). A cidade simboliza a chegada da onda do coronavírus a lugares do Brasil profundo com menos visibilidade e estrutura do que os grandes centros. Foto: Antonio Caldas/Amazônia Latitude

 


14 – Foto tirada com drone mostra os bairros Santa Rosa, GM3 e São Francisco em Tabatinga (AM) Do lado direito é possível ver a Avenida da Amizade, que leva ao posto de fronteira com a cidade de Letícia na Colômbia. A ilha ao fundo, também do lado direito, é Santa Rosa do Javari, no Peru. As fronteiras entre os países estão fechadas por tempo indeterminado. Foto: Antonio Caldas/Amazônia Latitude

 

15 – Barreira de entrada para a Terra Indígena Tukuna Umariaçu. Nela, os próprios moradores fazem o controle e no momento não permitem a passagem de pessoas de fora. Quem vive dentro da comunidade também tem restrições para sair e voltar ao local. Há conflito na contabilidade de casos entre os nativos: quem mora em área urbana, quando infectado, era classificado como “pardo”, o subestimaria números reais. Foto: Antonio Caldas/Amazônia Latitude

 


16 – Foto aérea mostra o cemitério municipal de Tabatinga (AM) lotado e com a capacidade total atingida. Com mais de 40 mortes oficialmente contabilizadas até o momento, foi necessário abrir outro cemitério, fora da zona urbana da cidade. Foto: Antonio Caldas/Amazônia Latitude

Imagem em destaque é o item 13 desta galeria. Crédito das imagens: Antonio Caldas/Amazônia Latitude. Veja outras galerias clicando aqui.

 

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