Riquezas da floresta #1: Açaí

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“Meu avô era índio, índio mesmo, do pé duro. Minha avó era índia, meus tios eram índios, todos eram índios”. A voz de seu Braz, benzedor do Quiandeua, no Pará, embala os primeiros segundos da série Riquezas da Floresta, que começa com os diferentes tipos de açaí da Amazônia.

Baseado no livro Frutíferas e Plantas Úteis na Vida Amazônica, publicado pela primeira vez em 1998, o projeto conta em áudio os resultados de dez anos de pesquisa do Centro Internacional para Pesquisa Florestal (Cifor), que estudou 21 espécies que têm um papel fundamental na vida de diversas comunidades tradicionais da Amazônia.

São quatro episódios dedicados a espécies de plantas, além de roteiros sobre nutrição e saúde e os usos múltiplos da floresta pelas pessoas.

Mara Régia, que dá voz ao especial, lembra que Marina Silva chamou o livro de poema à floresta. “É um poema porque resgata as lendas. Ao mesmo tempo, presta um serviço inestimável às pessoas que trabalham na mata. E tem as receitas, inclusive uma bula. Até fiz um spot, esse ‘‘quem vive na mata tem saúde de graça’”, diz a radialista.

Produzida em meados de 2005, após o lançamento de outra edição do livro, a série radiofônica selecionou algumas espécies para traduzir parte dos resultados da pesquisa. Patricia Shanley e Gabriel Medina, editores da obra, também tinham a preocupação de levar o resultado do trabalho a públicos que não teriam acesso ao impresso.

“Não conheço nenhum livro com tamanha profundidade, tamanha pertença com os ribeirinhos e povos tradicionais, e é um deleite. E os CDs a gente empoderou. E até hoje a gente bebe nessa fonte. Conhecimento tradicional é para todo o sempre, então a gente bebe como se fosse água cristalina”, diz Mara.

Sangue de vaca

Consumido de muitas maneiras no Brasil e no mundo, o açaí, que está no primeiro episódio da série, vem de uma palmeira que pode superar os 25 metros de altura e 16 centímetros de diâmetro. Farto na estação seca, entre julho e dezembro, o sangue de vaca — as frutas de açaí carnudas e frescas — tem variedades como o preto, o roxo, o tinga e o malhado, entre outras.

Por meio do manejo, comunidades tradicionais e populações rurais conseguem fazer da planta um meio de subsistência. “Esse modelo de manejo é que garante açaí o tempo todo na nossa propriedade”, diz Nildo Gonçalves, que planta açaí na bacia do rio Moju, entrevistado no programa.

Além de ser alternativa econômica e até para estancar o sangue em acidentes, como o uso do palmito do açaí-de-touceira, é claro que o fruto é fonte de cultura. A lenda de sua criação, conta Mara, remonta a tempos muito antigos e a um vinho que atravessou eras e agora faz parte da dieta paraense.

Para a radialista, a escolha das plantas para os episódios levou em conta fatores humanos, sua popularidade entre as comunidades tradicionais, o olhar das pessoas sobre elas e sua localização no território.

Acompanhe Riquezas da Floresta na Amazônia Latitude, aqui no site ou na sua plataforma de podcasts favorita. Clique aqui para ouvir os episódios. Riquezas da Floresta é uma produção radiofônica baseada no livro Frutíferas e Plantas Úteis na Vida Amazônica, uma realização do Cifor com o apoio de instituições parceiras. Saudações amazônicas!

 

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