Um adeus para Bepró Metuktire, jovem guerreiro Kayapó

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“Meu nome é Megaron Txucarramãe, do povo conhecido como Kayapó, do Mato grosso. Moro aqui na aldeia Piaraçu, no rio Xingu, Terra indígena (TI) Capoto/Jarina. Meu sobrinho Bepró, que nós perdemos ontem (15), era muito importante para nós Metuktire Mebengokrê”.

No dia 15 de fevereiro, morreu Bepró Metuktire, aos 36 anos, vítima de um infarto. Nascido numa área de transição entre o Cerrado brasileiro e a Floresta Amazônica, na aldeia Capoto, TI Capoto/Jarina, no município de Peixoto de Azevedo (MT), era filho do cacique Beptok. Na linha de sucessão, seria elevado ao cargo de cacique da aldeia Metuktire e assumiria a missão de liderar seu povo na defesa de seu território e de sua cultura milenares.

“Ele vinha fazendo um trabalho de pacificador. Quando tinha problema, ele ajudava a resolver. Quando tinha algum movimento, manifesto, ele sempre estava lá. Era um guerreiro. Guerreiro muito importante aqui pra nós Metuktire. E ontem (15) nós perdemos nosso guerreiro, nosso jovem. E estamos muito tristes. Estamos de luto”, disse Megaron, tio de Bepró.

Um dos manifestos foi em Oxford, em 2020. Junto com o avô Raoni, Megaron e Davi e Dario Kopenawa, Bepró entregou uma cópia do Manifesto do Piaraçu a Zac Goldsmith, ministro do Meio Ambiente da Inglaterra. O grupo expôs na ocasião alguns dos problemas enfrentados pelos povos indígenas e pela Amazônia.

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Bepró Metuktire, Raoni Metuktire, Davi Kopenawa, Megaron Txucarramãe e Dario Kopenawa em Oxford, durante o Colóquio internacional. Fevereiro de 2020. Amazônia Latitude

Ainda adolescente, Bepró deixou sua aldeia para estudar na cidade, com todos os obstáculos e dificuldades enfrentadas na cultura não indígena. Resistiu, aprendeu a falar outra língua, o português, e a lidar com as diferenças culturais.

De volta para casa, tornou-se chefe do posto de fiscalização indígena da Funai. Foi um dos primeiros cineastas entre os Kayapó, registrando importantes momentos de luta e de manifestações de seu povo, como em “A luta do povo Metuktire”, de 2015.

“Nós vamos ficar com saudade dele”, diz o tio Megaron. “Ele deixou para os jovens um trabalho muito importante no Instituto Raoni, de juntar material de filmagem e fotografias. Ele ajudava muito para manter o instituto funcionando. E isso foi a importância dele”.

Em mensagem publicada nas redes, o Instituto Raoni lamentou a partida de Bepró, sempre disposto a lutar. “Realmente, construímos uma grande família e você era nossa alegria diária, chegando sempre animado. Em qualquer ocasião você estava sempre com um sorriso no rosto, sempre gentil, amigável e verdadeiro. Hoje você partiu inesperadamente, como se tivesse recebido um chamado para defender alguém, e, como sempre, você não recusou”, diz a nota.

Bepró desempenhou por mais de uma década o papel de intérprete indígena do Instituto Raoni, auxiliando elo entre os indígenas e não indígenas que garantem o equilíbrio, o respeito e a defesa dos territórios e cultura Kayapó/Mebengokrê.

“Deixou um exemplo para muitos jovens, que podem seguir o trabalho dele no Instituto Raoni. Para pacificar, convencer as pessoas para o trabalho do instituto. Continuar com toda a comunidade da Terra Indígena Capoto/Jarina. Isso era trabalho do meu sobrinho Bepró Metuktire. Vou ficar com saudade dele”, lamenta Megaron. E completa:

“Queria agradecer também pelo apoio que o Instituto Raoni está dando nesse momento. Quero agradecer também ao Sergio, que está fazendo esse trabalho de levar o corpo do meu sobrinho para a aldeia Capoto. vai vir pra Piaraçu e vai pra Metuktire, onde estão o pai e a mãe dele, irmãos e irmãs. Vamos fazer muita homenagem ao meu sobrinho. Tanto lá no Capoto quanto aqui no Piaraçu e no Metuktire, uma homenagem final para o meu sobrinho Bepró”.

Imagem em destaque: cocar presenteado por Bepró. Marcos Colón/Amazônia Latitude

 

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