As contradições da sustentabilidade, o pensamento social e a educação
[RESUMO] Este texto é um resumo do artigo “Sustentabilidade”, de Marilene Corrêa da Silva Freitas (Ufam), publicado em dezembro de 2020 na revista Somanlu. A autora discorre sobre a relação do homem com a natureza e os limites do desenvolvimento sustentável, num contexto desfavorável para cenários de médio e longo prazo para a educação e a ciência. Leia a íntegra aqui.
Nos últimos anos, a relação do homem com a natureza e os limites para um desenvolvimento sustentável têm acirrado discussões nos campos político, educacional e social. Em artigo publicado na revista de Estudos Amazônicos Somanlu, em dezembro de 2020, a professora Marilene Corrêa, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), constata e reitera que a democracia e o meio ambiente sofrem enquanto o país assiste ao confronto entre forças antagônicas.
O texto “Sustentabilidade” é um relato sobre o papel da educação e da ciência na construção de um pensamento sustentável na formação cidadã.
A sociedade de risco fragilizou a convicção de que a humanidade poderia controlar mecanismos da evolução e de que a ciência poderia identificar e intervir em todos os mecanismos de manutenção da vida, sobretudo de nossa espécie sobre a Terra.
Para Marilene, o pensamento sobre a sustentabilidade tem sido objeto de um longo percurso de reconhecimento entre as ideias. Legitima-se em movimentos simultâneos ao registro da sua face mais exposta, a insustentabilidade.
Ao identificar forças fundamentais da natureza em fluxos favoráveis e em oposição à emergência, desenvolvimento e centralidade às forças da cultura humana, esse pensamento se constitui como ciência da sustentabilidade, identificando-se nos movimentos de conciliação e de oposição entre Natureza e Cultura.
Ao apresentar conexões entre a ação humana e os biomas, o uso sábio e predatório da inserção do homem nos ecossistemas e as fontes e determinações recíprocas entre evolução e historicidade, o discurso da sustentabilidade se insere entre lideranças da interlocução com outras formas de disciplinamento do pensamento, com o objetivo de demonstrar toda paisagem natural como documento histórico da vida planetária.
Este discurso sobre a sustentabilidade marca politicamente a condição da espécie humana ao lado das demais espécies; expõe ritmos, ciclos, processos, diferentes temporalidades da vida natural e cultural. Registra o posicionamento da cultura na natureza e, ao mesmo tempo, o reposicionamento dos seres humanos e não humanos na cadeia de vida. Nela o Homo sapiens é reavaliado em sua condição biológica, antropológica e social.
Sustentabilidade e Sociedade de Risco
Ao falar sobre os fenômenos ligados à sociedade de risco, Marilene pontua que tão importante quanto defini-la, é identificar os riscos do ponto de vista social e suas condicionantes.
A sociedade de risco carrega consigo a contradição da sociedade industrial, que se acirra perante os desafios do mundo contemporâneo. O impasse chamado de “irresponsabilidade organizada” é resultado de um sistema burocrático que mostra, no plano institucional, que esse desenvolvimento contraditório está nas duas faces da mesma moeda.
Sociedade de risco, assim, é a sociedade pós-industrial que apostou no desenvolvimento científico e tecnológico para enfrentar problemas da natureza e da sociedade. É também um modo de ser da cultura contemporânea que registra os modos de organização da sociedade moderna e pós industrial diante dos riscos.
Desde a emergência do industrialismo, a degradação ambiental está no centro da sociedade de risco. Uma sociedade sustentável torna-se, portanto, uma resposta, defende a pesquisadora.
Sustentabilidade e educação
Neste tópico, Marilene defende que é possível aprender por meio de um disciplinamento da educação ambiental para a sustentabilidade que articule teoria e prática para uma transformação das relações sociedade e ambiente.
Trata-se não somente de ensinar características físicas, químicas ou biológicas, embora sejam importantes para o equilíbrio da preservação ambiental, mas de problematizar a jornada educativa do ser humano, as relações estabelecidas entre homem e a natureza e os processos históricos que condicionam a organização das relações sociais.
A justiça social, a democracia e a cidadania certificam a presença da educação no debate da sustentabilidade. Mas para que essa possibilidade se concretize, é necessário definir quais os processos de formação humana que contribuem para uma nova lógica civilizatória e quais os desafios para a transformação do modelo atual e para superar a crise socioambiental.
Para isso, é necessário superar a fragmentação do conhecimento e instituir uma interdisciplinaridade de uma apreciação crítica da questão ambiental sob a perspectiva histórica, antropológica, econômica, política, cultural e ecológica. Porém, falar em educação sem considerar e compreender as condições que dão forma ao processo educativo nas sociedades capitalistas contemporâneas pode virar um discurso vazio.
Em sua proposta, a autora avalia que, em 2020, a disputa entre grupos antológicos que defendem o ambiente sustentável ou a exploração da natureza como recurso, o acirramento entre grupos políticos e o crescimento da desigualdade e exclusão social fragilizam a educação para sustentabilidade e inviabilizam vislumbrar cenários favoráveis para os próximos dez anos.