Depois da cheia

Galeria registra a vazante da maior enchente da história do Amazonas

Após registrar a maior cheia da história desde o início das medições, há 119 anos, as águas do rio Negro começam a baixar. Manaus chegou a registrar a marca de 30,04 metros no dia 16 de junho. Impulsionadas pelas mudanças climáticas, sete das dez maiores cheias nesse período ocorreram no século XXI.

A capital amazonense e a região metropolitana sofreram com as inundações, principalmente no mês de junho. Ruas foram alagadas, portos foram interditados e, plantações foram perdidas. Comerciantes improvisam barreiras com sacos de areia e vêm jogando cal na água parada para neutralizar o odor.

Com a descida de 17cm do nível do rio Negro, chegando a 29,69 metros na segunda-feira (12), a vazante começa a se desenhar, ainda de forma lenta e gradual. A trégua das águas também revela as consequências da relação nociva que o homem estabelece com a natureza. Os igarapés que ainda resistem na área central de Manaus e na região metropolitana, mostram o acúmulo do lixo, que em alguns trechos chega a cobrir toda a superfície.

Segundo a Defesa Civil amazonense, cerca de 450 mil pessoas já foram afetadas pelas cheias no estado, o equivalente a 10% da população do estado. A cheia atingiu 58 dos 62 municípios.

Petroleiro por profissão e fotógrafo por vocação, Paulo Neves compartilha uma breve seleção de imagens que traduz os impactos do volume das águas para o povo amazônida.

 

cheia vazante amazonas
1 — Tombado como patrimônio histórico, o prédio da Alfândega foi tomado pela água. As maiores enchentes da história afetam a economia, a saúde e o combate à pandemia. Este é o sétimo evento de enchente severa na última década. Nas sete primeiras décadas do século passado, esse fenômeno costumava ocorrer a cada 20 anos. Mas o problema vai além da capital, que concentra mais da metade da população do Amazonas. Paulo Neves/Amazônia Latitude

 

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2 — Camelôs, lojistas e pedestres disputam o espaço que sobrou na praça do Relógio. Os comerciantes contam que construíram a própria contenção de concreto nas portas dos estabelecimentos e pedem mais atenção do governo. As queixas incluem ainda a falta de pontes de madeira até a entrada dos estabelecimentos, o que impossibilita a entrada de clientes. Paulo Neves/Amazônia Latitude

 

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3 — No destaque, o menino sentado na cerca olha para o local onde ficava um campo de futebol na Comunidade Arthur Bernardes, submerso pelas águas da grande cheia. Há quase três anos, um incêndio de grandes proporções destruiu casas da comunidade. Paulo Neves/Amazônia Latitude

 

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4 — Desconfiado com a lente, o menino aproveita a grande cheia para fazer a travessia de moradores em sua canoa e ganhar trocados para ajudar a família. Apesar de registrar prosperidade social entre 2000 e 2010, a Região Metropolitana de Manaus ainda é a segunda do país com maior índice de vulnerabilidade social, segundo o livro “Riqueza, Desigualdade e Pobreza no Brasil: Aspectos Socioeconômicos das Regiões Brasileiras”, atrás de Belém (PA). Paulo Neves/Amazônia Latitude

 


5 — Todo ano, quando o Rio sobe, é comum surgirem críticas à população que descarta lixo nos rios. No igarapé do São Raimundo, a fotografia destaca uma cena comum do cotidiano baré, em que catadores, aproveitando a vazante dos rios, coletam latinhas para vender a reciclagem e garantir o alimento e sustento para a família.

Dados da Secretaria Municipal de Limpeza Pública (Semulsp) indicam que, somente neste ano, mais de 1 mil toneladas de lixo já foram retiradas das águas do Rio Negro e de igarapés em Manaus. Por dia, o órgão tem recolhido cerca de 27 toneladas de dejetos, sobretudo dos igarapés que passam por áreas pobres. Paulo Neves/Amazônia Latitude

 

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6 — Volume das águas invade área de camelôs nas proximidades do terminal da Igreja da Matriz. Paulo Neves/Amazônia Latitude

 

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7 — O fenômeno das cheias é comum, mas poucas vezes foi tão severo. Na imagem, o porto da cidade de Careiro, a cerca de 125 quilômetros de Manaus. Carros e pessoas já disputam espaço com as canoas em meio à subida rápida do nível da água. Paulo Neves/Amazônia Latitude

 

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8 — Em Careiro da Várzea, mais de 24 mil famílias foram afetadas pela cheia. O prejuízo com a perda da produção agropecuária já passou de R$ 1 milhão. Na área central e em outros bairros, as ruas foram substituídas pelas passarelas, mas alguns órgãos, como a secretaria de Saúde, estão alagados. Segundo o último levantamento da prefeitura, quase 500 pessoas estão desabrigadas. Na zona rural, a água invadiu a casa dos ribeirinhos. Paulo Neves/Amazônia Latitude

 


9 — Comerciantes tentam sobreviver em meio à maior enchente já registrada no Amazonas. Paulo Neves/Amazônia Latitude

 


10 — Cachorro e crianças atravessam ponte improvisada no Cacau Pirera. Paulo Neves/Amazônia Latitude

 


11 — Durante a cheia histórica de 2021, o Relógio Municipal acabou virando um ponto turístico da capital. “Fazer uma foto que não estivesse repleta de pessoas se mostrou uma missão quase que impossível. Foi um longo processo de exposição e muita espera”, conta Paulo Neves. Inaugurado no início do século XX, o Relógio Municipal foi instalado na avenida Eduardo Ribeiro, em 1927, e possui uma frase em latim gravada em volta do mostrador – vulnerant omnes, ultma necat que, em tradução livre, diz: “todas ferem, a última mata”, significando que para tudo a um tempo de acabar, até mesmo a vida. As palavras lembram que um dia todos enfrentarão um momento crucial, para o qual nunca se está preparado, porque não há como saber a data exata de tudo. Paulo Neves/Amazônia Latitude

 


12 — Não importa qual seja a cidade ou vilarejo na Amazônia, a subida dos rios sempre será motivo de alegria. Crianças ribeirinhas brincam na água sob o olhar vigilante dos pais. Paulo Neves/Amazônia Latitude

 


13 — A cheia no Amazonas traz complicações para os moradores dos municípios e comunidades do interior do estado.Devido à enchente, os moradores de palafita precisam lidar com a água invadindo casas e inundando todo o espaço ao redor. Ambientes com muita água exigem cuidados, principalmente quando há crianças no local. Um momento de desatenção pode levar a algum acidente ou até a uma tragédia. Paulo Neves/Amazônia Latitude

Texto: Ricardo Chaves
Fotos: Paulo Neves
Imagem em destaque é o item 8 desta galeria. Veja outras galerias aqui.

 

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