Fotogaleria: cores, aromas e sabores do Ver-o-Peso
Série fotográfica registra a multiplicidade de paisagens e sensações na maior feira a céu aberto da América Latina
Mercado Ver-o-Peso. Foto: Marcos Colón/Amazônia Latitude
Gritos de feirantes, o escape de um ônibus parado no trânsito, uma música com batidas rápidas e eletrônicas em um radinho barato, ondas batendo nas pedras. Para um lado, um pitíu1gíria paraense para odor azedo e pútrido, como o de peixe fresco de peixe e carne crus; para o outro, peixe e carne, mas fritos. A brisa muda e vem o perfume doce de frutas tropicais, misturado com ervas e madeiras e, bem de leve, um cheiro de terra molhada de chuva. Essa cacofonia de sensações é a essência do maior mercado ao ar livre da América Latina: o Ver-o-Peso.
O mercado, cercado de garças e urubus, se estende em um labirinto de barracas e tendas às margens da Baía do Guajará. Este monumento histórico e cultural pulsa com vida desde o século XVII, quando foi estabelecido como um posto de fiscalização do peso das mercadorias que chegavam pelo porto, e daí vem seu nome.
O lugar é composto por várias seções distintas, todas igualmente interessantes e coloridas. A primeira parte contém os boxes de restaurantes, revitalizados em 2017, e cobertos por lonas brancas que, quando instaladas, geraram polêmica na cidade por descaracterizar a paisagem. Hoje, servem para proporcionar mais conforto e proteção para os frequentadores e turistas que, diariamente, enchem os bancos e as mesas para conhecer um dos maiores orgulhos de Belém: a culinária.
É lá que você encontra pratos típicos como vatapá, caruru, tacacá, bolos, cremes e sucos de frutas exclusivas da Amazônia e, claro, a paixão do povo: o açaí. A fruta, batida em um grosso caldo roxo escuro, é servida para os locais geralmente acompanhada de um prato salgado, com peixe frito ou charque, e complementada por farinha de tapioca ou farinha de Bragança (baguda).
Falando em farinha, é assim que começa a próxima seção, onde cada feirante tem pelo menos dez sacas de diferentes tipos de farinhas de mandioca, com granulações, nível de acidez e origens variadas. Além deles, encontram-se os artesãos e as erveiras, que são uma atração à parte. Pilhas de folhas, cascas e sementes estão dispostas em sacos e cestos, enquanto as mulheres, conhecedoras dos segredos ancestrais da floresta e suas propriedades medicinais, oferecem remédios e poções coloridas para todos os males.
Dando mais alguns passos, encontramos as barracas de frutas com uma paleta vibrante de cores: o vermelho alaranjado vivo das pupunhas e pimentas; o amarelo brilhante dos tucupis e das mangas; o marrom opaco das castanhas; o verde profundo do jambu e da maniva, uma pasta de folhas de mandioca brava, principal ingrediente da maniçoba.
Mais a frente, próximo à Pedra do Peixe, pescadores exibem seu achado do dia, sempre frescos: filhote, gó, dourada, pescada amarela, tambaqui, pirarucu, tucunaré, entre outros. Essa área movimentada culmina no icônico Mercado de Ferro, inaugurado em 1901, com estruturas metálicas importadas diretamente da França.
Por fim, as pessoas do Ver-o-Peso são tão diversas quanto seus produtos. Vendedores sorridentes que conhecem cada freguês pelo nome, pescadores contadores de histórias, cozinheiras que compartilham receitas centenárias, passadas de geração em geração. Todos têm em comum o orgulho de pertencer ao Veropa2apelido carinhoso que os belensenses usam para se referir ao mercado.
O Ver-o-Peso é mais do que um mercado, é um símbolo da identidade cultural do povo paraense. E explorá-lo é um convite para sentir a Amazônia em toda sua complexidade. Um passeio por sabores, cheiros e sons que contam a história de um povo e de uma terra. E é isso que convidamos você a fazer nesta série, reunindo momentos do ponto turístico mais conhecido de Belém do Pará.
As imagens foram registradas pelo fotojornalista Marcos Colón, diretor da Amazônia Latitude.
Fotos: Marcos Colón
Texto: Alice Palmeira
Edição: Isabella Galante
Direção: Marcos Colón