Água mais turva no rio Tapajós pode vir do garimpo, mostra satélite

Uma barca de garimpo sob o rio Tapajós
Análise do MapBiomas comparou a turbidez do rio por meio de imagens de alta resolução; cheia do rio sozinha não explica quantidade de sedimentos em 2021

A explosão do garimpo no médio curso do rio Tapajós pode contribuir para o excesso de sedimentos que mudam a cor de suas águas, como visto nas praias de Alter do Chão, uma das praias mais desejadas do Brasil. Imagens aéreas do rio turvo no balneário paraense viralizaram neste mês, enquanto turistas corriam para a região no primeiro verão pós-vacina.

Uma sequência de imagens de satélite de alta resolução analisadas pelo consórcio MapBiomas indica que a lama dos garimpos em afluentes do Tapajós como o Jamanxim, o Crepori e o Cabitutu está por trás da pluma de sedimentos que tomou o rio neste ano e é visível em todo seu baixo curso até a foz.

Nas imagens do rio Cabitutu em maio de 2019, não há turbidez nas águas. Dois anos depois, em junho de 2021, houve um aumento de amplas áreas de garimpo e da turbidez das águas visíveis pelo satélite.

linha do tempo do rio Tapajós, com mais sedimentos no rio

Comparação de sedimentos no rio Tapajós (MapBiomas)

A cheia anual do rio Amazonas também contribui com a mudança de cor do Tapajós. Como explica a nota técnica do MapBiomas, na foz do rio Tapajós com o rio Amazonas há um sistema hidrodinâmico interconectado por canais.

Quando o nível das águas no Amazonas está elevado no período de cheia, os canais que conectam o sistema Amazonas-Tapajós passam a injetar um maior volume de sedimentos que o observado no período de águas baixas.

No encontro dos dois rios, os sedimentos do barrento Amazonas invadem as águas cristalinas do Tapajós. Só que essa opacidade cíclica e natural nessa época de início das cheias não basta para explicar as alterações vistas em Alter e em outros pontos do rio neste ano.

Nas imagens de satélite com três metros de resolução, da constelação americana Planet, é possível ver a pluma de lama tomando o Tapajós mesmo em julho, mês de seca, quando não há influência do Amazonas.

A observação das imagens acontece em um período de aumento do garimpo na Amazônia. Um outro levantamento do MapBiomas mostrou que as atividades de mineração na região cresceram dez vezes nas últimas três décadas.

Só na bacia do Tapajós a área de garimpos na bacia do rio saltou de 21.437 ha (hectares) em 2010 para 68.351 ha em 2020. Uma expansão de 223% nesse período, o que equivaleria a 46.914 hectares (tamanho da cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul).

A pandemia provocou uma explosão no preço do ouro, que em 2020 atingiu pela primeira vez US$ 2.000 a onça troy (unidade de venda de ouro, equivalente a 31,1 gramas). Isso teria provocado uma corrida do ouro na Amazônia.

Segundo o Greenpeace, 73% das áreas abertas para mineração entre janeiro e setembro de 2021 incidiram sobre áreas protegidas (unidades de conservação e terras indígenas). Somente nas Terras Indígenas Saí Cinza e Munduruku o aumento da extensão de rios impactados pelo garimpo nos últimos cinco anos foi de quase 2.300%.

Imagens aéreas feitas pelo Observatório do Clima no dia 22 de janeiro de 2022 mostram a dimensão dos sedimentos na bacia do Tapajós. Foram filmados trechos de rios afluentes como rio Crepori e rio Jamanxim, passando pela Cachoeira de São Luiz do Tapajós, além das cidades de Itaituba, Fordlândia e Aveiros e as comunidades Maguari e Alter do Chão.

Nota técnica da MapBiomas

Imagem de destaque: Observatório do Clima

 
 

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