Erik Jennings

Neurocirurgião, professor da Ufopa, coordenador de saúde do povo Zoé, consultor do Ministério da Saúde para povos isolados e de contato recente.

Território Zoé incomoda por estar alheio à lógica capitalista

Talvez isso mude com o tempo, mas que seja pela vontade do povo Zoé, não pela nossa ganância

Povo Zoé - Foto: Erik Jennings

O Território Indígena (TI) Zoé¹ alimenta pessoas e não humanos. Nada sai desse território para alimentar a indústria madeireira, do ouro ou de outros minérios.

Este território está fora da lógica capitalista. Não que seja bom ou ruim, não é isso. Mas é importante constatar que é o momento desse povo e o momento deste território. O momento que eles estão vivendo juntos. E isso incomoda.

É difícil para a nossa sociedade compreender que um território tão bonito, tão belo e até certo ponto extenso alimenta somente humanos e não humanos. Tudo que sai daqui e vai direto para a boca de pessoas ou animais. Nada deste território alimenta as fábricas e a lógica capitalista da nossa sociedade.

Talvez isso vá acontecer em breve. Mas quem tem de estar à frente disso é o povo Zoé, e não nós, ditando nossas normas, como nossos valores. Não deve ser a ganância da nossa sociedade ditando para esse povo o que deve ser feito com esse território que eles preservam e que dependem para sobreviver e para viver em paz.

¹ O povo Zoé habita a região entre os rios Cuminapanema e Erepecuru, no noroeste do Pará, na região amazônica. Foi o último grupo falante de língua tupi-guarani a ser contatado por não indígenas no Brasil, ainda na metade dos anos 1980. Hoje, reconhecida como a Terra Indígena Zoé, homologada em 2009, com extensão de 668,5 mil hectares. Essa TI é também conhecida como Frente Etnoambiental Cuminapanema, criada em 2011 (Portaria Nº 1816/PRES, de 30 de dezembro de 2011).

Erik Jennings é neurocirurgião e professor da Universidade Federal do Oeste do Pará. Fundou o primeiro serviço público de neurocirurgia no interior da Amazônia brasileira e é coordenador de saúde do povo Zoé, uma tribo indígena recentemente contatada. Ativista ambiental e defensor dos direitos e cultura dos povos indígenas, é consultor do Ministério da Saúde para questões envolvendo povos indígenas isolados e de contato recente. Defende a preservação cultural, ambiental e social como o principal fornecedora de cuidados de saúde para esses povos. Além disso, coordena o programa de residência médica em neurocirurgia da Universidade Estadual do Pará.

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