LatitudeCast #23 – A política de saúde indígena com medicina ancestral e tradicional

Ana Lúcia Pontes, médica sanitarista e coordenadora do COE Yanomami. Foto: Clinton Davisson

Ana Lúcia Pontes, coordenadora do Centro de Operações Emergenciais Yanomami
Foto: Clinton Davisson

A saúde indígena é uma das questões mais debatidas na política indigenista nacional. Esse subsistema de saúde enfrenta problemas estruturais desde a sua implementação. Entre os principais desafios estão a dificuldade de acesso a habitações isoladas e as enfermidades trazidas por não indígenas, como a malária, a tuberculose e doenças sexualmente transmissíveis.

No episódio 23 do LatitudeCast, entrevistamos Ana Lúcia Pontes, médica sanitarista, doutora em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) e coordenadora do Centro de Operações Emergenciais (COE) Yanomami, que foi mobilizado em 26 de janeiro para organizar as estratégias sobre o Território Indígena entre Roraima e o Amazonas.

Pontes aborda o contexto histórico de políticas de saúde dos povos originários, fala sobre a situação emergencial dos Yanomami e da importância do Sistema Único de Saúde (SUS) em territórios indígenas.

O que estamos vendo é a necessidade de revisão da política de saúde dos povos indígenas, como ela foi tratada nos últimos anos, com leituras do outro governo, das quais a gente discorda.
Ana Lúcia Pontes

Ela cita como exemplo a aquisição de alimentos para pacientes e acompanhantes nas Unidades de Saúde do Dsei (Distrito Sanitário Especial Indígena), uma política que considera de segurança alimentar. “Aqui nas unidades de saúde não estava tendo aquisição e distribuição de alimentos para pacientes e acompanhantes que ficam às vezes semanas ou meses necessitando de tratamento, e que você tem que garantir essa alimentação.”

Ana Lúcia Pontes também é escritora e organizou em 2022 o livro “Vozes Indígenas na saúde: trajetórias, memórias e protagonismos”, que tem o objetivo de evidenciar o protagonismo indígena na implementação da atual política.

Aliando saberes ancestrais à medicina convencional

Sobre a importância de aliar os saberes dos povos originários aos da medicina convencional, Ana Lúcia destaca que esse assunto sempre foi a pauta central e que os povos indígenas nunca abriram mão de seus sistemas próprios de saúde –com plantas, ervas e seus próprios processos de cura.

Quando os indígenas falavam na década de 1980 que eles queriam ser incluídos como sujeitos de direito na política de saúde, eles nunca abriram mão de seus sistemas médicos. Sistemas que tiveram uma alta resolutividade por milhares de anos e que, obviamente, eles também tinham uma percepção de que é um sistema que consegue controle e manejo de um conjunto de agravos. Mas o contato com o não indígena trouxe novas doenças e, por vezes, esses recursos não têm a resolutividade e eficiência que precisam.
Ana Lucia Pontes

A coordenadora do COE Yanomami acredita que o caminho deve ser percorrido ao contrário. “Eles não nos complementam, é a gente que está chegando nesses territórios e complementando o que eles já possuem no cotidiano de sistema médico familiar e com especialistas próprios. O que estamos fazendo é provimento adicional de recursos, particularmente para esses problemas, que foram introduzidos devido ao contato forçado”, afirma.

O LtitudeCast é uma produção da Amazônia Latitude, conduzido pela radialista Mara Régia, com produção e roteiro de Lucas Duarte e edição de áudio de Celso Rabelo.

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