Editora Abya Yala registra saberes ancestrais para além do apelo comercial
Evento de lançamento na livraria da editora. Foto: Arquivo Abya Yala.
Comemorando 50 anos de existência em 2025, Abya Yala é considerada uma das maiores editoras de estudos sociais da América Latina. Especializada nos movimentos indígenas e afro-americanos, a empresa se firma como referência no âmbito acadêmico para pesquisadores, professores e estudantes.
“A editora concentra muito do conhecimento dos povos ancestrais. É como uma forma de retribuir às comunidades o trabalho dos antropólogos que escreveram sobre elas. Porque o que acontece normalmente é que os pesquisadores apresentam suas teses de doutorado nas universidades e acabou”, reflete Milagros Aguirre, editora geral da Abya Yala desde 2016.
Fundada pelo padre Juan Bottasso, missionário que faleceu em 25 de dezembro de 2019, a editora ampliou seu catálogo e atualmente publica obras com temas como gênero, fascismo, arqueologia, ecologia, relatos de viagem e crônicas, inclusive de autores indígenas de todo o continente americano. Dessa maneira, é possível passar os conhecimentos da oralidade para o registro escrito, difundindo os valores culturais dos povos, para que também os não indígenas possam ter um mínimo entendimento daquelas realidades.
Aguirre reconhece o esforço de preservação da empresa, para muito além do apelo comercial: “Recentemente, fizemos uma convocatória de obras em línguas indígenas. Publicamos um livro de Construções de verbos seriais em Tojol-ab’al, por exemplo, que é só para ser lido em Tojol-ab’al [língua maia falada por cerca de 70 mil pessoas no sul do México]. Nos arriscamos nesse sentido. Acho que não existem muitas editoras que se permitam fazer esse tipo de loucura”.
Entre os títulos, alguns são de autores brasileiros ou estão disponíveis em português, podendo ser adquiridos nas versões impressa (com envio ao Brasil) e digital.
Um destaque é o recém-lançado “Genocídios indígenas na América Latina” (Carlos Salamanca e Alcida Rita Ramos, 2023), escrito a partir de um seminário internacional realizado na Universidade de Brasília. O livro é composto por depoimentos de graves abusos executados por agentes do Estado e violações de direitos dos povos originários.
Para alcançar seus objetivos de conscientização e sensibilização, a Abya Yala conta com a subvenção da Universidade Politécnica Salesiana, em Quito, no Equador. Porém, faltam investimentos para alcançar uma abrangência maior.
Claro que não é de interesse do setor público que a população conheça o mundo indígena, porque acredito que quanto mais se conhece, mais se exige (Milagros Aguirre, editora geral da Abya Yala)
Museo Abya Yala
As ações da Abya Yala extrapolam a editora que, antes de tudo, se firmou como Centro Cultural. Atualmente, também abriga um museu e uma biblioteca.
Turistas e pesquisadores em Quito podem aproveitar o acervo arqueológico e etnográfico que inclui instrumentos e utensílios de culturas da Amazônia, como Waorani, Kichwa de Pastaza e Shuar – famosos pelo processo de encolhimento das cabeças de seus inimigos.
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Produção: Isabella Galante
Revisão: Filipe Andretta
Direção: Marcos Colón