Aquecimento deve aumentar tempestades que devastam a Amazônia, diz estudo

Eventos extremos que derrubam árvores podem crescer 43% neste século e transformar florestas em emissoras de carbono

  • Grandes tempestades e vendavais tendem a crescer 43% na Amazônia até o final do século, segundo pesquisa publicada em janeiro de 2023.
  • Área exposta a eventos extremos tende a aumentar em 50% no mesmo período.
  • Tempestades e vendavais derrubam ou quebram árvores, que se decompõe, potencialmente transformando florestas em emissoras de gases.

Florestas tropicais, cruciais para captar o gás carbônico da atmosfera, estão sujeitas a fortes tempestades que podem causar a derrubada ou a quebra de árvores. Essas árvores danificadas se decompõem, e a floresta – que antes prendia carbono – pode se converter em uma emissora de gases.

Um novo estudo descobriu que tempestades extremas, impulsionadas pela mudança climática, provavelmente causarão um número maior de grandes ventanias e temporais na floresta amazônica. Esta é uma das poucas maneiras pelas quais os pesquisadores estabeleceram uma ligação entre as condições de tempestade na atmosfera e a mortalidade de árvores, ajudando a preencher uma lacuna nos modelos científicos.

“Construir esse vínculo entre a dinâmica atmosférica e os danos na superfície é muito importante em todos os aspectos”, disse Jeff Chambers, cientista sênior do corpo docente do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley do Departamento de Energia (Berkeley Lab) e diretor do Next Generation Ecosystem Experiments (NGEE) Tropics project, que realizou a pesquisa. “Não vale apenas para os trópicos, mas para altas e baixas latitudes, inclusive nos EUA.”

Os pesquisadores descobriram que a Amazônia provavelmente enfrentará 43% mais grandes vendavais e tempestades (que afetam 25 mil m² ou mais) até o final do século. A área da Amazônia que tende a ver tempestades extremas que provocam grandes ventos também aumentará em cerca de 50%. O estudo foi publicado na revista Nature Communications em 6 de janeiro.

“Queremos saber o que essas tempestades extremas e ventanias significam em termos de estoque de carbono e dinâmica de carbono, e para sumidouros de carbono nas florestas”, disse Chambers.

Enquanto as árvores derrubadas liberam carbono lentamente à medida que se decompõem, a floresta aberta torna-se hospedeira de novas plantas que extraem dióxido de carbono do ar. “É um sistema complicado e ainda há muitas peças do quebra-cabeça em que estamos trabalhando. Para responder à pergunta de forma mais quantitativa, precisamos construir as ligações terra-atmosfera nos modelos do sistema terrestre”, afirma o pesquisador.

Metodologia de pesquisa

Para encontrar a ligação entre o ar e a terra, os pesquisadores compararam um mapa de mais de 1.000 grandes ventos com dados atmosféricos. Eles descobriram que uma medida conhecida como Cape (sigla em inglês para a “Energia Potencial Convectiva Disponível”) era um bom indicador de grandes descargas.

A Cape mede a quantidade de energia disponível para mover parcelas de ar verticalmente, e um alto valor de Cape geralmente leva a tempestades. Tempestades mais extremas podem vir com ventos verticais intensos, chuvas fortes ou granizo e raios, que interagem com as árvores desde a copa até o solo.

“As tempestades representam mais da metade da mortalidade florestal na Amazônia”, disse Yanlei Feng, um dos autores do artigo. “A mudança climática tem muito impacto nas florestas amazônicas, mas até agora, grande parte do foco das pesquisas tem sido a seca e o fogo. Esperamos que o nosso estudo traga mais atenção para tempestades extremas e melhore nossos modelos para trabalhar em um ambiente em mudança devido às alterações climáticas”.

O estudo partiu de uma perspectiva futura com altas emissões de carbono (um cenário conhecido como SSP-585), mas os cientistas podem usar os dados Cape para explorar os impactos do vento em diferentes cenários de emissões.

Os pesquisadores agora estão trabalhando para integrar a nova relação floresta-tempestade nos modelos do sistema terrestre. Modelos melhores ajudarão os cientistas a explorar como as florestas responderão a um futuro mais quente – e se elas podem continuar capturando o carbono da atmosfera ou, em vez disso, se tornarão emissoras.

*Esta notícia é uma tradução e adaptação da publicada por Lauren Biron, do Berkeley Lab
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