Fotogaleria: Vozes ancestrais e maracás entonam a luta indígena no Acampamento Terra Livre

Entre resistência e repressão violenta, cerca de 8 mil indígenas de diversas etnias ocuparam Brasília em defesa de seus direitos no Acampamento Terra Livre

O Acampamento Terra Livre é a maior Assembleia dos Povos e Organizações Indígenas do Brasil. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom / Agência Brasil.
O Acampamento Terra Livre é a maior Assembleia dos Povos e Organizações Indígenas do Brasil. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom / Agência Brasil.
O Acampamento Terra Livre é a maior Assembleia dos Povos e Organizações Indígenas do Brasil. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom / Agência Brasil.

O Acampamento Terra Livre é a maior Assembleia dos Povos e Organizações Indígenas do Brasil. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom / Agência Brasil.

Nesta semana, entre os corredores políticos e a arquitetura modernista de Brasília, indígenas e aliados se reúnem para reivindicar a demarcação de suas terras ancestrais e a efetivação de políticas públicas capazes de reparar feridas históricas negligenciadas.

Organizado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e suas organizações regionais, o Acampamento Terra Livre (ATL) é o maior encontro nacional dos povos originários e reúne hoje mais de 8 mil representantes de até 200 etnias. Desde 2004, o Acampamento tem sido palco de intensas mobilizações e, neste ano, celebra os 20 anos da organização com o tema “Apib somos todos nós – Em defesa da Constituição e da vida”.

Realizado entre os dias 7 e 11 de abril de 2025, o ATL se estabelece como uma estufa ideológica e cultural pautada por 5 eixos temáticos: “Apib Somos Todos Nós”, “Resistência e Conquista”, “Desconstitucionalização de Direitos”, “Fortalecendo a Democracia” e “Em Defesa do Futuro – A Resposta Somos Nós”.

As discussões giram em torno das seguintes pautas: a aceleração da demarcação de terras, a crítica à Lei 14.701 – popularmente conhecida como “Lei do Marco Temporal” –, a transição energética justa, o reconhecimento da autoridade climática dos povos originários, a resistência LGBTI+ e a denúncia das tentativas de conciliação forçada imposta pelo Supremo Tribunal Federal, que reduzem o direito dos povos indígenas a ocupar seus territórios ancestrais.

No primeiro dia, os acordos de convivência e a apresentação das delegações estabelecem o tom: a união e a resistência dos povos originários são celebradas em plenárias repletas de relatos e de expectativas para o futuro, enquanto sessões culturais enfatizam o legado dos 20 anos da Apib.

Durante a terça-feira (8), os participantes se mobilizaram nas ruas de Brasília para a marcha “APIB Somos Todos Nós: Nosso Futuro Não Está à Venda”, um ato que culminou em uma sessão na Câmara dos Deputados, na qual os presentes reafirmaram suas demandas por demarcação de terras e a denúncia contra as políticas restritivas. No dia seguinte, em sessões como a intitulada “O Acordo Sem Voz”, líderes indígenas, especialistas e ativistas debateram as implicações da Câmara de Conciliação do STF.

Dia 10: Confrontos e repressão

O dia 10 de abril destacou-se pelo episódio mais impactante da jornada. Pouco antes do início da manifestação, um áudio vazado circulou amplamente nas redes sociais, antecipando que poderiam ocorrer agressões durante a marcha “A Resposta Somos Nós”. Nesse áudio, vozes associadas ao planejamento da segurança do evento sugeriam a possibilidade de uma intervenção violenta para conter os manifestantes, o que acabou se concretizando à tarde.

Durante a marcha, que saiu do acampamento na antiga Funarte por volta das 17h, os participantes ecoavam cânticos ancestrais e avançavam em direção ao Congresso Nacional. As forças de segurança recorreram ao uso de gás lacrimogêneo e spray de pimenta para afastar os manifestantes, deixando vários feridos e um hospitalizado.

Entre as vítimas estava a deputada federal Célia Xacriabá, do PSOL, que sofreu lesões significativas — especialmente nos olhos –, necessitando de atendimento urgente pelo Corpo de Bombeiros. Em vídeo divulgado pela assessoria de imprensa da parlamentar, ela aparece se identificando como deputada federal eleita enquanto sofre com a ardência nos olhos causada pelo gás. Mesmo assim, a polícia impediu momentaneamente sua passagem para o parlamento, exigindo identificação.

Em resposta, a Ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, juntamente com diversas instituições, inclusive a Apib, manifestou repúdio às cenas de violência ocorridas. Segundo relatos, a Câmara dos Deputados afirmou que os manifestantes teriam descumprido o acordo pré-estabelecido e avançado além da área demarcada, uma vez que alguns participantes derrubaram grades de contenção. Já a Secretaria de Polícia do Senado Federal justificou a intervenção afirmando que “foi preciso conter os manifestantes” que avançavam sobre a sede do Poder Legislativo.

A Apib, por sua vez, esclareceu que não houve orientação sobre esses limites em reunião convocada pela Secretaria de Segurança do Distrito Federal na véspera do evento. Além disso, no meio do tumulto, manifestantes alegaram ouvir declarações de cunho racista incentivando a violência contra os indígenas, agravando o clima de repúdio e indignação que marcou o dia. Segundo os diretores da Polícia Legislativa, será aberta uma investigação para apurar a “invasão”.

Por fim, no dia 11, mesmo com os ataques da noite anterior, a programação segue com rodas de conversa e a leitura coletiva de uma Carta Aberta ao Mundo, o documento final que registra o balanço do evento e a união dos 8 mil indígenas presentes. Agora, ainda mais que antes, as atividades do dia reafirmam a estratégia de resistência — um espaço onde os povos originários articulam suas demandas, revigoram suas identidades e celebram seus 20 anos de mobilização.

Nesse cenário, o Acampamento Terra Livre se reafirma como um espaço para o confronto pacífico, democrático e justo. Enquanto que os indígenas — com maracás em punho e rostos pintados de urucum e jenipapo — lutam pelo direito de ocupar seus territórios e preservar sua cultura em cada manifestação, plenária e ato de repúdio. Mostrando assim a determinação de povos que, mesmo diante da violência institucional, se erguem para transformar a dor em força e resistência.

Mergulhe na fotogaleria com registros de Walter Kumaruara, do Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns, e da Agência Brasil

O evento começou na segunda-feira, 7 de abril. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil.

O evento começou na segunda-feira, 7 de abril. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil.

O Acampamento Terra Livre contou com a presença de mais de 8 mil indigenas de todas as regiões do Brasil. Foto: Walter Kumaruara / Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns.

O Acampamento Terra Livre contou com a presença de mais de 8 mil indígenas. Foto: Walter Kumaruara / Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns.

O evento contou com a presença de mais de 200 etnias. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom / Agência Brasil.

O evento contou com a presença de mais de 200 etnias. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom / Agência Brasil.

Deputada Célia Xacriabá, Cacique Raoni Metuktire e Ministra sônia Guajajara na Câmara dos Deputados durante sessão em homenagem à 21ª Edição do Acampamento Terra Livre. Foto: Lula Marques / Agência Brasil.

Deputada Célia Xacriabá, Cacique Raoni Metuktire e Ministra sônia Guajajara na Câmara dos Deputados durante sessão em homenagem à 21ª Edição do Acampamento Terra Livre. Foto: Lula Marques / Agência Brasil.

Marcha no Eixo Monumental de Brasília durante o ATL. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom / Agência Brasil.

Marcha no Eixo Monumental de Brasília durante o ATL. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom / Agência Brasil.

Crianças, adolescentes e idosos também estavam presentes nas marchas. Foto: Walter Kumaruara / Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns.

Crianças, adolescentes e idosos também estavam presentes nas marchas. Foto: Walter Kumaruara / Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns.

A crítica à Lei 14.701, conhecida como “Lei do Marco Temporal”, era uma das principais pautas dos manifestantes. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom / Agência Brasil.

A crítica à Lei 14.701, conhecida como “Lei do Marco Temporal”, era uma das principais pautas dos manifestantes. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom / Agência Brasil.

O Acampamento Terra Livre deste ano tinha o tema “Apib somos todos nós – Em defesa da Constituição e da vida”. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom / Agência Brasil.

O Acampamento Terra Livre deste ano tinha o tema “Apib somos todos nós – Em defesa da Constituição e da vida”. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom / Agência Brasil.

A luta por uma energia limpa também foi pautada no ATL. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom / Agência Brasil.

A luta por uma energia limpa também foi pautada no ATL. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom / Agência Brasil.

A educação indígena também foi tema dos protestos do ATL. Em janeiro de 2024, Indígenas ocuparam a Secretaria de Educação no Pará para lutar contra a substituição do ensino presencial por aulas virtuais nas escolas indígenas do estado. Foto: Walter Kumaruara / Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns.

A educação indígena também foi tema dos protestos do ATL. Em janeiro de 2024, Indígenas ocuparam a Secretaria de Educação no Pará para lutar contra a substituição do ensino presencial por aulas virtuais nas escolas indígenas do estado. Foto: Walter Kumaruara / Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns.

Desde 2004, o Acampamento tem sido palco de intensas mobilizações. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom / Agência Brasil.

Desde 2004, o Acampamento tem sido palco de intensas mobilizações. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom / Agência Brasil.

No dia 10, a marcha “A Resposta Somos Nós” saiu do acampamento na antiga Funarte por volta das 17h em direção ao Congresso Nacional. Foto: Joédson Alves / Agência Brasil.

No dia 10, a marcha “A Resposta Somos Nós” saiu do acampamento na antiga Funarte por volta das 17h em direção ao Congresso Nacional. Foto: Joédson Alves / Agência Brasil.

Os atos foram acompanhados por canots e danças ancestrais indígenas. Foto: Walter Kumaruara / Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns.

Os atos foram acompanhados por cantos e danças ancestrais indígenas. Foto: Walter Kumaruara / Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns.

Após repressão policial, a deputada federal Célia Xacriabá, do PSOL, que sofreu lesões nos olhos, necessitando de atendimento urgente pelo Corpo de Bombeiros. Foto: Joédson Alves / Agência Brasil.

Após repressão policial, a deputada federal Célia Xacriabá, do PSOL, que sofreu lesões nos olhos, necessitando de atendimento urgente pelo Corpo de Bombeiros. Foto: Joédson Alves / Agência Brasil.

Os participantes vieram de todas as regiões do Brasil para o Acampamento. Foto: Walter Kumaruara / Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns.

Os participantes vieram de todas as regiões do Brasil para o Acampamento. Foto: Walter Kumaruara / Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns.

O Acampamento Terra Livre deste ano tinha o tema “Apib somos todos nós – Em defesa da Constituição e da vida”. Foto: Walter Kumaruara / Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns.

O Acampamento Terra Livre deste ano tinha o tema “Apib somos todos nós – Em defesa da Constituição e da vida”. Foto: Walter Kumaruara / Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns.

O Acampamento Terra Livre se reafirma como um espaço para o confronto pacífico, democrático e justo. Foto: Walter Kumaruara / Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns.

O Acampamento Terra Livre se reafirma como um espaço para o confronto pacífico, democrático e justo. Foto: Walter Kumaruara / Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns.

Os povos originários — com maracás em punho e rostos pintados de urucum e jenipapo — continuam lutando pelo direito de ocupar seus territórios e preservar sua cultura. Foto: Walter Kumaruara / Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns.

Os povos originários — com maracás em punho e rostos pintados de urucum e jenipapo — continuam lutando pelo direito de ocupar seus territórios e preservar sua cultura. Foto: Walter Kumaruara / Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns.

 

Fotos: Walter Kumaruara e Agência Brasil
Curadoria de Imagens: Isabela Leite
Texto e Montagem da Página: Alice Palmeira
Revisão: Glauce Monteiro
Direção: Marcos Colón

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