Gaby Amarantos – Live in Jurunas: um making of
Artigo analisa o DVD-Documentário "Gaby Amarantos – Live In Jurunas" como expressão da cultura tecnobrega, destacando a solidariedade comunitária da periferia de Belém


Gaby Amarantos, do DVD Live in Jurunas. Belém 2011. Foto: Divulgação.
RESUMO: Entre os sons peculiares que ouvimos no cotidiano das periferias da cidade de Belém, se misturam pregões de rua, sons automotivos, rádios de poste, gritos de crianças brincando e aparelhagens de som que comumente costumam ecoar de suas caixas o gênero musical denominado tecnobrega. No dia 27 de fevereiro de 2011, a voz da artista paraense Gaby Amarantos misturou-se a tantos outros sons que ecoavam em frente à sua casa localizada na Rua Nova II, bairro do Jurunas, periferia de Belém, durante a gravação do DVD-Documentário “Gaby Amarantos – Live In Jurunas”. Nas próximas páginas visamos apresentar os bastidores de gravação desta obra, apresentando-a como resultado de uma complexidade cultural atravessada pelo tecnobrega, pelo pertencimento do espaço e por laços de solidariedade que contribuíram para torna-la única dentro do cenário musical brasileiro.
O bairro, o som e as multifaces.
Arrabaldes, subúrbios, periferias. Tais alcunhas foram utilizadas historicamente para se referir às áreas socioespaciais que foram sendo ocupadas às margens dos centros das grandes cidades. Comumente sendo resultado de políticas eugenistas que tiveram como prioridade afastar as ditas “classes perigosas” dos centros das cidades, as periferias brasileiras constituíram-se, majoritariamente, por pessoas negras, pobres e socialmente negligenciadas. Na narrativa apresentada a seguir, teremos como cenário uma rua de periferia que em dado momento deixou de ser rotulada como “apenas uma rua de periferia” e tornou-se palco para um registro audiovisual único dentro do cenário musical brasileiro: o DVD-Documentário “Gaby Amarantos – Live In Jurunas”.
Na manhã do dia 27 de fevereiro de 2011, a cantora paraense de tecnobrega Gabriela Amaral dos Santos, mais conhecida como Gaby Amarantos, saiu em cima de um caminhão de som pelas ruas do bairro do Jurunas, periferia da cidade de Belém, capital do Estado do Pará, convidando as pessoas residentes do bairro para a “gravação de um DVD internacional”1Fala extraída de um registro de vídeo cedido pela diretora do DVD-documentário “Gaby Amarantos – Live In Jurunas”, Priscilla Brasil. que ocorreria naquele mesmo dia, mais tarde, em frente à sua casa, na Rua Nova II, também situada no bairro. Em meio a olhares curiosos, ouvia-se o barulho dos fogos de artifício que um amigo de Gaby – e possivelmente membro de sua equipe – soltava de cima do caminhão som. Este episódio marca o início da história que iremos nos ocupar em contar a partir de agora.
Antes de começarmos, devemos pontuar algumas questões para elucidar os leitores. Embora neste ensaio acadêmico estejamos tratando de uma obra audiovisual, o debate teórico-metodológico não girará em torno de questões mercadológicas, de recepção e consumo, muito menos de técnicas de produção e afins. Também não nos ocuparemos especificamente da biografia da artista que protagoniza o show. O que pretendemos, ao nos debruçarmos sobre a obra “Gaby Amarantos – Live In Jurunas” é apresentar uma espécie de “making of descritivo”. Entendendo a cantora Gaby Amarantos como uma artista de tecnobrega, periférica e afrodiaspórica2Segundo a própria artista, sua descendência é oriunda de ribeirinhos e de negros escravizados por parte de pai e de portugueses por parte de mãe. Em: Gaby Amarantos – Tpm (uol.com.br) acesso em 01/11/2022., nos ocuparemos de narrar os bastidores da gravação da obra, atentando-nos principalmente a três pilares centrais que a atravessam: 1) o tecnobrega, como manifestação da cultura popular paraense; 2) a rede de solidariedade entre os moradores da Rua Nova II que tornou possível a realização do show e seu registro; e 3) o sentimento de pertencimento do espaço cotidiano e do espaço construído no bairro do Jurunas.
Refletindo acerca das abordagens que pretendemos realizar, durante a pesquisa, foram consultadas dois tipos de fontes, sendo elas fontes escritas e uma oral. Como fontes escritas foram utilizadas notícias veiculadas por jornais e revistas online sobre o lançamento do DVD-documentário, além de matérias que tratavam sobre a carreira da cantora Gaby Amarantos no contexto de expansão do seu trabalho (anos de 2012 e 2013). Como fonte oral, foi utilizada uma entrevista realizada com a cineasta Priscilla Brasil3Entrevista realizada em 31/10/2022. Priscilla Brasil (1978) nasceu em Belém, formou-se em Arquitetura e atualmente é doutoranda em pós-colonialismos pela Universidade de Coimbra, porém, há anos tem o cinema como principal ofício. Dirigiu e produziu importantes documentários como “Filhas de Chiquita” (2006) e “Brega S/A” (2009). No ramo do audiovisual, dirigiu clipes para artistas como Curumin e a banda Madame Saatan., diretora e idealizadora do DVD-documentário e que, à época, era empresária de Gaby. Além destas fontes, no corpus do texto foram anexados alguns registros fotográficos que auxiliarão os leitores a se imergirem no ambiente da obra que será descrita e analisada.
Servindo como auxílio para o trato com as fontes, foi selecionada uma literatura que transita por diversas áreas das ciências humanas. Desta forma, para conceituar o tecnobrega como uma manifestação integrante da cultura popular paraense, nos utilizaremos de obras escritas pelo teórico jamaicano Stuart Hall (2003); sobre os laços de solidariedade que tornaram a realização da obra possível, nos utilizaremos do conceito de coletividade periférica, encontrado na obra do sociólogo Leonardo Fontes (2022); sobre o sentimento de pertencimento de espaço, utilizaremos os conceitos de “espaço situado” e “espaço construído” encontrados na obra do antropólogo argentino Javier Ayuero (2005); e, por fim, para tratar sobre a estética do DVD-documentário, será empregado o conceito de sample extraído dos estudos do comunicólogo Marcelo Conter (2014) no intuito de justificar a ressignificação de alguns elementos artísticos dentro da obra.
O trabalho está dividido em três tópicos que intitulamos metaforicamente de Take’s4Aqui, fazemos alusão ao termo específico utilizado no cinema que representa tudo que a câmera registra, desde o momento em que é ligada até o momento em que é desligada. . No “Take 1: o projeto” trataremos de apresentar aos leitores a idealização do DVD-documentário5A obra é considera um DVD-documentário devido à forma como foi concebida, mesclando imagens do show com imagens do cotidiano de Gaby em sua residência., frisando principalmente nas intenções que a diretora Priscilla Brasil teve ao elaborar o projeto, a partir de falas extraídas da entrevista já citada anteriormente. No “Take 2: a montagem” nosso olhar se volta para a montagem da estrutura do show e principalmente para a rede de solidariedade existente na Rua Nova II naquele contexto, que tornou possível a realização, o registro e a fruição do público durante a gravação da obra. Neste tópico, cruzam-se as falas da diretora Priscilla Brasil com matérias de jornais e revistas que se ocuparam em noticiar algumas dificuldades que foram encontradas durante a montagem do show. No “Take 3: o filme” finalmente nos debruçaremos sobre a questão estética da obra, assim como sobre a transformação ocorrida na Rua Nova II no dia do show. Por fim, o tópico reservado para as considerações finais onde constam os resultados da pesquisa será intitulado como “Sobem os créditos (e cena pós-créditos)”.
Take 1: o projeto
O ano de 2011 ficou marcado como um período de transição na carreira da cantora belenense de tecnobrega Gabriela Amaral dos Santos, mais conhecida como Gaby Amarantos6Gabriela Amaral dos Santos (1978) nasceu em Belém, e residiu boa parte de sua vida no bairro periférico do Jurunas. Sua carreira musical tem início no próprio bairro, cantando em paróquias de igrejas. Passou a cantar em bares com a Banda Chibantes até que no ano de 2002 fundou a banda de tecnobrega TecnoShow. Após longa trajetória, no ano de 2010, parte para carreira solo que desemboca em sua projeção a nível nacional. Ficou conhecida em certo período como a “Beyoncé do Pará”, devido a uma performance feita com a música “Single Ladies”. Ganhou importantes prêmios da música brasileira, com destaque para o VMB da MTV no ano de 2012. DIAS, Eduardo. “Eu vou samplear, eu vou te roubar”: cena, mercado e música do tecnobrega no videoclipe Xirley. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. XXXV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Fortaleza, CE – 03 a 07/09/2012.. Após deixar a banda TecnoShow, Gaby passou a trilhar um novo caminho musical e estético. Das trocas feitas a partir de seu encontro com a cineasta Priscilla Brasil, amizade esta que teve início ao longo dos anos 20007Além de amigas, Priscilla tornou-se empresária de Gaby entre os anos (2011, 2012 e 2013)., teve origem à ideia da produção de três obras da cantora que devem ser entendidas em conjunto e de forma alguma devem ser dissipadas (logo entenderemos por que): o videoclipe “Xirley” (2011), o disco “Treme” (2012) e o DVD-documentário “Gaby Amarantos – Live In Jurunas” (2013), sendo este último objeto de análise da nossa pesquisa.
Embora tenha sido a última obra a ser lançada dentre as três citadas, o DVD-documentário foi o primeiro a ser filmado, no dia 27 de fevereiro de 2011, dando início a um projeto de exportação da cultura do tecnobrega para além das fronteiras do Estado do Pará. Antes de adentrarmos aos detalhes que compuseram o projeto do DVD-documentário “Live In Jurunas”, é preciso explicitar a óptica pela qual enxergamos o tecnobrega. O tecnobrega enquanto gênero musical surgiu entre os anos 1999 e 2000, nas periferias da cidade de Belém, sendo constituído por uma fusão entre o “brega padrão” e elementos eletrônicos do teclado e da mesa de som8COSTA, Antônio Maurício Dias da. Festa na Cidade: o circuito bregueiro de Belém do Pará. P.49. Belém: EDUEPA, 2ª ed. 2009.. Desta forma, a produção da música tecnobrega passou a ocorrer de forma caseira dentro dos bairros periféricos de Belém, principalmente através da gravação de músicas estrangeiras transformadas pelas batidas do tecnobrega em CD’s piratas, que movimentaram a cena do brega paraense por um longo período9Ibidem. É importante frisar que a própria Gaby Amarantos fez parte do processo de expansão do tecnobrega sendo uma grande versionista de canções internacionais que foram transformadas pela batida do brega.. Em resumo, o tecnobrega pode ser entendido como uma manifestação da cultura popular paraense, devido às relações que o colocam como um elemento da cultura popular em tensão contínua (de relacionamento, influência e antagonismo) com a cultura dominante10O conceito de cultura popular aplicado para analisar o tecnobrega foi extraído da obra do autor jamaicano Stuar Hall. Para mais, ver: HALL, Stuart. Notas sobre a desconstrução do popular. In: Da Diáspora: identidade e mediações culturais. Org. Liv Sovik. Belo Horizonte: Editora UFMG, Brasil, 2003..
O “Live In Jurunas” aparentemente foi idealizado, projetado e concebido como um produto de exportação e de enfrentamento contra a invisibilidade e a marginalização da estética e da sonoridade do gênero musical tecnobrega pelo Brasil afora. Imersa no universo do tecnobrega desde sua colaboração no documentário Brega S/A (2009)11Documentário dirigido por Gustavo Godinho e Vladimir Cunha. Priscilla Brasil aparece como produtora executiva. Sinopse: “Gravado entre os anos de 2006 e 2008, com recursos próprios e sem o auxílio de leis de incentivo e renúncia fiscal, o documentário Brega S/A fala sobre a cena tecnobrega de Belém do Pará. Feito por artistas pobres, gravado em estúdios de fundo de quintal e com relações profundas com a pirataria e a informalidade, o tecnobrega é a trilha sonora da periferia da cidade, uma espécie de adaptação digital da música romântica dos anos 70 e 80”. O documentário pode ser assistido aqui., Priscilla Brasil enxergava a necessidade de produzir uma obra que desse conta de apresentar outros cenários que eram compostos pelo gênero musical:
“Depois do Brega S/A eu queria fazer outras tentativas de me expressar sobre aquilo que eu via que eram diferentes do documentário. Eu achava que o documentário já “tava” bem feito, bem organizado e… já dava “pra” compreender o que era aquele fenômeno mas… é… faltavam outros tipos de peças, faltava uma peça que entendesse o que era… o que que era o espaço do tecnobrega durante um show, por exemplo, e como as pessoas se comportavam durante esse show, como elas dançavam durante esse show… e… principalmente o que acontecia fora do palco, sabe?! como era a rua dessas pessoas, como era que… eu achei que era importante entender como funcionava um show do início até o fim. E o Live In Jurunas foi isso.” (Priscilla Brasil, em entrevista realizada no dia 31/10/2022).
Segundo Priscilla, a ideia de ver a cantora Gaby Amarantos performando e cantando em um pequeno palco em frente à sua própria casa, situada no Jurunas, não era algo novo para elas. Após assistir o DVD intitulado “Arnaldo Antunes – Ao Vivo Lá em Casa12O cantor Arnaldo Antunes fez da sua própria casa o palco para a gravação de um DVD ao vivo. O audiovisual pode ser assistido aqui.” (2010), a inquietude em tornar o projeto real aumentou. A ideia foi compartilhada com Gaby via telefone, contou a cineasta. Algum tempo depois, chegava à Belém o cineasta francês e amigo de Priscilla, Vicent Moon13Vicent Moon (1979) é um cineasta independente francês que colaborou com a direção do “Live In Jurunas” junto à Priscilla Brasil. Na cena do audiovisual brasileiro, além de Gaby Amarantos assinou trabalhos para artistas como Ney Matogrosso, Elza Soares e Tom Zé., para quem ela também externou a ideia, em forma de convite para auxiliá-la na produção do audiovisual que acabara por se realizar um tempo depois.

Cenário do DVD “Arnaldo Antunes – Ao Vivo Lá em Casa”, inspiração para o “Live In Jurunas” de Gaby Amarantos. Foto: Divulgação.

Cenário montado em frente à casa da Gaby Amarantos para a gravação do DVD-documentário “Live In Jurunas”. Foto: Arquivo pessoal de Priscilla Brasil.
Torna-se, então, consistente o argumento levantado anteriormente de que as três obras (“Xirley”, “Treme” e “Live In Jurunas”) não devem ser dissociadas e sim analisadas e compreendidas em paralelo, pois fazem parte de uma construção artística contínua idealizada pela dupla Gaby e Priscilla. Antes de adentrar aos próximos takes, faz-se necessário explicitar quais eram as aspirações da cineasta Priscilla Brasil ao entregar essas obras ao público:
“(…) elas [as obras da Gaby] eram parte de uma coisa só: de uma tentativa da gente exportar de uma vez um produto tecnobrega que fosse entendido pelo Brasil… sabe?! Entendido numa complexidade estética, entendeu?! Que eu acho que o tecnobrega tem e que ficava tão mal posta sempre… (…) que encontrava tão pouco espaço, encontrava um espaço tão apenas periférico enquanto eu achava que ele precisava ter uma centralidade… e… encontrando, sabe?! Formas de… na verdade, é… tudo isso era pensado como se fosse uma grande “bomba” junta, entendeu?! Uma “coisa” muito forte junta que pudesse ultrapassar os muros que estavam impostos “pra” música de periferia (…) porque a música de periferia ela é colocada em determinados palcos fora da TV e a estética dela é mantida a parte, sempre (…) então a gente tentou organizar tudo junto: capa de disco, “Live” [In Jurunas], clipe, tudo junto “pra” que aquilo pudesse ter força suficiente “pra” chamar atenção e que aquilo fosse considerado artisticamente relevante (Priscilla Brasil, em entrevista realizada no dia 31/10/2022).
O projeto de Gaby e Priscilla, aparentemente, ganhou mais força quando Vicent Moon foi incluído à equipe. Juntos, os três conseguiriam tornar reais as aspirações que a cantora e a cineasta haviam idealizado. Porém, sem outros agentes o sonho do “Live In Jurunas” não seria possível. São estas faces anônimas que compunham a vizinhança da Gaby que entram em cena agora, deixando mais explícito como foi possível tudo acontecer.
Take 2: a montagem
Entre teoria e prática há um grande abismo. Sendo assim, podemos tentar mensurar as dificuldades que foram encontradas pelo trio (Gaby, Priscilla e Vicent) ao darem início ao projeto independente de gravação do “Live In Jurunas”. A ideia de montar uma estrutura, ainda que mínima, com um pequeno palco, em frente à casa da Gaby e literalmente no meio da Rua Nova II parecia uma dificuldade quando foi exposta para pessoas do ciclo de Priscilla devido à imagem estigmatizada que foi construída historicamente sobre o bairro do Jurunas como uma zona de periferia e muito perigosa dentro da cidade de Belém:
“É um lugar [a Rua Nova II] que as pessoas têm um enorme preconceito… às pessoas acham que nada dá pra fazer na periferia de verdade, entendeu?! Às pessoas falavam que eu colocar um palco de 60 centímetros, né, um palco pequeninho… que ia morrer gente, que ia acabar com tudo, que ia chegar gente atirando… várias coisas que nunca aconteceram…” (Priscilla Brasil em entrevista realiza no dia 31/10/2011).
Dessa forma, surge o questionamento: de que forma se tornou possível concretizar a montagem da estrutura do show em frente à casa de Gaby? Pesquisando notícias de jornais e revistas que foram veiculadas durante o período de lançamento14O lançamento do “Live In Jurunas” ocorreu no mesmo local de sua gravação, em frente à casa de Gaby, na Rua Nova II, no dia 23/03/2013. Foi promovido um evento de lançamento da obra, porém, isso será narrado em futuros trabalhos. do DVD-documentário que, majoritariamente, se preocuparam apenas em apresentar a obra, nos deparamos com uma matéria online escrita pela jornalista Luana Laboissiere, publicada pelo site G1 Pará, em 24/03/2013, um dia após o lançamento oficial do “Live”. Na matéria, a jornalista ocupou-se em apresentar a trajetória de construção da obra, desde o dia de sua gravação, até o dia do lançamento, entrevistando pessoas que estavam presentes em ambos os eventos (gravação, em 2011 e lançamento, em 2013), devido residirem no local. Algumas informações coletadas pela jornalista após a entrevista chamaram nossa atenção:
“A colaboração dos moradores, aliás, foi importante para a realização do vídeo, que contou com o orçamento de R$ 800,00 e muitas mãos dispostas a ajudar, como as da dupla de merendeiras de uma escola pública que cozinhou a feijoada que alimentou a equipe durante as gravações, como também dos homens que providenciaram uma ligação irregular do poste de energia elétrica para iluminar o palco, o popular “gato”, após a produção solicitar os serviços da companhia de energia, que não compareceu15G1 – Gaby Amarantos lança ‘Live in Jurunas’ em Belém – notícias em Pará (globo.com). Sobre a ausência da equipe de concessão de energia elétrica no local, Priscilla Brasil relatou: “Eles não ligaram a luz porque eles disseram que não iriam ligar a luz em um lugar que eles não podiam “entrar”, era nesse nível o preconceito”.”.
No depoimento da jornalista o que chama atenção são as relações entre a vizinhança constituídas no cotidiano da Rua Nova II, que acabaram por gerar um sentimento de coletividade, formando redes de solidariedade no local. Aparentemente, devido a condições sociais de extrema pobreza somadas à negligência do Estado, é comum que se construam estes laços de ação comunitária nas periferias brasileiras. Em estudo sobre estes tipos de formações de redes comunitárias nas periferias de São Paulo, o autor Leonardo Fontes (2022) relata práticas que também podem ser encontradas na Rua Nova II, na periferia de Belém:
“Para os moradores das periferias brasileiras, seus bairros significam o lugar onde estão fincadas suas raízes, onde foram construídas suas casas, onde participaram da modificação da paisagem e onde a reinvindicação política trouxe frutos, no sentido de produzir melhorias para todos. A vida na periferia é repleta de encontros fortuitos e também de relações que são construídas nesses encontros, na Igreja, nas festas locais. A sensação de pertencimento é construída nesse processo (…) a imagem externa da periferia como lugar de pessoas pobres ou como território em que a violência predomina é contraposta internamente à de um espaço de pessoas que se gostam, que se ajudam, são trabalhadoras (…)16FONTES, Leonardo Oliveira de. Histórias de quem quer fugir e de quem quer ficar: laços comunitários nas cambiantes periferias de São Paulo. Revista Brasileira de Ciências Sociais. Vol. 37 nº 109. E3710902 2022.”.
Quando questionada sobre as redes comunitárias existentes na Rua Nova II, e sobre de que forma tais laços de solidariedade entre vizinhos contribuíram para a montagem da estrutura do show e de sua realização, Priscilla relatou:
“A gente pediu autorização “pra” todas as casas. A Rua Nova II é uma rua absolutamente cultural, é aonde ocorre talvez a maior festa junina daquela parte do Jurunas e ela ocorre na rua porque é tradicional que aquela rua pare e… e… e que as pessoas… as pessoas estão acostumadas com isso também, com eventos acontecendo naquela rua. Ela é uma rua que tem uma natureza cultural e uma importância cultural dentro daquele bairro (…) essa solidariedade, essa organização, ela já existe lá, eu não precisei criá-la, a organização comunitária para que se faça um evento. Vários eventos ocorrem naquela rua, todo ano. Essa rua tem vida e ela tem vida cultural, então era algo natural para aquelas pessoas (…) é apenas dar um “start” para uma cadeia… para uma cultura que já existe… ela só é invisível “pra” quem não mora lá, ela só é invisível “pra” quem mora no centro, que não consegue entender o que é aquilo ali. Então, quando eu propus parecia uma coisa muito maluca, uma coisa impossível, uma insanidade… só que como eu era amiga da Gaby já há muito tempo quando isso aconteceu, a gente já era amiga há muito tempo, e eu frequentava muito a casa dela e eu conhecia as características todas dessa rua porque eu ia “nos” eventos, eu ia com ela nos eventos que tinham lá e eu adorava todos esses eventos (…) então “pra” mim era uma coisa natural querer fazer isso lá, era uma característica da própria rua (…) era isso que eu queria, quando eu fiz o “Live In Jurunas” eu queria apresentar a Rua Nova II como um espaço de cultura.” (Priscilla Brasil em entrevista concedida em 31/10/2022).

Montagem do cenário para a gravação do DVD-documentário “Gaby Amarantos – Live In Jurunas”. Foto: Nayara Jinkinss / Arquivo pessoal de Priscilla Brasil.
O que ficou explícito após apurarmos as fontes é que a Rua Nova II, em sua existência, já era um palco armado para manifestações culturais ocorrerem. Em datas pontuais ela (a rua) apenas se enfeitava para que os espectadores que ali residiam e também visitavam a admirassem mais. Entre festejos, encontros e despedidas, foi ali gerada uma rede comunitária de laços de solidariedade entre pessoas que comumente passam despercebidas em narrativas que são construídas de forma míope. Porém, no DVD-documentário “Live In Jurunas”, tais agentes aparecem como partícipes em todas as fases do processo de criação da obra, saindo de trás das cortinas e roubando a cena no palco principal. Auxiliando desde a montagem como mão de obra, os moradores da rua também foram responsáveis por compor o público que fruiu do show apresentando por Gaby.
Take 3: o filme
“Eu vou samplear, eu vou te roubar!”
(Trecho da música “Xirley” do compositor e músico pernambucano Zé Cafofinho, gravada por Gaby Amarantos no disco “Treme”).
A primeira cena do DVD-documentário “Gaby Amarantos – Live In Jurunas” apresenta aos espectadores Gabriela dentro de sua casa, lavando roupas, reflexiva, olhando o bairro do Jurunas através de uma janela. Segundos depois, eclode o áudio de uma voz potente entoando o “Canto das Três Raças”17Canção escrita por Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, que fez sucesso cantada pela sambista Clara Nunes.. Em cena, com outra indumentária, pronta para o show, surge Gaby Amarantos, detentora da voz, que segue entoando a música enquanto dirige-se para a escada de sua casa que dá acesso à rua. Produzida para o evento, a Rua Nova II agora era palco para um show de tecnobrega que tinha como protagonista a artista que ali sempre residiu, tendo como público seus fãs, amigos e vizinhos que compõem o seu cotidiano.

Gaby Amarantos inicia o show da escada de sua casa. Foto: Nayara Jinkinss / Arquivo pessoal de Priscilla Brasil.
Antes de nos ocuparmos em narrar os bastidores da gravação em si, é importante enfatizar a transformação ocorrida no espaço da Rua Nova II após a montagem da estrutura para o show. A partir do momento em que um espaço é ocupado no intuito de realizar algum festejo ou evento, é possível observar que há uma transformação nas estruturas e nas relações sociais ali vivenciadas (AUYERO, 2005, 126). Desta forma, no dia de gravação do DVD-documentário em frente à casa de Gaby, podemos considerar que a dinâmica da Rua Nova II transformou-se de “espaço situado” em “espaço construído”. Segundo o antropólogo argentino Javier Ayuero (2005), o “espaço situado” é caracterizado como:
“parte de um tecido de relações sociais contínuas cujas modalidades repercutem nos fenômenos sociais (…) ali acontecem às idas e vindas uns dos outros e os dramas da vida cotidiana: nada passa despercebido, tudo é conhecido, comentado e às vezes também distorcido. Mais do que em qualquer outro lugar, as pessoas são constantemente colocadas em contato e compartilham as mesmas queixas e dificuldades da vida cotidiana18AUYERO, Javier. O espaço das lutas. Topografia das mobilizações coletivas. Proceedings of Social Science Research. 2005/5, nº 160.”.
Porém, embora o público do show que daria vida ao DVD-documentário fosse composto majoritariamente por vizinhos e rostos conhecidos de Gaby Amarantos, o evento acabou dando outra face à Rua Nova II e a própria Gaby. Em dado momento a relação “Gabriela-vizinhos” altera-se para a relação “Gaby Amarantos-público”. Tem-se então a construção de um novo espaço, mesmo que por tempo limitado, assim como a formação de novas relações e até mesmo conflitos neste “espaço construído” que é comum à todos e todas ali inseridos, mas que pode se modificar a partir da ocorrência de festejos, reuniões e, no caso da Rua Nova II, a gravação de um show. Para o autor Javier Ayuero (2005), o “espaço construído” permite, bem como limita, a “copresença” necessária para a ação coletiva. O espaço é constrangedor no sentido em que impõe os seus próprios limites físicos, mas abre um campo de possibilidades de ação a quem o conhece para aí se fixar permanentemente. Aplicando o conceito ao show que se tornou o DVD-documentário “Live In Jurunas”, pode-se argumentar que ao escolher a própria rua como palco, Gaby e sua equipe acabaram por reforçar o sentimento, tanto na artista, quanto no público de pertencimento do espaço à Rua Nova II e ao bairro do Jurunas.
Porém, embora o público do show que daria vida ao DVD-documentário fosse composto majoritariamente por vizinhos e rostos conhecidos de Gaby Amarantos, o evento acabou dando outra face à Rua Nova II e a própria Gaby. Em dado momento a relação “Gabriela-vizinhos” altera-se para a relação “Gaby Amarantos-público”. Tem-se então a construção de um novo espaço, mesmo que por tempo limitado, assim como a formação de novas relações e até mesmo conflitos neste “espaço construído” que é comum à todos e todas ali inseridos, mas que pode se modificar a partir da ocorrência de festejos, reuniões e, no caso da Rua Nova II, a gravação de um show. Para o autor Javier Ayuero (2005), o “espaço construído” permite, bem como limita, a “copresença” necessária para a ação coletiva. O espaço é constrangedor no sentido em que impõe os seus próprios limites físicos, mas abre um campo de possibilidades de ação a quem o conhece para aí se fixar permanentemente. Aplicando o conceito ao show que se tornou o DVD-documentário “Live In Jurunas”, pode-se argumentar que ao escolher a própria rua como palco, Gaby e sua equipe acabaram por reforçar o sentimento, tanto na artista, quanto no público de pertencimento do espaço à Rua Nova II e ao bairro do Jurunas.

O Show. Foto: Arquivo pessoal de Priscilla Brasil.
Em pouco mais de 30 minutos de show, o público, durante a gravação pôde contemplar o projeto idealizado por Gaby Amarantos e Priscilla Brasil tornando-se realidade. O show abria os caminhos para as produções de Gaby e Priscilla que viriam a posteriori. O repertório foi composto por sete faixas19Segue o repertório: 1 – Faz o T; 2 – Todo Poderoso Rubi; 3 – Beba Doida; 4 – Merengue Latino; 5 – Chuva; 6 – Galera da Laje; e 7 – Pa-Panamericano (versão tecnobrega). que se misturavam entre tecnobregas e outros gêneros musicais regionais (caso da música “Merengue Latino”, escrita pelo compositor paraense Ronaldo Silva), sendo boa parte destas músicas gravadas mais tarde no álbum “Treme” (2012). Durante a filmagem, nota-se que as câmeras transitavam por entre o público e pela rua, muito possivelmente no intuito de mostrar a proximidade entre a artista Gaby Amarantos e seus fãs. Além disso, nota-se o esforço dos diretores em focalizar grande parte dos closes em rostos anônimos, dando um caráter social e documental ao filme.

Vicent Moon e Priscilla Brasil, os olhos por trás das câmeras do “Live In Jurunas”. Foto: Arquivo pessoal de Priscilla Brasil.
Algo que também chama atenção na obra é sua capa. Embora o DVD-documentário não tenha sido comercializado20A obra não pôde ser comercializada devido a direitos autorais, problema comum para os artistas de tecnobrega, que utilizam a pirataria como manobra para divulgação de seus trabalhos., foi produzida uma arte de capa para estampar seu lançamento na internet. O curioso é que ao invés de produzir algo original, a capa confeccionada para o “Live In Jurunas” é a ressignificação de um famoso cartaz do cinema brasileiro produzido pelo artista visual Rogério Duarte21Rogério Duarte (1939-2016) foi um designer e ilustrador brasileiro que tomou notoriedade ao produzir trabalhos voltados as artes visuais para artistas do Movimento Tropicalista. para o filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964) do cineasta Gláuber Rocha22Glauber Rocha (1939-1981) foi um cineasta brasileiro, expoente do movimento que ficou conhecido como Cinema Novo..

Cartaz do filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964). Foto: Produções Cinematográficas Herbert Richers S.A. / Copacabana Filmes.

Capa DVD-documentário “Gaby Amarantos – Live in Jurunas”. Foto: Equipe Gaby Amarantos.
Durante a pesquisa, no processo de levantamento de fontes, em uma publicação feita por Gaby Amarantos na rede social Instagram, que estampava a capa do “Live In Jurunas”, nos deparamos com um comentário de Priscilla Brasil que dizia: “Poster sampleado, porque a gente sampleia homenageando! Haha 😊”23Comentário feito em 21/03/2013 na postagem de divulgação do lançamento do DVD no Instagram de Gaby Amarantos. Quando questionada sobre o conceito da capa, Priscilla respondeu:
“Tudo que a gente podia samplear, a gente… eu achava que isso era fundamental “pra” que o tecnobrega conseguisse ser compreendido. Pra que a essência fosse obtida da coisa, a gente precisava samplear as coisas, ou seja, precisa “roubar” as coisas (…) o tecnobrega é feito a partir de uma visão de direitos autorais muito própria, tipo assim: “as coisas estão no mundo e eu vou me apropriar do que eu quero”. E isso eu acho sensacional, sinceramente (…) na minha leitura é “fod@-se o Capitalismo, isso aqui tá aqui e eu vou pegar e vou me apropriar disso e vou fazer minha arte em cima disso” (…) e eu acho que isso é a essência e a coisa mais maravilhosa do tecnobrega, entendeu?! essa liberdade que… que se tem apesar de todas as indústrias malucas culturais e artísticas obrigarem uma outra “coisa” (…) então tudo que viesse como “roubo” ou apropriação “pra” mim interessava (…) quando a ideia veio de fazer uma apropriação do Glauber (…) foi muito importante que essa ideia da pirataria aparecesse, que é fundamental dentro do tecnobrega, essa ideia de apropriação de algo de outrem “pra” remodelar ou “pra” se expressar em cima disso e essa apropriação fosse trazida pra essa peça que “tava” sendo construída sobre essa temática, isso trazia uma verdade que sem isso não teria… isso era muito importante pra mim.” (Priscilla Brasil em entrevista realizada em 31/10/2022).
No depoimento, fica nítida a influência do conceito de sample utilizada por Priscilla na construção da estética visual nas obras de Gaby Amarantos, sendo aqui, especialmente tratada a capa do “Live In Jurunas”. Prática oriunda do movimento Hip Hop, os samples são entendidos como amostras de som retiradas de vinis, programas de rádio, TV, videogames, dentre tantas outras fontes sonoras, sincronizadas de modo a compor a trilha de fundo, a base musical e rítmica sobre a qual os rappers irão cantar e desenvolver os versos e as rimas de suas canções. Nesse sentido, o autor Marcelo Conter (2014)24CONTER, Marcelo. Sampleamento de imagens sonoras em Fear of a Black Planet. Resonancias vol. 19, n°35, julio-noviembre 2014, pp. 47-60. argumenta que a técnica do sam-pling estabelece um “curioso território de ressignificação”. Embora no repertório musical do “Live In Jurunas” não apareçam os samples25A apresentação contou com uma banda orgânica composta pelos músicos Felix Robatto, SM Negrão, Diego Pires, Gleidson Freitas, Benny Jonnhy e Adriano Sousa., a Priscilla Brasil aparentemente ressignificou seu uso, sampleando a estética de outras obras audiovisuais que serviram de roupagem estética para o “Live In Jurunas”.
Sobem os créditos + cena pós créditos
Na tessitura do presente ensaio acadêmico nos ocupamos de narrar os bastidores da gravação do DVD-Documentário “Gaby Amarantos – Live In Jurunas” em uma espécie de “making of descritivo”. Utilizando como fontes matérias encontradas em jornais e revistas virtuais, somadas a uma entrevista realizada com a cineasta Priscilla Brasil, pudemos apresentar aos leitores o pari passu desde a idealização do projeto envolvendo o show até a gravação da obra analisada.
Entendendo o tecnobrega como uma manifestação cultural popular das periferias paraenses, antes de analisar os bastidores da obra, focalizamos nossas lentes de pesquisa sobre a Rua Nova II, apresentando-a como um espaço cultural onde laços comunitários são construídos cotidianamente, tornando possível a realização de eventos comunitários no local. Além disso, na ocorrência de eventos como o show que deu origem ao “Live In Jurunas”, verificamos que há a transformação do espaço, gerando nos moradores da rua e do bairro um sentimento de pertencimento de espaço que pode ser visualizado durante a gravação do show.
É importante sinalizar que este trabalho inaugura a discussão sobre esta obra da artista Gaby Amarantos, visto que ainda não tinham sido realizadas produções acadêmicas que abordassem o DVD-documentário, embora haja outros estudos que se debruçaram sobre a biografia e principalmente sobre a estética da cantora. Sendo assim, a partir da discussão proposta neste texto, o que propomos como cena pós créditos é justamente a possibilidade de novas pesquisas e análises da obra. Existem inúmeras possibilidades de preencher as lacunas que ficaram abertas dentro deste ensaio, assim como de condensar e abranger a discussão aqui levantada. Entrevistar outros tipos de agentes que foram partícipes do processo de montagem e fruição do show é um contraponto importante para enriquecer os estudos sobre o “Live”, assim como ouvir outros agentes que trabalharam na produção como assistentes de fotografia, assistentes de som, como músicos, entre outros. Seria importante se debruçar também sobre o evento de lançamento do DVD-documentário que ocorreu mais de dois anos depois na mesma Rua Nova II, tendo Gaby Amarantos vivendo uma outra fase como artista.
Embora não seja comum entre os historiadores a produção de ensaios como este que foi apresentado, tentou-se, ousadamente, em meio aos sons das batidas do tecnobrega de Gaby Amarantos e o encantamento visual por suas roupas de led, contar a história por trás de uma produção audiovisual que se tornou única dentro do cenário musical brasileiro devido a maneira que foi produzida. Por fim, ficou nítido que basta ter bons ouvidos e bons olhos para ouvir e ver os sons das batidas e as cores das luzes do tecnobrega paraense.
Referências
Gabriel Borges Souza é discente do curso de Mestrado Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia (PPHIST) da Universidade Federal do Pará (UFPA). Graduado em Licenciatura em História pela Universidade da Amazônia (UNAMA) e Pós-Graduado em Africanidades e Cultura Afrobrasileira pela Universidade Pitágoras Unopar Anhanguera.
Revisão: Glauce Monteiro
Montagem da Página: Alice Palmeira
Direção: Marcos Colón