Composto de bactéria amazônica pode inibir células de câncer de mama

Estudo identifica potenciais farmacêuticos em composto químico produzido por bactérias em solo de área de mineração

Estudo identifica potenciais farmacêuticos em composto químico produzido por bactéria amazônica em solo de área de mineração
Foto: Freepik
Estudo identifica potenciais farmacêuticos em composto químico produzido por bactéria amazônica em solo de área de mineração

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RESUMO:

  • Pesquisa estudou o potencial farmacêutico da bactéria Pseudomonas aeruginosa, encontrada no solo de uma mina de bauxita no Pará;
  • Em testes de laboratório, o composto produzido pela bactéria foi capaz de inibir a atividade de vírus, bactérias e células de câncer de mama;
  • O estudo é um exemplo do grande potencial da microbiota pouco estudada da região amazônica.

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Estudo, realizado por pesquisadores do Instituto Tecnológico Vale (ITV), da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) e de instituições parceiras, descreve o potencial terapêutico de um composto químico produzido por bactérias encontradas no solo de uma área de mineração de bauxita em recuperação no Pará. O composto demonstrou propriedades viricidas, bactericidas e foi capaz de eliminar células cancerosas sem danificar células saudáveis, segundo narram os cientistas em artigo publicado nesta terça na revista Scientific Reports.

A pesquisa estudou o potencial farmacêutico de uma cepa da bactéria Pseudomonas aeruginosa, isolada do solo de uma mina de bauxita em processo de recuperação ambiental da região de Paragominas, no leste do Pará. O microrganismo produz um tipo de ramnolipídeo, um glicolipídio gerado por bactérias que demonstrou, nos testes, resultados promissores contra vírus e microrganismos patogênicos.

O estudo avaliou a toxicidade do composto em relação a três tipos de vírus (herpes simples, coronavírus murino e vírus sincicial respiratório), células de adenocarcinoma de mama metastático, diversas cepas bacterianas (Salmonella, E. coli, estafilococos) e fungos (Candida). Uma solução do composto, com uma concentração de 250 μg/mL, inibiu 97% da atividade viral em todos os tipos de vírus testados. Resultados semelhantes foram observados com uma solução de 50 μg/mL, por 15, 30 e 60 minutos, sugerindo que a eficácia viricida está relacionada ao tempo de exposição.

Para José Pires Bitencourt, do ITV e um dos autores do artigo, o composto “é uma substância que ajuda a bactéria a captar algum nutriente que seja interessante e ajuda na comunicação entre bactérias da mesma espécie”. Segundo ele, durante o estudo, todas as concentrações do composto diminuíram a viabilidade das células cancerígenas para menos de 50% em 72 horas, demonstrando um potencial antitumoral comparável aos níveis alcançados pela quimioterapia padrão.

Bitencourt explica que as condições ambientais do solo amazônico são propícias para compostos de interesse farmacêutico, como o estudado pela pesquisa. “Diferentes subespécies de bactérias encontradas em várias condições de solo produzem biossurfactantes, influenciadas por fatores como clima, evolução do solo, regime hídrico, interação com outros organismos e impacto humano”.

O pesquisador relata que não é possível afirmar que o composto de P.aeruginosa encontrada em um outro local ou período terá o mesmo potencial terapêutico. “Pode ser que daqui um ano a mesma bactéria, da mesma mina, tenha um conjunto de fatores diferentes e o composto não seja mais produzido”, diz Bitencourt. Para ele, isso aumenta a importância de incentivos para projetos que estudem a biodiversidade da região amazônica. “A microbiota da Amazônia é pouco estudada e nos impede de explorar a diversidade desses grupos, não apenas para uso médico, mas também para a agricultura e para a exploração mineral”, conclui o autor.

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