O Curupira

O Curupira, por Juan Carlos Galeano

O Curupira talvez seja o ser sobrenatural mais popular da Amazônia, relatado no Brasil há vários séculos. Considerado um ser transmorfo, o Curupira pode se transformar em pessoa ou animal para importunar ou castigar caçadores e malfeitores que destroem a floresta. Por muito tempo, exploradores e estrangeiros consideraram os contos sobre o Curupira, o Mapinguari, a Yakumama e muitos outros seres sobrenaturais da bacia amazônica como meras histórias para entretenimento. Para os povos indígenas, no entanto, contos sobre o Curupira não são apenas entretenimento. São narrativas orais que contém os conhecimentos científicos dos indígenas amazônicos; funcionam como instrumentos visionários, capazes de ensinar aos humanos o exercício da reciprocidade e comportamento adequado para com o mundo não humano. Enquanto narrativas simbólicas, também teorizam sobre a globalização e a aceleração das mudanças ambientais e as suas consequências para as florestas amazônicas, a humanidade e a Terra.

Curupira*

Com um pé olhando para frente e o outro para trás, o Curupira caminha
pela selva, cuidando dos animais e fazendo
trancinhas nas palmeiras jovens.

Os caçadores trazem muito tabaco para que o Curupira revele seus segredos.

O Curupira fuma o tabaco, e de sua fumaça formam-se
os caminhos onde aparecem animais, árvores e frutas.

Mas os homens não devem levar todos os animais, nem todas
as árvores e frutas.

O Curupira poderia soprar a fumaça para que desapareçam
os animais, árvores e frutas.

Soprar toda a sua fumaça para que desapareçam os caminhos.

Também poderia dizer aos animais seus segredos para caçar homens.

 

A tradução ao português é de Anibal Beça.
Juan Carlos Galeano é Ph.D. e professor na Divisão de Espanhol, Departamento de Línguas Modernas e Linguística na Universidade do Estado da Flórida (Florida State University, EUA). Nasceu na região amazônica da Colômbia, e  é autor de Baraja Inicial (poesia, 1986); Pollen and Rifles (1997), um livro sobre a poesia da violência;  Amazonia (poesia, 2003); Sobre las cosas (poesia, 2010);  Amazonia y otros poemas (poesia, 2011); e Historias del Viento (poesia, 2013). Ele ensina Poesia Latino Americana e Culturas da Bacia Amazônica na FSU. Contato: [email protected]
Ilustração de Adriano Gonçalves Feitosa, bacharel em Direito e mestrando em Sociedade e Cultura na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Especialista em Direito Público pela Universidade Estácio de Sá. Cartunista e pesquisador do Grupo de Estudos de Defesa e Análises Internacionais da Universidade Federal de Rondônia (UNIR). Advogado em Manaus/AM. Contato: [email protected]

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