O Curupira
O Curupira talvez seja o ser sobrenatural mais popular da Amazônia, relatado no Brasil há vários séculos. Considerado um ser transmorfo, o Curupira pode se transformar em pessoa ou animal para importunar ou castigar caçadores e malfeitores que destroem a floresta. Por muito tempo, exploradores e estrangeiros consideraram os contos sobre o Curupira, o Mapinguari, a Yakumama e muitos outros seres sobrenaturais da bacia amazônica como meras histórias para entretenimento. Para os povos indígenas, no entanto, contos sobre o Curupira não são apenas entretenimento. São narrativas orais que contém os conhecimentos científicos dos indígenas amazônicos; funcionam como instrumentos visionários, capazes de ensinar aos humanos o exercício da reciprocidade e comportamento adequado para com o mundo não humano. Enquanto narrativas simbólicas, também teorizam sobre a globalização e a aceleração das mudanças ambientais e as suas consequências para as florestas amazônicas, a humanidade e a Terra.
Curupira*
Com um pé olhando para frente e o outro para trás, o Curupira caminha
pela selva, cuidando dos animais e fazendo
trancinhas nas palmeiras jovens.
Os caçadores trazem muito tabaco para que o Curupira revele seus segredos.
O Curupira fuma o tabaco, e de sua fumaça formam-se
os caminhos onde aparecem animais, árvores e frutas.
Mas os homens não devem levar todos os animais, nem todas
as árvores e frutas.
O Curupira poderia soprar a fumaça para que desapareçam
os animais, árvores e frutas.
Soprar toda a sua fumaça para que desapareçam os caminhos.
Também poderia dizer aos animais seus segredos para caçar homens.