Amazônia em 5 minutos #04: a mensagem de Davi Kopenawa e a Covid-19 em Santarém
Olá! Neste quarto episódio do “Amazônia em Cinco Minutos”, podcast com os destaques semanais da Amazônia Latitude e publicações especializadas sobre o tema, ouça um trecho da entrevista exclusiva concedida pelo xamã Yanomami, Davi Kopenawa, durante o Colóquio “Amazônia: Violência Crescente e Tendências Preocupantes”, realizado no início do ano em Oxford, Inglaterra. Categórico, Davi alertou, ainda em janeiro, para os perigos da pandemia entre os povos indígenas da região. Você confere outra reflexão do líder aqui.
Saiba mais sobre a histórica e culturalmente diversa Santarém, uma das cidades mais antigas da Amazônia localizada no oeste paraense e que acaba de completar 359 anos. O município lida com números alarmantes de mortos e infectados pelo novo coronavírus.
Para amenizar a dor da existência em tempos especialmente difíceis, convidamos você a ouvir a produção artística da região e se influenciar positivamente com a dica da vez, vinda da aniversariante Santarém.
O podcast é mais uma frente da missão da Amazônia Latitude no debate crítico sobre a floresta e divulgar sua diversidade cultural, riqueza natural e dilemas. Clique aqui para ver outras edições.
Você pode ouvir diretamente pelo aqui no site, no player acima, ou buscar no seu tocador preferido! Episódios em Spotify, Deezer e Apple Podcasts.
Ouça, compartilhe e apoie nosso projeto! Veja a transcrição abaixo:
26 de Junho de 2020, está no ar o quarto episódio do “Amazônia em 5 minutos”, um programa para você atualizar-se nas pautas que fazem parte do contexto social, ambiental e humano da região, e que são destaque no site Amazônia Latitude. E como toda a semana temos uma dica musical, ao final do programa você vai conhecer um pouco de Cristina Caetano. Ela é cantora e compositora de Santarém, cidade que também está no foco do programa de hoje. Mas antes, temos uma mensagem de Davi Kopenawa, liderança dos Yanomami, que no começo deste ano já alertava sobre o perigo da pandemia e sobre o desmatamento que continuou aumentando.
Xamã e liderança yanomami, Davi Kopenawa, ainda no início de fevereiro deste ano, um pouco antes da pandemia chegar no Brasil, respondeu a seguinte pergunta, feita pelo jornalista Victor Pannington: “Quais os perigos para o seu povo na Amazônia agora?”. E a liderança indígena respondeu:
“O perigo está acontecendo faz é tempo. Hoje, agora, em 2020, está acontecendo. E acontecendo, continuam desmatando. O homem da cidade derruba a floresta, faz desmatamento e toca fogo. O fogo está queimando milhares de árvores pequenas, grandes, estão estragando tudo. E no Brasil já está aumentando o desmatamento pra plantar soja. E a doença está aumentando. A doença vai a qualquer lugar, qualquer mundo. Isso aí que é mais preocupante para nós. O homem capitalista, moderno, que não trabalha, só trabalha pra assinar papel, ele não tá preocupado, ele só quer se preocupar em arrancar ouro, madeira, soja. Então esse aí é o pensamento das autoridades, que está crescendo.”
Davi Kopenawa Yanomami deu essa declaração durante o Colóquio Internacional “Amazônia: Violência Crescente e Tendências Preocupantes”, realizado no começo de 2020 na Universidade de Oxford, no Reino Unido, e organizado em parceria com o site Amazônia Latitude, Universidade de Cardiff e Universidade Estadual da Flórida. Além de Davi Kopenawa, o evento teve a participação de outras lideranças indígenas, como Raoni, Dario Kopenawa e Joênia Wapichana, e também cineastas, artistas e pesquisadores dedicados às questões socioambientais da Amazônia. Na ocasião, o novo coronavírus já era notícia por conta dos casos na Ásia e começava a preocupar também lideranças nas florestas do Brasil, inclusive na Terra Indígena Yanomami, localizada em partes dos estados do Amazonas e Roraima, e onde vivem 26.780 pessoas do Povo Yanomami, e onde estimativas recentes apontam 20 mil garimpeiros infiltrados. O monitoramento na Terra Indígena, feito pela Rede Pró-Yanomami Ye’kwana, registrou, até 21 de junho, 5 mortes e 168 casos do novo coronavírus entre as comunidades Yanomami.
Desde março, com os primeiros casos do novo coronavírus, o acesso às comunidades indígenas está limitado, inclusive para agentes do governo e profissionais de atividades essenciais. Mas a medida não intimidou a invasão de garimpeiros. E a falta de políticas públicas específicas para os Yanomami ainda os tornam mais vulneráveis na pandemia. Além dessas e de outras informações sobre como os Yanomami estão lutando pela saúde das suas comunidades e em defesa dos seus territórios, você pode assistir ao vídeo com a fala completa de David Kopenawa, acessando o site amazonialatitude.com. Também no site Amazônia Latitude você encontra uma galeria de fotos que revela como Santarém, cidade de 300 mil habitantes, localizada no encontro dos rios Amazonas e Tapajós, foi afetada durante a pandemia. São treze imagens, registradas neste mês de junho pelo fotógrafo Bruno Erlan, que mostram como a Covid-19 alterou a rotina no meio urbano de Santarém.
Conhecida pela movimentação intensa e vibrante de suas ruas e principalmente, da orla fluvial, com seus mercados de peixes, barcos e redes coloridas, Santarém passa por um impasse entre a preocupação sanitária e a necessidade de subsistência. O município de Santarém tem boa parte da sua população vivendo nas zonas rurais, nas extensas regiões agroextrativistas, em aldeias indígenas, nas vilas balneárias, nos quilombos e nas comunidades ribeirinhas, que se relacionam constantemente com a cidade, onde está concentrado o comércio e os serviços. Santarém vem registrando índices alarmantes com relação ao novo coronavírus. Até 22 de maio eram 30 mortes pela covid-19 no município. Passado apenas um mês, houve um aumento de mais de 500% no número de óbitos. Até esta sexta-feira, Santarém registrou mais de duzentas mortes por covid-19. Mesmo assim, a pressão de setores da economia local levou o prefeito da cidade a flexibilizar o isolamento social, que já não era dos mais rigorosos.
No dia 22 de junho, o município completou 359 anos, contados a partir fundação da então “Aldeia dos Tapajós”, pelo Padre João Felipe Bettendorff no ano de 1661. Um século depois, por imposição colonialista, tem o nome trocado para Santarém, que é uma cidade portuguesa localizada à margem do Rio Tejo, na Europa. Em um outro sentido, o site Amazônia Latitude busca, nesse texto que acompanha as fotos de Santarém do Tapajós, valorizar o espírito indígena de aldear. Diz um trecho da matéria: “Em aldeia tudo se inicia, tudo deveria continuar e é onde estão as respostas para problemas ambientais, sociais e de saúde locais: em comunidade, cuidando uns dos outros, em mutualidade.”
Viva Santarém, Viva a grande cidade aldeia do Tapajós! Lugar de onde vem a dica musical desta semana. A cantora e compositora Cristina Caetano. Ela começou a cantar ainda na adolescência em bailes pelo interior do Pará. Em 2010 gravou seu primeiro CD em que interpreta músicas de Sebastião Tapajós. Já a música Batuque Mestiço, de autoria da própria Cristina Caetano, você ouve agora! E ao som de Louvação Amazônica, também de autoria dela, agradecemos ao nosso público pela audiência. Amazônia em 5 minutos é uma produção da Amazônia Latitude, com apresentação de Bob Barbosa. E com vocês, Cristina Caetano!