Belo Monte pelas lentes de Anderson Barbosa

Homem navega em uma canoa
Os problemas sociais e enchentes na ‘Invasão dos Padres’

‘Belo Monte pelas lentes de Anderson Barbosa’ é uma fotorreportagem em três partes que acompanha o trabalho do fotógrafo ao retratar Belo Monte. A primeira parte retrata o ritmo das águas que dita a vida dos povos da Amazônia e, durante o chamado “inverno amazônico” – que corresponde ao período de novembro a maio – revela a faceta mais clara da relação profunda dos ribeirinhos com a natureza. A água é elemento essencial da cultura dessas populações.

Por meio dos contrastes registrados pelo olhar humano do fotojornalista, vamos conhecer aquela que era uma das áreas mais populosas da Altamira (PA), a ‘Invasão dos Padres’, bairro composto por palafitas que antes submergia com a subida do rio no período de chuvas, mas hoje é uma vaga lembrança para as famílias que ali moravam. A vila foi completamente destruída pela barragem de Belo Monte. A área onde um dia existiu a comunidade foi transformada em um parque público pelo consórcio Norte Energia, que construiu e opera Belo Monte.

No inverno amazônico, as ruas localizadas entre os igarapés Altamira e Ambé ficavam alagadas, forçando moradores a construir pontes e passarelas de madeira para substituir as vias e ter acesso às casas.

A ‘Invasão dos Padres’ foi formada espontaneamente há vinte anos e ocupava uma área de propriedade da Igreja, mais precisamente uma área titulada em nome da Prelazia do Xingu desde 1934.

Nos dias atuais, os moradores foram removidos para Reassentamentos Urbanos Coletivos (RUC), construídos pela Norte Energia. No entanto, se antes os moradores podiam tirar seu sustento da pescaria já que viviam às margens do rio Xingu, hoje possuem dificuldades em obter sustento. O bairro fica distante do centro de Altamira.

Falta transporte, água, energia elétrica, as casas apresentam rachaduras, os moradores não têm saneamento básico e rede de tratamento de esgoto.

Em meio a tudo isso, os ribeirinhos precisam lidar com as rupturas das relações sociais e a crescente violência.

Um menino aponta o caminho para aquela que era a maior ocupação de palafitas de Altamira/PA. A comunidade era uma das que se encontravam na chamada margem de segurança, onde muitas famílias passaram pelo processo de cadastramento para receber indenizações.

Um menino atravessa uma ponte improvisada que liga várias casas submersas em água marrom

Milhares de povos tradicionais e indígenas foram forçados a abandonar suas moradias e o seu principal ganha pão: a pesca. Com os moradores da “Invasão dos Padres” não foi diferente. A construção da usina removeu, seja na área rural e dos municípios afetados pelas alagações, cerca de 10 mil famílias.


Em reportagens veiculadas na época, os moradores acusaram a Prefeitura de Altamira, a Defesa Civil e os Bombeiros de não prestarem assistência às famílias atingidas.

Devido às fortes enchentes, os moradores da comunidade se uniram para salvar o que era possível. Dados do Instituto Igarapé mostram que a cada minuto um brasileiro é forçado a deixar suas terras ou residências e, nos últimos 17 anos, mais de 7,7 milhões de pessoas foram deslocadas no país. As causas dos deslocamentos internos são muitas, entre as quais se destacam desastres e a construção de grandes obras, e esta última concentra ao menos 18% do total dos deslocados.


De acordo com o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), cerca de 70% dos atingidos por barragens não conseguem receber indenizações ou nenhum outro tipo de reparo à perda de direitos. Estima-se que no Brasil há mais de um milhão de desalojadas compulsoriamente por barragens.

Um relatório publicado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência reúne um conjunto de relatos coletados pelo grupo de pesquisa que assevera que as remoções foram consideradas injustas e traumáticas por grande parte dos entrevistados. Destacam-se situações arbitrárias como atear fogo nas casas com os pertences dos moradores, as indenizações em muitos casos não possibilitam a reconstrução daquilo que foi perdido e o deslocamento urbano que dificultou com que essas pessoas dessem continuidade ao seu sustento da atividade pesqueira.


Se em 2015 cerca de 80% da população de Altamira/PA não tinha água encanada, seis anos depois o cenário não parece ter mudado tanto, especialmente para aquelas pessoas que vivem em Reassentamentos Urbanos Coletivos.

Crianças se divertem e brincam com restos de geladeiras.


Com o aumento do volume das águas, encontrar cobras, jacarés e outros animais em meio a cidade e bairros próximos de rios e igarapés não é difícil pelas cidades da Amazônia.

Leia as outras partes desta fotorreportagem:
A relação do ribeirinho com os rios que cortam Altamira
O extinto lixão de Altamira: promessas e gritos de resistência de uma tragédia anunciada

 
 

Print Friendly, PDF & Email

Você pode gostar...

Assine e mantenha-se atualizado!

Não perca nossas histórias.


Translate »