No Parque Progresso, ecos de um futuro que não veio para a Amazônia
Neste ensaio, apresenta-se a relação entre a região e seu desejo de progresso feita de forma poética e melancólica por meio de um parque de diversões.
A Amazônia é pensada como um lugar claro e cheio de vida. Mas existe uma outra face da região, marcada por promessas não cumpridas e sonhos que não se realizam. A ideia de progresso lhe foi dada com ânimo há décadas. Mas o tal progresso, o desenvolvimento proposto para a maioria dos habitantes da região parece seguir com uma promessa que nunca se realiza. O Parque Progresso, no Pará, representa isso.
Diferente do senso comum “solar” que faz parte do imaginário sobre a região, a Amazônia tem também sua versão sombria.
As imagens, todas noturnas, brincam com esta ideia do progresso ser uma armadilha luminosa, como numa roda gigante que leva as pessoas para cima e para baixo, mas de fato todos seguem no mesmo lugar.
Nas fotografias realizadas em 2011 na cidade de Senador José Porfírio, no Pará, retrata-se o Progresso, um parque que circula pelas pequenas cidades da Amazônia, como a esperança passageira de luz dentro da sombra do passado que cobre a região.
As legendas e as imagens se complementam para transmitir a mensagem metafórica sobre o conceito de “progresso”: um parque cujo nome é essa palavra e a alegria passageira que ele distribui às comunidades por onde passa.
Uma parada inesperada por uma noite nesta pequena cidade, às margens do Rio Xingu, me levou a conhecer este parque de diversões itinerante.
O curioso nome de Progresso me fez pensar sobre o que esta palavra significa na Amazônia.
O desejo de progresso para a população da maior floresta tropical do planeta é algo contraditório.
É como uma roda gigante precária que leva alguns poucos a momentos de ascensão, como se eles pudessem participar das alegrias do mundo moderno, …
… para logo depois devolvê-los a invisibilidade, a escuridão, a inexistência que caracteriza a forma que os modelos equivocados de desenvolvimento olham para o povo da Amazônia.
É como uma armadilha luminosa!
Como correntes que te vendem a ilusão do movimento, mas te levam sempre para o mesmo lugar.
Traz promessas de algodão doce, vistosas e coloridas, açúcar desfiado em anilina.
… vendendo bilhetes só de ida para o subdesenvolvimento.
… um brilho fugaz.
Bem vindos ao progresso!
Uma visão do passado no presente.
Nas crônicas do subdesenvolvimento deste Brasil central o tal progresso surge como ecos de um passado de abandono onde a máquina de pipoca quebrou.
Divirta-se!
Read the English VersionNuno Godolphim, cineasta e também produtor do filme Amazônia, a Nova Minamata
Fotos: Nuno Godolphim / Amazônia Latitude