Golpe Verde: Falsas soluções para o desastre climático
Mesa do 10º Fórum Social Pan-Amazônico destaca que o desastre climático não se conserta com soluções paliativas como Economia Verde e Mercado de Carbono
Lindomar Dias Padilha, coordenador do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), nesta sexta-feira, 29, abriu uma roda de conversa no 10º Fórum Social Pan-Amazônico (X FOSPA) sobre as estratégias que grandes empresas adotam para legitimar as invasões de território e mercantilização da natureza.
O CIMI publicou recentemente uma revista chamada “Golpe Verde: Falsas Soluções para o desastre climático”, que contém uma série de entrevistas, dossiês e artigos científicos de teor crítico à implementação da Economia Verde no Estado do Acre.
A produção nasceu do processo de articulação entre indígenas, extrativistas, ribeirinhos, militantes acadêmicos e organizações sociais dentro e fora do Acre. E da produção, nasceu a ronda de conversa “Golpe Verde” no X FOSPA.
“A nossa metodologia foi conversar diretamente com as comunidades e tentar entender o que está acontecendo”, afirma Lindomar.
A reflexão começa a partir da expansão da agropecuária, em 2008, momento em que o governo do Acre começou a pregar a sustentabilidade. De acordo com o CIMI, “a economia verde tenta enganar a população brasileira e o mundo, fingindo plantar árvores ou mantê-las em pé – enquanto, na realidade, passam o trator e a boiada.”
A empresa que polui é a mesma que preserva
O famoso Mercado de Carbono foi criado para encorajar setores privados a diminuírem suas emissões de poluentes, por meio de um sistema de compensação que gera créditos às empresas “verdes”. A farsa da Economia Verde vigora à medida que a corporação que desmata as florestas ganha tanto com a criação de bois quanto com a floresta caída, gerando compensação no que ela própria já destruiu.
“Quanto maior o empreendimento impactar o meio ambiente, mais valor terá aquela área preservada. Então, as grandes empresas no mercado de carbono ganham com o boi e com o desmatamento”, diz Lindomar.
A lei Nº 2208 “SISA” prevê a regulamentação desse mercado, feita para justificar o estrago. Além disso, fornece péssimos estímulos, como a criação de florestas de áreas de proteção.
Durante a viagem pela companhia aérea GOL, o militante indigenista deparou-se com uma cartilha que dizia que a empresa estava adotando medidas de sustentabilidade.
“Compensar o carbono do seu voo custa menos do que você imagina: R$ 3,44. Todos nós, pessoas e empresas, temos uma pegada de carbono no planeta. E, quando viajamos de avião não é diferente. Por um preço de um picolé, você contribui com o meio ambiente”, dizia a cartilha.
Balela, diz Lindomar. Segundo ele, a propaganda apenas contribui para a farsa das viagens “carbono neutro”. O ativista ressalta que as medidas paliativas que ainda dominam o pensamento da Economia Verde não vão melhorar a situação na Terra; é preciso uma mudança mais drástica.
Os possíveis caminhos para um futuro habitável passam pelo fim da destruição da floresta – ao invés do desmatamento e posterior “compensação”, em forma de crédito – e abandonar fontes de energia de combustíveis fósseis e o minério – não apenas poluir para, então, comprar créditos de carbono de uma empresa de energia sustentável.
É uma medida custosa para as grandes empresas. Por isso, se faz necessário cobrar atitude dos governos.
Tomada de território
Dentre as pautas levantadas, surge o questionamento à implementação do projeto REDD+, instrumento desenvolvido no âmbito Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima para recompensar financeiramente países em desenvolvimento por seus resultados relacionados à recuperação e conservação de suas florestas.
Para Lindomar, o REDD+ só reforça o assédio financeiro aos povos tradicionais.
“Se eu vender algo, eu que tenho que dar o preço”, afirma índigena, indignado com a forma que, com o tempo, as empresas tomam terras indígenas sob o respaldo de uso social.
Para além dos territórios do Acre, Amazonas e Tocantins, o objetivo da mesa foi expor justamente como projetos, e até mesmo órgãos como a (Funai) Fundação Nacional do Índio e o MPF (Ministério Público Federal) estão à serviço do desgoverno – e contra a demarcação de terras indígenas.
Além da invasão de madeireiras, pescadores sofrem a violência do abandono com o desamparo do Estado Brasileiro. O Brasil nasceu do roubo de terras, lembra a mesa, e o mito da Economia Verde periga continuar a tradição.