As vozes de luta dos povos originários da Amazônia

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Roda de conversa do projeto Vozes pela Ação Climática Justa valoriza perspectivas amazônicas

Grande e rica, a Amazônia não é lar apenas de uma grande diversidade de fauna e flora, mas também de uma enorme diversidade de povos e sociedades que vivem e são parte da região. Apesar disso, as instâncias políticas brasileiras e de outros países que compõem a Pan-Amazônia seguem ignorando estas vozes e permitindo — quando não incentivam — a destruição do bioma com mais biodiversidade no mundo. Esta foi a pauta da roda de conversa “Justiça Climática a partir da perspectiva das vozes amazônicas”, atividade autogestionada realizada nesta sexta-feira (29), no X Fórum Social Pan-Amazônico (FOSPA).

Lotada, a roda foi mediada por Ellen Acioli, coordenadora programática do projeto Vozes pela Ação Climática Justa (VAC), da Fundação Avina. Também se apresentaram Mateus dos Santos Filho, o técnico em agroecologia e militante, Ângela Mendes, presidente do comitê Chico Mendes e filha do extrativista morto em 1988, Alan Apinagé, indígena e professor, e Suzy Evelyn de Souza, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB).

Após a apresentação inicial dos participantes, a mediadora Ellen Acioli afirmou que a garantia de direitos das populações originárias não existe durante um governo capaz de retroceder e desfazer avanços anteriores.

“Quando a gente fala de territórios indígenas, é lei do branco homologar território, não lei indígena. Atendemos à lei do branco para se proteger do próprio branco. E ao mesmo tempo você não tem proteção quando percebe que as políticas públicas, dependendo de quem faz a gestão do nosso país e do nosso território, podem mudar”.

Apelo à juventude

Os debatedores apontaram o papel dos jovens e das próximas gerações na militância, luta pela terra e garantia de direitos de povos originários. Para Mateus Filho, a busca é por uma educação libertadora e por uma nova visão sobre as novas gerações, não como impotentes, que não fazem nada, mas como militantes e ativistas responsáveis por estas mudanças.

Ângela Mendes leu a carta ao jovem do futuro, escrita por seu pai poucos meses antes de morrer. Na carta, Chico Mendes imagina o centenário de uma revolução socialista mundial, no ano de 2120, que pôs fim aos inimigos da nova sociedade, e deixou a dor, sofrimento e morte apenas em lembranças.

A revolução sonhada por Chico, que aconteceria no ano de 2020, não se tornou realidade, mas Ângela percebe as mobilizações da juventude esperadas pelo pai. “Os jovens dessa geração têm uma capacidade incrível de levantar-se, de ampliar sua voz em defesa da sua identidade, da sua cultura e do seu território”.

Para Suzy Evelyn, da COIAB, o papel das gerações mais velhas é incentivar os mais jovens a seguirem na luta. “Estamos na luta para que os jovens fortaleçam essa nossa luta pela vida. Os jovens aprendem com o conhecimento dos mais velhos”.

Luta pela terra

Também houve críticas a projetos de lei em curso no Congresso, como o PL nº 6.024/2019, que diminui a área da Reserva Extrativista Chico Mendes e permite a exploração do Parque Nacional da Serra do Divisor; e o PL nº 212/2020, que regulariza a mineração e exploração de recursos de terras indígenas.

As vítimas dos conflitos na região foram lembradas em diversos momentos, em especial o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips, assassinados em junho por traficantes e pescadores ilegais no Vale do Javari, segunda maior terra indígena do Brasil, no Amazonas.

Os convidados fizeram diversas críticas ao Governo Federal e pediram a remoção ou não-reeleição de Jair Bolsonaro. Durante os quatro anos de governo Bolsonaro, o Brasil atingiu recordes históricos nas taxas de desmatamento, mineração e outras atividades ilegais na Região Amazônica. Funcionários, servidores e gestores de órgãos voltados à preservação da floresta foram exonerados e o número de assassinatos de lideranças indígenas, quilombolas e extrativistas voltou a atingir patamares preocupantes.

Ao fim do evento, todos os ouvintes receberam a cartilha Cidades & Clima, distribuída pela VAC em sua tenda no FOSPA, que mostra, em um grande mapa e infográfico, os efeitos que as mudanças climáticas podem causar nas cidades da Amazônia.

Rafael Miyake estuda Comunicação Social – Jornalismo na Universidade Federal do Pará (UFPA). Estagiou em assessoria de imprensa e divulgação científica na UFPA. Nascido e criado na Amazônia, é apaixonado por cinema e literatura juvenil.
Imagem em destaque: Rafael Miyake/Amazônia Latitude
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