A conexão entre mudanças climáticas e questões de gênero

A desigualdade social deve estar no centro de discussões de políticas públicas para mitigar a crise

A roda de conversa “Gênero e mudanças climáticas com foco nas políticas públicas” foi realizada na tenda da FETAGRI, às 14h, no penúltimo dia do 10º Fórum Social Pan-Amazônico (X FOSPA). A organização foi feita pela Câmara Técnica de Equidade, Igualdade de Gênero e Mudanças Climáticas.

O “fio condutor” da mesa foi o fato de que os danos socioambientais causados pelas mudanças climáticas afetam a todos, sim, mas é preciso elucidar o fato de que eles impactam de forma diferente as mulheres, pessoas negras, indígenas e outras parcelas da população já vulnerabilizadas por questões socioeconômicas, raciais e de gênero. Portanto, é necessário pensar políticas públicas para esse público específico.

Entre as convidadas estavam a mediadora Teresa Moreira, coordenadora de conservação da organização The Nature Conservancy (TNC), Angela Lopes, diretora executiva da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Pará (FETAGRI), Karla Giovana, coordenadora de sustentabilidade da Cooperação da Juventude Amazônida para o Desenvolvimento Sustentável (COJOVEM), Márcia Jorge, presidenta do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher, e a Dra. Norma Miranda, ouvidora da Defensoria Pública do Estado do Pará.

O evento foi povoado por falas de mulheres já engajadas em instituições de preservação ambiental e igualdade de gênero, mas, durante a conversa, outras pessoas presentes também compartilharam suas vivências e ofereceram ideias ou sugestões. Essas sugestões serão levadas para debate na Câmara Técnica de Equidade, Igualdade de Gênero e Mudanças Climáticas.

A Câmara tem como objetivo identificar estratégias que possam responder às inúmeras crises ambientais e humanitárias causadas pelas mudanças do clima.

As dificuldade enfrentadas são um reflexo do sistema

“Tudo ficou muito mais difícil. Enfrentamento à pandemia, o enfrentamento das violações dos direitos humanos das mulheres. Fica bem mais difícil quando ainda temos uma sociedade que reproduz o machismo no quadro patriarcal”, afirma Márcia Jorge, presidenta do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher.

Em muitas regiões do mundo, as mulheres precisam se arriscar para garantir recursos em suas casas (como água e alimentos), já que as tarefas domésticas são direcionados a elas. Com as mudanças climáticas, muitos desses recursos se tornam escassos, e dessa forma elas precisam se arriscar mais para consegui-los na natureza. Precisam até mesmo trabalhar mais para comprar esses alimentos e afins, já que, historicamente, esse gênero recebem salários menores.

Os efeitos catastróficos trazidos pelas mudanças climáticas apenas potencializam dificuldades e injustiças que já foram normalizadas pela sociedade como um todo. Isso significa insegurança alimentar, adoecimento físico e mental acelerado e aumento da parcela do gênero feminino que vive na pobreza.

(Mais) ideias para adiar o fim do mundo

Para combater esses efeitos, faz-se urgente a ocupação de cargos de tomada de decisão pela população mais afetada pelas mudanças climáticas – em gênero e número.

“Cada vez mais a gente precisa não só ficar de olho, mas participar, assumir esses lugares de protagonismo e colocar a nossa voz para jogo”, declara Karla Giovana, coordenadora do COJOVEM.

A presença da voz de mulheres e lideranças indígenas e quilombolas faz toda a diferença quando se trata da elaboração de políticas públicas.

“É necessário trabalhar políticas públicas para a diversidade do estado do Pará. Precisamos respeitar indígenas, quilombolas, mulheres do campo, das florestas, ou seja, todas aquelas mulheres que hoje precisam ter suas representações. Não mais pensar que elas precisam chegar a estas políticas, as políticas precisam chegar até elas e respeitar os territórios”, conclui Márcia Jorge.

Flávia Rocha Mendes de Araújo é natural de Belém do Pará e graduanda de Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, na Universidade Federal do Pará (UFPA).
Imagem em destaque: Flávia Rocha/Amazônia Latitude
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