Desenvolvimento sustentável precisa respeitar territórios e as pessoas, defende plenária em Belém
Representantes de diversas partes da região Panamazônica e Ministros dialogam sobre direitos e defesa de territórios.
Representantes do Brasil e do Suriname participaram de uma assembleia que discutiu desenvolvimento sustentável e erradicação do trabalho escravo na Amazônia, no final da sexta-feira (4), em Belém, durante os Diálogos Amazônicos.
De acordo com as mediadoras da plenária, o encontro foi organizado para encontrar caminhos para um desenvolvimento de forma integral, justa e com os territórios respeitados, e teve a participação de ativistas de outros países da região.
Um dos convidados foi Isaac Marini, integrante da Coordenação Nacional Agrária da Colômbia. Ele defendeu a planificação e a realização de mapeamento cartográfico nos territórios para entender as potencialidades e perigos dos povos originários.
“Assegurar e garantir nossos territórios é a nossa luta. Então, estar aqui e conhecer as propostas de políticas publicas que serão implementadas é um avanço”, concluiu Marini.
A equatoriana Emanuela Salomé denunciou a violência que afeta as mulheres da região. “Não somos minerais, não somos petróleo, não somos bichos”, disse. As mulheres, segundo Salomé, são as primeiras a defender suas terras e a cuidar das necessidades de todos.
“Quando os homens decidem sair de suas terras e irem para a cidade, somos nós que ficamos com os filhos, com a terra, a chácara e a proteção da selva. Mas estão nos matando”,
Para a ativista, apesar da Amazônia ser rica, os povos amazônidas são extremamente pobres de direitos humanos. “A única coisa que eles detêm são suas terras e ainda querem tirá-las”, afirmou.
Representando o Suriname, o chefe de gestão costeira, fluvial e de natureza do ministério de Obras Públicas, Shatishkumar Bhagwandi, afirmou que a sociedade amazônida tem relação direta com a floresta, desde a luta, prevenção e gerenciamento sustentável. “Ter políticas e ações que cheguem a toda a população da Amazônia e não somente aquela pequena parcela é fundamental”.
Bhagwandi destacou que a preservação da Amazônia tem sido uma das principais metas do governo do Suriname.
A presença de políticos da região na plenária foi positiva, na visão do coordenador do Conselho Nacional dos Seringueiros, Júlio Barbosa. A oportunidade de receber os chefes de estado, que compõe os oito países da Panamazônia, representa uma oportunidade de se fazer ser ouvido, argumentou.
Barbosa ainda criticou a imposição de um modelo de desenvolvimento para região trazido de fora. “Nós não queremos política de bioeconomia e preservação de dentro da visão do empresário. Nós queremos uma economia para Amazônia que seja de acordo com os costumes e as vontades dos povos que moram nela e são afetados pelo que acontece com ela. É preciso enfrentar o aquecimento global, a crise climática e principalmente derrubar aqueles que nos fazem de escravos”, disse.
O ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida, foi o último a discursar. Almeida afirmou que o governo está reconstruindo a democracia do Brasil após histórico de negligência com o povo e com a Amazônia.
O ministro ainda disse ser necessário uma efetiva participação do povo. “Realizar a tarefa de discutir direitos humanos para os povos das florestas, com os povos das florestas deve ser fulcral”, continuou.
“É necessário que as políticas de direitos humanos e de proteção dos defensores da Amazônia estejam no centro dos debates e das decisões dos membros do tratado de cooperação amazônica. Enfrentando desafios comuns, a cooperação entre nossos países e a escuta conjunta de nossos povos é a peça fundamental para uma Amazônia ambientalmente sustentável e socialmente justa”.