Protagonismo de mulheres abre Diálogos Amazônicos em Belém
Militantes e autoridades reuniram-se em Belém para a discussão de pautas prioritárias paras as mulheres amazônidas
O protagonismo da mulher na Amazônia inaugurou os Diálogos Amazônicos, evento da sociedade civil que discute novas estratégias para a região. No primeiro painel intitulado “Mulheres da Panamazônia – Direitos, Corpos e Territórios por Justiça Socioambiental e Climática”, participaram ativistas brasileiras, estrangeiras, indígenas, além de membros do alto escalão do governo como a ministra Aparecida Gonçalves, do Ministério das Mulheres.
Com programações auto-organizadas e plenárias abertas ao público, os Diálogos acontecem no Hangar Centro de Convenções, em Belém, e precedem a Cúpula da Amazônia, que reunirá autoridades de todos os países da Panamazônia.
Antes das mulheres se reunirem no principal placo do centro de convenções, representantes de movimentos sociais caminharam pelo espaço evocando: “Amazônia querem te acabar, as mulheres não vão deixar”. Logo no início, houve a benção de várias yás, do Instituto Nangetu, que entoavam canções que relacionam a terra às mulheres.
Segundo a organização do evento, a ideia de fazer a plenária surgiu de uma reflexão comum dos movimentos femininos de que as mulheres são a origem de tudo, portanto, deveriam fazer parte das discussões de poder.
Para as organizadoras, é importante trazer o olhar das mulheres para o desenvolvimento da Amazônia e abrir espaço para demandas com recorte de gênero. Um relatório final será apresentado nas plenárias principais documentando os principais pontos.
O painel desta sexta-feira (4) reuniu mulheres de quase todos os países que integram a Panamazônia. Na moderação da mesa, estava a professora Zélia Amador.
Emanuela Salomé, militante do grupo equatoriano Luna Crescente, disse que a soberania dentro da Amazônia diz respeito tanto aos territórios quanto aos corpos femininos. Ela denunciou a situação de disputas de poder que acontecem no Equador, com impacto nos direitos das mulheres.
Esperançosa, a ativista lembrou que não existiu uma vez em que as mulheres tenham sucumbido às mazelas sociais sem ao menos lutar. É isso que vamos fazer na programação, mostrar que as mulheres são força e luta, continuou Salomé.
A esperança foi tema recorrente, como também as denúncias de exploração mineral, invasões de território e violência policial, que é realidade comum aos países latino-americanos. Gaela, militante trans afroandina, declarou que a ditadura instaurada no Peru impactou sua vida
“Eles dizem que não tem dinheiro para investir em educação, em saúde, mas utilizam esse dinheiro para financiar a morte de seus próprios conterrâneos”, afirmou. A peruana ainda denunciou um caso de transfobia que viveu ao chegar no Brasil, quando foi impedida por uma companhia aérea de embarcar de São Paulo para Belém por “incongruências documentais”.
A ativista colombiana Maria Lúcia Dias disse que sua cidade Mocoa enfrenta empresas de capital estrangeiro, que têm expulsado populações tradicionais para a exploração de cobre. Para Dias, não existe pensar em desenvolvimento da Amazônia sem antes acabar com o extrativismo dentro dessas comunidades.
Os países da região tem muitas semelhanças, disse, o que ela atribuiu às organizações conservadoras da Colômbia. “O que está acontecendo na Colômbia é o mesmo que aconteceu em outros países da América latina. Os governos de direita acabam com o nosso país e quando os reformistas tentam mudar a politicagem, eles respondem com truculência ou incitação ao ódio”, declarou Maria Lúcia.
Para a representante da rede de Articulação de Mulheres Brasileiras, Maria Eunice Guedes, as questões universais que perpassam a Panamazônia só serão resolvidas com um alinhamento ferrenho entre os países que a compõe.
“Não existe a possibilidade de fazermos tudo sozinhos. A Amazônia somos todos nós, o que fazemos no Brasil impacta a Colômbia, o Peru, o Equador e vice-versa”.
Houve ainda espaço para a exposição de políticas públicas que envolvem mulheres. A secretária das Mulheres do Pará, Paula Gomes, e a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, expuseram iniciativas nos âmbitos federal e estadual.
Dentro do Pará, segundo Gomes, existe uma busca não só o estímulo das políticas públicas, mas também a captação de recursos para executar esses serviços. “Há uma movimentação intensa do governo do estado para resguardar a vida e a dignidade das mulheres, relacionadas a questões de saúde e educação, que estamos trabalhando para sanar”.
Já ministra Cida Gonçalves explicou sobre o trabalho do atual governo. Ela se comprometeu a atender às demandas levantadas na plenárias. “Salvar a Amazônia é salvar a vida das mulheres”, disse a Gonçalves.
A ministra ainda disse que uma das principais políticas da sua pasta é um combate à misoginia, incluindo desigualdade salarial e tripla jornada de trabalho.