Amazônia não é vazio intelectual, defendem cientistas nos Diálogos Amazônicos

Painel com cientistas nos Diálogos Amazônicos
Painel com cientistas nos Diálogos Amazônicos

Ativistas e autoridades locais clamam pelo fim do desmatamento florestal e a utilização da ciência para incluir os povos amazônicos

Ativistas, autoridades do governo federal e cientistas reuniram-se para finalizar o segundo dia dos Diálogos Amazônicos na plenária “Como pensar a Amazônia para o futuro a partir da ciência, tecnologia, inovação e pesquisa acadêmica e transição energética”, neste sábado (5).

A mesa ecoou os tons críticos dos outros painéis, reiterando as dificuldades de percepção da Amazônia dentro do cenário científico e o respeito às suas comunidades e seus direitos naturais. Entre os presentes na plenária, estava a ministra da Ciência e Tecnologia do Brasil, Luciana Santos.

“Estamos reunidos aqui para afirmar o papel da Amazônia dentro do circuito científico e mostrar que a Amazônia não é um vazio intelectual, muito menos um vazio científico. Só com o incentivo da produção científica na Amazônia que conseguiremos chegar a um desenvolvimento sustentável, que não só preserve nossas comunidades e seus costumes, mas também incluía essas pessoas no processo.”, declarou o reitor da Universidade Federal do Pará (UFPA), Emmanuel Tourinho.

O reitor da UFPA ainda relembrou dos problemas enfrentados pelas instituições federais por conta dos sucessivos cortes de gastos feitos pelo governo federal nos últimos 6 anos.

A floresta como sujeito, não mercadoria

De acordo com dados apresentados na plenária, cerca de 870 mil km² da Floresta Amazônica foram degradados, e 90% da degradação aconteceu no Brasil e na Bolívia. Um dos responsáveis é o setor de mineração.

Existem mais de 45.065 concessões minerais espalhadas por toda Panamazônia, e quase metade (21.536) está em áreas de preservação ou em terras indígenas.

Maria Lúcia Borges, do Peru, explicou o esvaziamento territorial e os problemas de infraestrutura que muitas cidades do seu país sofrem por conta da exploração mineral e petrolífera.

Segundo a ativista, a exploração petrolífera é uma estratégia energética que não funciona, e que, ao longo prazo, suas consequências para a saúde da população serão terríveis.

Na Bolívia, o cenário também se repete. Pablo Solón, ativista ambiental, apresentou uma cartilha com mais de 30 propostas para o desenvolvimento ambiental mais sustentável e maneiras de mitigar os danos já causados até agora.

“O problema principal das atividades exploratórias e da busca incessante por desenvolvimento é pensar a floresta como uma fonte de recursos e não como um sujeito”, concluiu o cientista.

Charles Trocate, do Movimento pela Soberania Popular na Mineração, expôs seu ponto de vista a partir de uma intervenção poética. Recebido com louvor pela plateia, o ativista narrou uma série de desventuras vividas pela personagem principal, a Amazônia.

O ativista também criticou a atual Lei Condi, que incentiva a exploração mineral por grandes empresas na floresta, e pediu para que várias políticas desenvolvimentistas fossem revistas pensando nas populações atingidas.

“Vivemos há muito tempo uma dialética entre a natureza e o indivíduo. Por muitas vezes, as nossas riquezas são o motivo da nossa miséria. Por isso, é importante que o Estado brasileiro se atente aos problemas causados por esses grandes empreendimentos e pense, pelo menos uma vez, como isso vai impactar a vida das populações ao redor para além do lucro ou do capital.”, finalizou Trocate.

O Brasil voltou?

A ministra da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos, ecoou os discursos dos ativistas. Segundo Santos, a ciência e o desenvolvimento devem ser um instrumento para o enfretamento das mazelas sociais, não o seu motivo.

“A ciência existe nos saberes dos povos originários, é uma ferramenta de enfrentamento a fome. A Amazônia, sobretudo, é um local de conhecimento e os constantes ataques que sofre não tem lugar no nosso governo.”, declarou.

Santos ainda alertou sobre a atual crise civilizatória de hoje e lembrou que “só com incentivo a ciência, há desenvolvimento”. Para a ministra, uma cooperação científica entre os países membros da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica é fundamental para o alinhamento de políticas de mitigação e para se atingir o objetivo de preservar pelo menos 80% da floresta até 2025.

“A ciência, sobretudo na Amazônia, deve ser pública e intercultural”, disse a ministra. “O Brasil voltou e queremos que a Amazônia também esteja presente nesta volta”, concluiu a ministra.

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