Lúcio, o obstinado caçador dos fatos e da verdade

Cristina Serra destaca a importância regional e nacional de Lúcio Flávio Pinto e seu jornalismo destemido e coerente sobre a Amazônia

Lúcio Flávio Pinto , jornalista paraense
Lúcio Flávio Pinto. Foto: Marcos Colón
Lúcio Flávio Pinto , jornalista paraense

Lúcio Flávio Pinto. Foto: Marcos Colón/Amazônia Latitude

Lúcio Flávio Pinto já era uma lenda entre os jornalistas brasileiros e, especialmente, entre os paraenses quando entrei na faculdade de Jornalismo, lá se vão mais de 40 anos. Vocês podem imaginar o respeito e a admiração que a simples menção de seu nome provocava entre os estudantes da minha geração, como provoca, até hoje, entre os mais jovens.

Lúcio era, e é, tudo que queríamos — e queremos — ser: destemido, coerente, rigoroso, apurador insaciável de todas as informações necessárias para contar uma boa história. Repórter que suja os sapatos de poeira e lama, vai aonde tem que ir, ao inferno — se preciso for — para trazer o relato mais objetivo possível dos fatos.

E Lúcio foi várias vezes ao inferno, perseguido por poderosos incomodados com seu trabalho. Foi agredido fisicamente, ameaçado de morte, assediado judicialmente, sufocado financeiramente, mas nunca capitulou. Segue fazendo seu jornalismo corajoso e comprometido com a verdade mais próxima da realidade factual. Sabemos que a verdade tem muitas faces e alcançá-la em sua inteireza e complexidade na pressa do dia a dia do jornalismo é quase uma quimera. Porém, o Lúcio é um obstinado caçador dos fatos e da verdade. Inspirado num verso de Gonçalves Dias, pratica o jornalismo que precisa ir aonde os fatos acontecem para poder dizer: “Meninos, eu vi.”

Quem mais conhece o planeta Amazônia é o Lúcio. Sua dimensão, seus conflitos históricos e atuais, os dilemas que podem decidir seu futuro. Lúcio testemunhou a Amazônia do “Brasil Grande”, dos projetos faraônicos, incansável, para trazer histórias e personagens dessa Amazônia complexa e desafiadora, que foge a compreensões imediatas. Só se entende a Amazônia penetrando profundamente no emaranhado de suas contradições, iniquidades e desigualdades. Cada vez que Lúcio Flávio fez isso, saiu inteiro. Saiu maior. Tornou-se um gigante. Um orgulho para nós, jornalistas do Pará, do Brasil e do mundo. Prova disso são seus prêmios internacionais.

Lúcio não transige, não hesita, não tergiversa. Não é compadre de poderosos. Expõe-se aos riscos inerentes à profissão. Paga o preço que tiver que pagar. Suas palavras são claras como a luz do sol. Seu jornalismo é afiado, cortante. É um jornalista completo, porque além dos atributos mencionados, tem bagagem cultural invejável e humor refinado. Ama sua terra e seu país. Com cara de gringo, é o jornalista mais amazônida que conheço. Seu exemplo é uma poderosa fonte de inspiração que seguirá ecoando entre gerações de jornalistas. Que sorte a nossa ter sua voz altiva e seu desassombro! Obrigada, Lúcio!

Cristina Serra é uma jornalista e escritora belenense. Formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), trabalhou durante 26 anos na Rede Globo, onde atuou como repórter, correspondente internacional e apresentadora.


Edição: Alice Palmeira
Revisão:
Isabella Galante
Direção: Marcos Colón

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