Fotogaleria: Terra Indígena Anambé refém do fogo
Cerca de metade da TI foi destruída por um megaincêndio que já dura mais de 15 dias. Indígenas lutam contra as chamas, contra o medo e contra a escassez de comida e água
Os povos da Terra Indígena Anambé saltando sobre as chamas para sobreviver. Foto: Oswaldo Forte / Amazônia Latitude
É possível pensar nos povos indígenas da Amazônia sem a floresta? A resposta parece óbvia: Não. Neste momento, cerca de 200 indígenas das Aldeias Mapurupy, Yrapã e Yetehu que vivem na Terra Indígena Anambé, às margens do Rio Cairari, afluente do Rio Moju, no nordeste do Pará, estão lutando para continuar a ser um povo da floresta. Mais da metade do território de 8.640,12 hectares está em chamas.
Como qualquer morador que vê sua casa pegar fogo, eles temem perder tudo, inclusive sua identidade. Mas há preocupações mais imediatas: controlar o fogo, evitar a fome e a sede, proteger suas famílias.
Desde o dia 28 de outubro, a Terra pega fogo. Animais mortos. Um tapete de cinzas onde antes havia verde. Pessoas que sufocam em meio a fumaça, expulsas de casa. O perigo é tão grande que os cerca de 208 moradores da TI Anambé precisaram se mudar e acampar na fronteira do território. Uma medida de segurança para proteger sua gente.
De acordo com as lideranças indígenas, pelo menos 30 brigadistas estão na área lutando contra os focos de incêndio. É como se cada um deles estivesse lutando para proteger cerca de cinco hectares que estão pegando fogo.
Ao lado deles, indígenas armados com o que podem. Alguns usam pedaços de galhos para tentar varrer as folhas e, assim, sufocar focos menores. Eles andam de sandálias e descalços em meio as chamas.
“Temos suspeita de que fazendeiro ou empresa que faz divisa com nosso território tocou fogo no pasto. Possivelmente, tentaram apagar o fogo, passou maquinário para fazer o asseiro, mas não conseguiram e o fogo acabou entrando no nosso território. Solicitamos aos órgãos competentes e fomos prontamente atendidos e enviaram, deslocaram brigadistas e bombeiros, porém, atualmente, o quantitativo de brigadistas é insuficiente para controlar o fogo”, conta o cacique Pinawã Anambé ao pedir ajuda nas redes sociais da comunidade.
Ele lembra que o território é pequeno e que, em 10 dias, as chamas já haviam destruído mais de metade da TI.
O que será dos Anambé?
No momento uma campanha nas redes sociais tenta arrecadar ajuda humanitária para que o povo não passe fome e tenha acesso a água potável, uma vez que estão todos fora de suas casas.
Eles também pedem doações de equipamentos de proteção que possam ser usados no combate as chamas e que as ações de combate lideradas pelo poder público sejam intensificadas: mais brigadistas, mais apoio aéreo. Urgente. Antes que não sobre o que ser salvo.
O Ministério Público Federal encaminhou pedido de informações sobre as providências que cada instituição – da Fundação Nacional do Índio (Funai) à Polícia Civil – está ou não tomando para lidar com o megaincêndio na Terra Indígena Anambé.
Em nota, O Corpo de Bombeiros Militar do Pará informou que reforçou a equipe de combate, com envio de militares especialistas em incêndio florestal. Ressaltou também que uma brigada indígena foi treinada e equipada pela Corporação para atuar no local.
Até o fechamento desta fotoreportagem, a Defesa Civil estadual, o Governo do Pará, a Prefeitura e a Scretaria do Meio Ambiente de Moju não responderam sobre a sua atuação para combater as chamas e garantir a segurança (inclusive em assistência social) às comunidades.
Durante dois dias, o fotojornalista Oswaldo Forte acompanhou a luta contra o fogo para proteção da floresta e de seu povo. Nesta fotogaleria, ele mostra o pequeno grupo de guerreiros e guerreiras sufocando em meio a fumaça e saltando sobre as chamas para sobreviver.
Texto: Glauce Monteiro
Montagem da página: Alice Palmeira
Fotografias: Oswaldo Forte
Direção: Marcos Colón