Fotogaleria: Conheça a Marujada de Bragança
Marujada de Bragança e de outras cidades paraenses é declarada patrimônio cultural imaterial do Brasil e da Amazônia
Fitas coloridas da Marujada de Bragança 2022. Foto: Karina Martins / Agência Pará.
As fitas coloridas, o chapéu característico, a devoção e a música são alguns dos elementos que caracterizam as Marujadas em cidades paraenses desde os séculos XVIII e XIX. As celebrações foram reconhecidas como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil em 2024.
Misturando a celebração portuguesa e europeia de quem sobrevivia do mar à devoção e cultura de descendentes de africanos escravizados na Amazônia, a Marujada de Bragança, que acompanha a Festividade de São Benedito desde 1798, é uma das mais conhecidas.
As apresentações da Marujada, uma dança tradicional que existe desde o século XVIII com ritmo vibrante e movimentos de dança coordenados, são feitas em vários espaços da cidade, especialmente no Barracão.
Sob liderança da capitoa, cada um desempenha sua função num misto de eficiência e devoção que encanta quem tem a oportunidade de assistir.
A festividade em homenagem a São Benedito da qual a Marujada faz parte, dura nove dias e, na cidade de Bragança, no nordeste do Pará, é realizada de 18 a 26 de dezembro com novenas, ladainhas, missas, procissões nas águas e em solo, além de apresentações da Marujada e programações culturais na orla da cidade. Mas o ponto alto da festa são os dois últimos do calendário.
No dia 25 de dezembro, os marujos e marujas usam branco e azul em homenagem ao nascimento do menino Jesus, que São Benedito carrega no colo.
É neste dia também que marujos participam da Cavalhada da Festividade do Glorioso São Benedito, quando os competidores disputam jogos tradicionais e usam azul e vermelho para a ocasião. A competição se juntou às celebrações nas primeira décadas do século XX e é o único momento em que os homens usam blusas vermelhas.
Todos voltam a usar o vermelho e branco no dia seguinte, 26 de dezembro, quando homenageiam o santo conhecido como “Glorioso São Benedito”.
Os homens usam branco com um espelho no chapéu e uma fita vermelha amarrada no braço, enquanto as mulheres levam uma flor vermelha no lado esquerdo do peito, colares e a tradicional saia vermelha e chapéu de penas de pato enfeitado com 14 ou mais fitas coloridas.
Círio do Glorioso
A imagem original do padroeiro já não é mais usada nas procissões. Porém, após a ladainha em latim no recém elevado Santuário Diocesano de São Benedito, uma versão dela, conhecida como “Glorioso São Benedito do Andor” sai às ruas carregada pelos marujos-promesseiros até a orla da cidade, onde é realizada uma missa campal.
O percurso de cerca de 6,7 quilômetros é o Círio do Glorioso que, em 2024, segundo a organização da festividade, reuniu cerca de 400 mil pessoas.
Para João Batista Pinheiro, presidente da Marujada, o reconhecimento como patrimônio imaterial do país atraiu mais turistas para a festividade que, em 2024, comemorou 226 anos de tradição.
Essa devoção veio da África e, aqui em Bragança, com permissão [dos senhores de escravos] foi criada a Irmandade de São Benedito. [Agora] esse reconhecimento é um marco, um marco pelo qual lutamos há muito tempo e é algo muito importante para o povo bragantino”.
A irmandade e a Marujada existem desde 1798, quando 14 escravos que trabalhavam em fazendas da região pediram permissão para criar a irmandade. Com a autorização concedida, eles começaram as homenagens a São Benedito
A edição de 2024 da festividade foi “São Benedito, Lírio de Pureza, fazei-nos vossos imitadores!” O pesquisador e diretor da Faculdade de História do Campus da Universidade Federal do Pará em Bragança, Dário Rodrigues, que também participa da coordenação da Festividade de São Benedito, explica que o tema busca “chamar a atenção das pessoas para a caridade e virtude do padroeiro” e está ligado as ladainhas de São Benedito, que os escravos rezavam em latim.
O santo ainda está presente na cidade de Bragança graças a uma estátua do mirante,que fica na localidade de Camutá, de frente ao rio Caeté, que é percorrido no Círio das águas.
Para este ano, já foi anunciada uma novidade no evento: o retorno dos Juízes de honra. Assim, 12 homens foram nomeados para ajudar na organização da festa. Será deles a tarefa de carregar o andor com a imagem do Santo Preto até o lado de fora da Catedral dando início ao Círio do Glorioso 2025.
Mais Marujadas
Há Marujada também nas cidades de Augusto Corrêa, Capanema, Primavera, Quatipuru, Tracuateua na região bragantina do Pará; e também ocorre em Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém, onde, em 2025, será realizada a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30).
Na cidade de Quatipuru, por exemplo, a celebração começou dia 28 de dezembro e seguiu até 2 de janeiro, com a derrubada de mastros e últimas homenagens à São Jorge. Em Capanema e Tracuateua, as Marujadas promovem, também, o culto a São Sebastião.
Em cada cidade paraense a Marujada têm especifidades e até ritos próprios e todas passaram a ser consideradas Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil em 2024 após emissão do Parecer Técnico e o Dossiê de Registro das Marujadas de São Benedito no Pará.
Mergulhe com a Amazônia Latitude nas celebrações únicas da Marujada de Bragança nesta fotogaleria especial sobre essa manifestação que agora reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil.
Texto e montagem de Página: Glauce Monteiro
Fotos: Bruno Cecim, Carlo Sandro, Denise Sá, Flávio Contente, Iza Girar, Marco Santos e Mário Quadros (Agência Pará)
Direção: Marcos Colón