Fotogaleria: Carnaval e o Boi de Máscaras de São Caetano de Odivelas
Cidade paraense guarda tradição carnavalesca que tem influência das commedia dell’arte


Encontro entre “Perrô” e Boi em São Caetano de Odivelas. Foto: Oswaldo Forte / Amazônia Latitude.
Um pierrô amazônico? Temos sim! No nordeste do Pará, a cidade de São Caetano de Odivelas mistura mitos e festas em um espetáculo carnavalesco único. O Boi de máscaras sai às ruas com seu cortejo de “Perrô” – ou palhaços – e sem deixar para trás o “cabeludo” e o “buchudo” também.
O teatro de rua usa técnicas de papel marchê para criar máscaras e adereços que dão vida aos personagens. E atenção: por aqui a identidade dos mascarados precisa se manter anônima.
O enredo carnavalesco que tem eventos também durante as festas juninas leva um boi-bumbá às ruas da cidade. É na orla que o “Boi-mimético” se encontra com os músicos da banda e, pouco a pouco, arrasta os foliões.
Nos dias de apresentação pública, o Boi de Máscaras sai acompanhado pelos músicos e por um pequeno grupo de brincantes e de observadores. O número de participantes cresce ao longo do cortejo até que, paulatinamente, se transforma em uma festa”
É o que explica Paulo de Tarso Júnior na dissertação “Máscaras, mascarados e oprimidos: do boi de máscaras de São Caetano de Odivelas ao Teatro de Rua do bairro da Terra Firme”.
O palhaço narigudo com capacete engraçado?
Para ele, a manifestação cultural de São Caetano une elementos da “farsa burlesca” a um tipo específico de “experimentação teatral” com a Amazônia como cenário, em um encontro que tem influência dos “pierrôs” da commedia dell’arte européia, ou seja, vindos da manifestação de teatro profissional que surgiu na itália entre os séculos XVI e XVIII.
Ainda de acordo com o pesquisador, os “palhaços” desembarcaram na Amazônia nos circos que visitavam a região no século XIX e se somaram ao boi-bumba já “brincado” em solo paraense.
O “palhaço” do Boi de Máscaras amazônico possui um capacete com três pontas, usa macacão multicolorido listrado feito de cetim e um pano que cobre sua cabeça.
Entre os brincantes se costuma dizer que a identidade deste “Perrô” precisa continuar anônima. Coberto dos pés à cabeça por sua indumentária, apenas parte dos olhos fica a mostra enquanto ele dança em volta do boi.
Outra característica única é seu nariz pontudo. A arte de confecção das máscaras dos “Perrôs” é um conhecimento/encantaria repassada entre gerações.
O uso de máscaras proporciona uma espécie de negociação entre o mascarado e o público, que ao participar da ação ritual, atribui sentido ao objeto performático. Essa ritualização do ato de mascarar-se (energia do corpo) e de compor um personagem (encenação) significa a compreensão de um vínculo entre cultura, pessoa e identidade relacionados aos papéis que se aproximam, que se mesclam e que se distanciam em algumas culturas amazônicas”.
Já o formato diferente do adorno que ele usa na cabeça parece o que de fato foi um dia: um candelabro. Em entrevista com brincantes, Paulo de Tarso encontrou relatos de que quando a cidade não tinha fornecimento de energia elétrica, o capacete do “Perrô” com suas três pontas carregava lampiões que ajudavam a iluminar a noite e guiavam o boi pelas ruas da cidade.
Além do “Perrô/palhaço”, como é chamado o personagem em São Caetano, o Boi de Máscaras tem ainda outras companhias marcantes. Um dos mais adorados é o “Cabeçudo” que usa uma máscara desproporcional, imitando a cabeça de um homem e que é vestida por um brincante. Desengonçado e irreverente, ele brinca entre o público e faz gestos de cortesia e reverências sendo uma conexão entre quem usa as máscaras e quem acompanha o cortejo.
Há ainda o “Buchudo”. Um personagem que não tem uma indumentária específica e nem uma coreografia pré-ensaiada, mas que segue os palhaços e cabeçudos pelas ruas e se mistura à multidão mais facilmente que seus colegas. Ele é a “representação cômica do medo revertido em zombaria”, explica o pesquisador.
Quem “perdeu” o cortejo do Boi de máscara de São Caetano de Odivelas no carnaval ainda tem a chance de ver de perto essa tradição popular, que se renova também durante as festas juninas de São Caetano de Odivelas.
Mergulhe com a Amazônia Latitude nas celebrações únicas do Boi de Máscaras de São Caeteno de Odivelas nesta fotogaleria especial do fotojornalista Oswaldo Forte.

Detalhes da vestes do “Perrô” do Boi de Máscara de São Caetano de Odivelas. Foto: Oswaldo Forte / Amazônia Latitude.

Grupo de “Perrôs” chegando na orla da cidade de São Caetano de Odivelas antes do desfile de carnaval. Foto: Oswaldo Forte / Amazônia Latitude.

Identidade de brincantes deve permanescer misteriosa. Foto: Oswaldo Forte / Amazônia Latitude.

Público se junta ao Cortejo no Boi de Máscaras. Foto: Oswaldo Forte / Amazônia Latitude.

Boi de Máscara e grupo de “Perrô” no Carnaval 2024 em São Caetano de Odivelas. Foto: Oswaldo Forte / Amazônia Latitude.

Cabeçudo dança descontraído em volta de “Palhaços” durante Boi de Máscara. Foto: Oswaldo Forte / Amazônia Latitude.

Festa do Boi de Máscaras toma conta das ruas durante o Carnaval. Foto: Oswaldo Forte / Amazônia Latitude.

“Perrôs” seguem coreografia. Foto: Oswaldo Forte / Amazônia Latitude.

Detalhe de capacete parece candelabro e era usado para colocar lampiões durante cortejos nortunos quando não havia energia elétrica em São Caetano de Odivelas. Foto: Oswaldo Forte / Amazônia Latitude.

Até 1990 mulheres não tinham permissão para participar do Boi de Máscara. Foi quando elas começaram a se vestir de “Perrô”. Foto: Oswaldo Forte / Amazônia Latitude.

Detalhes da máscarra de “Perrô”. Adorno é produzido com papel marchê. Foto: Oswaldo Forte / Amazônia Latitude.

Pesquisa revela que personagem chegou à Amazônia no início do século XX cos circos europeus. Foto: Oswaldo Forte / Amazônia Latitude.

Costume diz que identidade de “Perrôs” deve continuar um mistério durante as apresentações. Foto: Oswaldo Forte / Amazônia Latitude.

Menino experimenta máscara e chapéu de “Perrô”. Foto: Oswaldo Forte / Amazônia Latitude.
Texto e Montagem de Página: Glauce Monteiro
Fotos: Oswaldo Forte
Direção: Marcos Colón