A arte de conceber: em homenagem às escritoras do Norte
Uma homenagem pelo Dia Internacional da Mulher de Sandra Godinho para todas as escritoras do norte, invisibilizadas mas ainda fortes


Escritoras amazonenses carregam região em poemas, crônicas e histórias.
Fotos: Acervo pessoal / Redes Sociais. Arte: Fabrício Vinhas / Amazônia Latitude
8 de março não é uma data qualquer e, por mais que se tenha dito que o dia da mulher é todo dia ou que é o dia que ela quiser, de fato, ele simboliza que a luta das mulheres para a igualdade de direitos entre os gêneros ainda se faz necessária. Depois do aumento do número de feminicídios ou da descoberta recente, dentro do nosso meio editorial, de um clube misógino de escritores renomados, resta-nos a constatação de que há ainda muito a fazer.
Não desprezo as conquistas alcançadas dentro do meio literário, onde me insiro.
Vimos aflorar a produção literária de autoria feminina por todo o país ultimamente. Mulheres brancas, negras, indígenas, quilombolas, portadoras de alguma deficiência, têm publicado por editoras independentes, por autopublicação ou pelo intermédio de editais públicos. Reconheço o avanço. Já não somos guardadas à sombra, nem usamos pseudônimos para publicar; tampouco somos consideradas loucas, apenas por querer escrever.
No entanto, para as autoras da região Norte, pouco avanço foi conseguido em comparação ao mercado editorial nacional. À exceção de Violeta Branca e Astrid Cabral, o resto do país não faz ideia de que aqui escrevemos poesia, conto, romance, crônica e dramaturgia.
Felizmente, Verenilde Pereira está sendo resgatada do limbo, a primeira representante da literatura afro-indígena amazonense, mas há outras, inúmeras, produzindo com temática e estilo próprio, representando a mulher, que nunca foi uma, mas várias nesta região, originárias de uma linhagem que carrega o peso do mundo e vive em silenciosas lágrimas. Lágrimas pelas mulheres que se foram e pelas que ainda virão, sabendo que a luta é contínua e prioritária para dirimir a assimetria negativa de poder entre homens e mulheres.
Faço aqui minha reverência a cada autora que traz dentro de si uma vivência singular dentro deste pedaço de mundo. Minha homenagem é para cada uma delas:
Márcia Kambeba, Marta Cortezão, Rita Alencar Clark, Myriam Scotti, Franciná Lira, Leila Plácido, Leila Leong, Beth Azize, Neiza Teixeira, Neide Gondim, Déborah Bacelar, Elaine Andreatta, Ecila Mabelini, Iná Isabel, Giele Vieira, Gracinete Felinto, Hyldevídia Cavalcante, Laís Fernanda Borges, Lucila Bonina, Sílvia Grijó, Iziz Negreiros, Virna Lisi, Rakel Caminha, Luciana Nobre, Simone Garcia, Sayonara Melo, Francisca de Lourdes Loro, Rita Barbosa, Maria Luiza Brasil, Anete Valdevino, Luciana Nunes, Cátia Taboada, Liz Valente, Mayanna Velame, Raimunda Schaeken, Roberta Veras Antônio, Socorro Barroso, Teresa Barroso, Márcia Antonelli, Suzy Freitas, Tina Gama, Greice Cordeiro, Aline Macena, Ana Karoline Ribeiro, Arlene Paiva, Auriclea Neves, Cecília Rodrigues de Souza, Dryelli Mello, Fátima Lira, Irlen Bench, Isabella Cristina Cardoso, Joana Baraina, Rebeca Beatriz, Luziene Pinheiro e tantas mais que não nomeio apenas por descuido da memória, por esta falta peço desculpas antecipadas.
Toquem as palavras como quem busca a alma de uma lágrima, toquem as palavras como quem busca a superfície para desafogar seus interditos, porque escrever é outro modo de viver ou de lutar.
Sandra Godinho é graduada e mestre em Letras. É membro da Academia Internacional de Literatura Brasileira (AILB). Com Orelha lavada, infância roubada (2018), recebeu Menção Honrosa no 60º Prêmio Literário Casa de Las Américas (2019), e com Verso do reverso (2019) ganhou o Prêmio Regional de Melhor Livro de Contos da Cidade de Manaus. Seu romance Tocaia do Norte (2020) venceu o Prêmio Cidade de Manaus 2020 e foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura em 2021. Outra obra sua, A morte é a promessa de algum fim, recebeu o Prêmio Cidade de Manaus 2021, e também o Prêmio Focus Brasil NY/AILB 2022. Tem ainda dois romances finalistas do Prêmio Leya de 2021 e 2022, Memórias de uma mulher morta e A Secura dos ossos.
Montagem de página e acabamento: Alice Palmeira
Arte e Montagem do site: Fabrício Vinhas
Revisão: Glauce Monteiro
Direção: Marcos Colón