Fotogaleria: Sabores da COP 30 – de Belém para o Mundo
Revista inglesa especializada destaca sede da COP 30 como um dos melhores lugares do mundo para viver experiências gastronômicas em 2025


Revista inglesa Lonely Planet indica Saboras de Belém como importante experiência gastronômica. Foto: Pedro Guerreiro / Agência Pará.
Maniçoba, tacacá, tucupi, cupuaçu, castanha do Pará e açaí. Sabores típicos da Amazônia que acabam de ser indicados para o mundo. Belém, a sede da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), foi indicada como um dos de melhores destinos turísticos gastronômicos em 2025 pela revista inglesa Lonely Planet.
A publicação destaca a cada ano os lugares “mais incríveis do planeta para vivenciar experiências culinárias autênticas e memoráveis” e, desta vez, fala de pratos, frutas e temperos bem conhecidos entre os moradores de Belém. Mas o que torna a capital paraense tão boa de se “provar”?
A indicação de sabores vai muito além do já reconhecido mundialmente açaí – que está em processo de se tornar uma commodity agrícola financeirizada , o que ameaça a segurança e a cultura alimentar da população amazônica. Outros frutos e frutas amazônicas são indicados para turistas. A variedade de vegetais na Amazônia é incomparável, sim, graças à biodiversidade da região, mas este não é o único motivo de tantas “opções”.
O consumo de raízes, sementes, frutas, folhas e outros derivados da flora foi potencializado por um milenar processo de desenvolvimento e seleção de alimentos feito por sociedades tradicionais da região. Uma ciência tão avançada que criou um conjunto de opções a partir de processos de preparo que converteram até o que era um “veneno” em “comida”.
Um dos principais exemplos dessa experiência social e tecnológica que foi conduzido por sociedades indígenas é a “domesticação” de espécies. A raiz de mandioca (Manihot esculenta Crantz) é uma fonte de proteína hoje muito conhecida, mas suas folhas não deveriam ser ingeridas devido à elevada presença de ácido cianídrico. Ainda sim, sociedades amazônicas criaram a partir dela um dos mais famosos pratos típicos do Pará: a maniçoba. Uma espécie de “feijoada” feita com a maniva, ou seja, com a folha de mandioca triturada (sim, aquela venenosa!) e combinada com uma variedade de proteínas e temperos.
O principal segredo é o tempo de cozimento. A folha triturada é cozida por sete dias para que o calor desse lento processo quebre os glicosídeos cianogênicos e, assim, libere o ácido cianídrico na forma de gás. Assim, ele se dissipa deixando “para trás” um prato muito apreciado na região especialmente durante o Círio de Nazaré.
A ciência do que se come e o turismo gastronômico
Para o antropólogo Romero Ximenes, professor aposentado da Universidade Federal do Pará, a gastronomia é tão importante no Pará que, diferente do que ocorre em muitas culturas, a própria noção de “pertencimento” e “identificação” regional passa pelo que se come. Ele cita o exemplo da frase “chegou ao Pará, parou. Tomou açaí, ficou”, muito usada na região.
É algo tão além que, por aqui (e não é apenas sobre o açaí), um ‘estrangeiro’ pode ser considerado ‘paraense’ quando ele ‘come como um paraense’ e, ao contrário, alguém que não compartilha dessa tradição culinária do peixe com açaí, da maniçoba no círio, do tacacá quente vendido nas ruas da cidade em pleno meio dia ou do tomar café com pupunha ou macaxeira cozida de tarde…se ele não se alimenta desta forma, mesmo alguém de Belém pode passar ou ser visto como um ‘forasteiro’ mesmo que tenha ‘nascido na capital’”.
A também pesquisadora da Universidade Federal do Pará, a historiadora Sediana Macêdo ressalta em sua tese “A cozinha mestiça: uma história da alimentação em Belém” como a ancestralidade indígena se associou à influência africana dos escravizados trazidos para o estado do Pará e também à presença, principalmente, portuguesa durante a colonização na região.
Mesmo pratos que têm sua origem indígena tiveram sua forma de preparo ou ingredientes modificados pelas demais culturas das populações que chegaram na Amazônia depois. Um exemplo é o tacacá que recebeu o “camarão” por influência portuguesa. Antes, o prato levava peixes como proteína.
Na publicação da Lonely Planet, além dos pratos, ingredientes e frutas, locais como a Feira do Ver-o-Peso e a Ilha do Combu são também indicados para quem quer “experimentar” Belém e o potencial turístico gastronômico da região não passa despercebido aos gestores locais. Pará.
“O reconhecimento de Belém como um dos grandes destinos gastronômicos do mundo reforça aquilo que nós, paraenses, já sabemos há muito tempo: nossa culinária é uma das mais ricas, originais e potentes expressões da cultura brasileira. É a floresta servida à mesa, com sabores ancestrais que contam a história dos nossos povos. Esse destaque internacional fortalece o turismo do Pará, impulsiona nossa economia e nos prepara ainda mais para receber o mundo durante a COP 30, mostrando que sustentabilidade também se faz com respeito às raízes e à biodiversidade”, afirma o secretário de Turismo do Pará, Eduardo Costa.
Para o chef Saulo Jennings, a capital paraense “é esse grande palco onde as cozinhas do interior do estado se encontram. Aqui a gente sente o sabor do Marajó, do Salgado, do Tapajós, do Xingu, do sul do Pará… Tudo isso desemboca em Belém”.
O potencial regional paraense em novos produtos para “comer e beber” também tem sido explorado ao longo dos anos. Além de linhas de cosméticos a partir de sementes e frutas, a produção de bebidas alcoólicas a partir da biodiversidade regional também já acumula produtos importantes como cervejas de frutas como bacuri e cupuaçu e a já icônica cachaça de jambu que aproveita o “tremor” que a folha amazônica causa na boca de quem a prova.
Alguns dos lugares, pratos e ingredientes dessa rica culinária estão reunidos nesta fotogaleria especial que a Amazônia Latitude preparou com imagens da Agência Pará.

Maniçoba é um dos principais pratos paraenses e tende a ser mais consumida durante o Círio de Nazaré. Foto: Agência Pará.

A raiz de mandioca (Manihot esculenta Crantz) é uma fonte de proteína hoje muito conhecida, mas suas folhas – principal ingrediente da maniçoba – não deveriam ser ingeridas devido à elevada presença de ácido cianídrico. Foto: Mácio Ferreira / Agência Pará.

Comer açaí com peixe frito é um hábito paraense. Foto: Pedro Guerreiro / Agência Pará.

Açaí é uma fruta redonda e pequena que nasce em uma palmeira na Amazônia. Foto: Mácio Ferreira / Agência Pará.

“Apanhar” o açaí requer o uso de uma “peconha” para subir nas palmeiras. Foto: Mácio Ferreira / Agência Pará.

Em 2024, o Pará foi o líder absoluto na produção de açaí no Brasil, responsável por mais de 90% da produção nacional, com cerca de 1,7 milhão de toneladas. Foto: Pedro Guerreiro / Agência Pará.

Do Açaí são feitos subprodutos, inclusive um tipo de bombom regional com chocolate. Foto: Agência Pará.

A farinha de mandioca produzida principalmente pela agricultura familiar e/ou cooperativas e associações é um dos principais ingredientes da culinária paraense. Foto: Mácio Ferreira / Agência Pará.

o Tucupí é um líquido extraído da mandioca durante o processo de produção de farinha. Foto: Pedro Guerreiro / Agência Pará.

Cachaça feita de jambu, uma planta local, faz “tremer os lábios”. Foto: Pedro Guerreiro / Agência Pará.

A Castanha do Pará é um tipo de semente que nasce em grandes árvores e fica “acomodado” dentro de “ouriço” que despencam do alto dos vegetais. Foto: Pedro Guerreiro / Agência Pará.

“Descascadores de castanha” são visto pelas ruas de Belém produzindo porções da fruta no comércio local. Foto: Pedro Guerreiro / Agência Pará.

Pupunha com açaí é uma iguaria paraense. Foto: Pedro Guerreiro / Agência Pará.

Mercado de Ferro no Ver-o-Peso é símbolo cultural no Pará. Foto: Agência Pará.

Revista inglesa Lonely Planet indica visitar Ilha do Combu, em Belém, para quem quer experimentar sabores da cidade sede da COP 30 deste ano. Foto: Augusto Miranda / Agência Pará.
Fotos: Agência Pará
Texto e Montagem da Página: Glauce Monteiro
Revisão: Alice Palmeira
Direção: Marcos Colón