Fotogaleria: Do Círio à COP30, Belém em transformação espiritual e estrutural
Imagens registram a 233ª edição do Círio de Nazaré, que reuniu cerca de 2,5 milhões de romeiros em ruas históricas marcadas por obras da COP30


Belém voltou a inundar as ruas. A 233ª edição do Círio de Nazaré reuniu aproximadamente 2,5 milhões de romeiros
em um ato de devoção que é a maior manifestação religiosa do Brasil.Foto: Alex Ribeiro/Ag. Pará.
No último domingo, 12 de outubro, Belém voltou a inundar as ruas de fé. A 233ª edição do Círio de Nazaré reuniu aproximadamente 2,5 milhões de romeiros, que percorreram 3,6 quilômetros em um ato de devoção. A procissão, considerada a maior manifestação religiosa do Brasil, atravessou o Centro Histórico da cidade, passando por marcos como o Ver-o-Peso e a Estação das Docas, até chegar à Basílica Santuário, onde a imagem de Nossa Senhora de Nazaré permanece durante todo o resto do ano.
A origem do Círio remonta ao século XVIII, quando, em 1700, o caboclo Plácido José de Souza encontrou uma pequena imagem da santa às margens do Igarapé Murutucu. Acredita-se que, após levá-la para casa, a representação retornava misteriosamente ao local de origem. Esse fenômeno despertou a devoção popular, levando à construção de uma capela. Em 1793, foi realizada a primeira procissão em homenagem à Nossa Senhora de Nazaré, marcando o início de uma tradição que perdura até hoje.
Este ano, no entanto, o Círio coincidiu com um momento de visibilidade inédita para Belém, que se prepara para sediar a Conferência das Partes (COP30). Neste outubro, a cidade se transforma em dois sentidos: espiritualmente, para acolher os romeiros, e estruturalmente para receber um evento internacional, com obras, reformas e promessas de “legado”.
No mesmo espaço em que os fiéis avançaram descalços puxando a corda, operários trabalham na pavimentação de vias, limpeza dos canais e na requalificação de espaços públicos. Parte dessas obras, no entanto, tem sido alvo de críticas por afetar comunidades periféricas e áreas ambientais. Na Vila da Barca, a nova estação elevatória passou a receber o esgoto redirecionado de bairros como Nazaré e Umarizal, antes despejado na Nova Doca. Moradores relatam mau cheiro, lama e ausência de diálogo, já que muitas casas sobre palafitas seguem fora da rede. A Avenida Liberdade, projetada para melhorar o trânsito, corta áreas de floresta e comunidades tradicionais como o quilombo Abacatal, provocando críticas sobre desmatamento e violação de direitos territoriais.
Entre os pontos de transformação está o complexo Porto Futuro II, que revitalizou os armazéns históricos da zona portuária e se tornou símbolo da Belém que tenta se reinventar para receber o mundo. O projeto, com mais de 50 mil metros quadrados, abriga espaços culturais, gastronômicos e de inovação, e chegou praticamente concluído às vésperas do Círio.
A maior expressão cultural e religiosa de Belém demonstra a capacidade da cidade de acolher multidões. Em dois dias, a capital paraense recebe mais gente do que o esperado para todo o evento internacional. A diferença está nas necessidades de cada público. Os devotos chegam de todas as partes da Amazônia e do país, hospedam-se na casa de parentes, ocupam as ruas, dormem em redes e compartilham comida e fé. As delegações internacionais da COP trarão outro tipo de presença, marcada por protocolos, necessidades de infraestrutura e demandas que vão muito além da hospitalidade espontânea habitual.
Durante a procissão, as ruas belenenses tornam-se rios de gente que transborda fé. Cada passo do cortejo é acompanhado por cânticos, flores e promessas, enquanto famílias e comunidades inteiras acompanham a imagem de Nossa Senhora de Nazaré. Nesse transbordar do rio de romeiros e o horizonte de obras, a cidade reafirma seu caráter coletivo. Acompanhe a fotogaleria com imagens de Vinicius Pinto, Rodrigo Pinheiro, Bruno Cruz e Alex Ribeiro, da Agência Pará, e veja como a tradição e mudanças se cruzaram nas esquinas de Belém neste Círio 2025.

O Círio é uma história viva, e ela está na face, no gesto e na promessa de cada fiel. Foto: Alex Ribeiro/Ag. Pará.

No trajeto de 3,6km, os fieis renovam sua fé e seus pedidos e agradecimentos para Nossa Senhora de Nazaré. Foto: Alex Ribeiro/Ag. Pará.

Cada passo é um cântico, uma promessa e a reafirmação do caráter coletivo da capital paraense. Foto: Alex Ribeiro/Ag. Pará.

O Círio é a materialização da fé, mas a essência é a imaterialidade do gesto, do suor e da promessa. Foto: Alex Ribeiro/Ag. Pará.

A energia que levanta essa imagem é a mesma que sustenta o tecido comunitário, superando as urgências estruturais da cidade. Foto: Alex Ribeiro/Ag. Pará.

O destino é a Basílica Santuário, mas o caminho é a celebração da identidade. Nesse ato, a cidade reafirma sua capacidade de acolher multidões. Foto: Vinicius Pinto/Ag. Pará.

A força das mãos que puxam a Corda é a mesma que sustenta essa tradição desde 1793. Foto: Alex Ribeiro/Ag. Pará.

Flores, cânticos e promessas: o Círio é a maior expressão cultural e religiosa de Belém e um exemplo de como a fé popular organiza e move a cidade. Foto: Alex Ribeiro/Ag. Pará.

Famílias e comunidades inteiras acompanham a imagem. O verdadeiro legado de Belém não são as obras, mas sim a hospitalidade espontânea e a rede de apoio que sustenta esta festa há 233 anos. Foto: Vinicius Pinto/Ag. Pará.

Em Belém, a tradição e as mudanças se cruzam nas esquinas. Enquanto os fiéis avançam em devoção, operários trabalham na pavimentação das vias para receber um evento internacional. Foto: Vinicius Pinto/Ag. Pará.

O Porto Futuro II chegou quase concluído às vésperas do Círio, sendo o símbolo da Belém para “receber o mundo”. Foto: Vinicius Pinto/Ag. Pará.

Além da devoção, o Círio move a economia da cultura. Artesanato, culinária e manifestações populares se unem, promovendo o desenvolvimento e a renda. Foto: Vinicius Pinto/Ag. Pará.

A Berlinda se destaca, simbolizando a chegada à Basílica e a renovação das promessas. Cada luz é um fiel, cada brilho é uma prece. Foto: Bruno Cruz/Ag. Pará.

Os devotos, que chegam de todas as partes da Amazônia e do país, são os guardiões vivos de uma tradição que se renova a cada segundo domingo de outubro. Foto: Rodrigo Pinheiro/Ag. Pará.

Sob as luzes da cidade, a fé se torna visível. Essa imensa presença popular, que ocupa as ruas e compartilha fé, contrasta com a presença marcada por protocolos da COP30. Foto: Bruno Cruz/Ag. Pará.

A imagem, com seu manto ricamente bordado, é o centro da devoção. Cada detalhe do manto é uma obra de arte da fé, representando o cuidado e a reverência do povo à Nossa Senhora de Nazaré. Foto: Bruno Cruz/Ag. Pará.

A Procissão. A fé em movimento que atravessa gerações. Aqui, o sagrado e o popular se encontram e nos lembram do poder da articulação comunitária e da cultura viva. Foto: Bruno Cruz/Ag. Pará.

Celebrar o Círio é honrar a origem popular, ribeirinha e cabocla da nossa fé. É defender o patrimônio imaterial das comunidades que guardam essa memória. Foto: Vinicius Pinto/Ag. Pará.

A cidade se transforma estruturalmente, mas a sua alma e se encontra no rio de romeiros que transborda fé e reafirma sua identidade histórica e cultural. Foto: Vinicius Pinto/Ag. Pará.
Texto e Montagem da página: Alice Palmeira
Revisão: Juliana Carvalho
Fotografias: Agência Pará
Direção: Marcos Colón