Áreas indígenas e de proteção freiam destruição da Amazônia, mostra estudo

Apenas 5% do desmatamento observado entre 2000 e 2021 aconteceu nessas áreas, revela pesquisa da Universidade de Oklahoma

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Indígenas em protesto contra a transferência da demarcação de suas terras para o Ministério da Agricultura, em Março de 2019. Foto: APIB.

RESUMO

  • Entre 2000 e 2021, territórios indígenas ou áreas de proteção ambiental aumentaram para cobrir aproximadamente 52% da floresta amazônica brasileira
  • Essas áreas respondem por apenas 5% do desmatamento líquido observado no período
  • A pesquisa conduzida pela Universidade de Oklahoma (EUA) em parceria com Inpe e Inpa combinou diferentes técnicas de medição para obter mapas mais precisos
  • Publicado na Nature Sustainability, o estudo conclui que os territórios indígenas e as áreas de preservação têm papel fundamental para conter a destruição da Amazônia

Terras indígenas e áreas de preservação são fundamentais para a conservação da Amazônia brasileira, mostra um estudo liderado por pesquisadores do Centro de Observação e Modelagem da Terra da Universidade de Oklahoma (EUA).

O estudo analisou imagens de satélite de séries temporais de 2000 a 2021, revelando o papel vital dos territórios indígenas e áreas protegidas na conservação da floresta na Amazônia brasileira. Os resultados publicados na Nature Sustainability chamaram a atenção para os impactos negativos das políticas governamentais de conservação enfraquecidas nos últimos anos.

Desde 2000, os territórios indígenas e as áreas de proteção ambiental aumentaram substancialmente na Amazônia brasileira. Até 2013, essas demarcações representavam 43% da região e cobriam aproximadamente 50% da área total da florestal.

No entanto, persistem tensões entre a conservação da floresta e os objetivos de alguns setores que exploram a região. Nos últimos anos, a conservação da Amazônia tem sido ameaçada por grandes mudanças socioecológicas no Brasil. O enfraquecimento das políticas e fiscalização ambiental e a pandemia de covid tiveram impactos devastadores sobre os grupos indígenas da região.

Neste estudo colaborativo EUA-Brasil, os pesquisadores Yuanwei Qin, Xiangming Xiao e Fabio de Sa e Silva, da Universidade de Oklahoma, trabalharam com colaboradores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). A equipe combinou várias fontes de dados para documentar e quantificar a dinâmica e o impacto da perda florestal na Amazônia brasileira nas últimas duas décadas.

Combinação de imagens para mapas mais precisos

Devido à frequente cobertura de nuvens e fumaça induzida por incêndios na Amazônia, os mapas florestais anuais a partir de análises de imagens têm precisão apenas moderada. Em um artigo de 2019 publicado na mesma revista, a equipe de pesquisa combinou dados de imagem de sensores ópticos e de microondas para gerar mapas anuais da floresta amazônica brasileira. Usando esses mapas, eles avaliaram os efeitos dos territórios indígenas e áreas protegidas na dinâmica do desmatamento na Amazônia brasileira até 2021.

“Entre 2000 e 2021, as áreas designadas como territórios indígenas ou áreas de proteção ambiental aumentaram para cobrir aproximadamente 52% da floresta amazônica brasileira, respondendo por apenas 5% da perda florestal líquida e 12% da perda florestal bruta no período”, disse Qin. “Esta descoberta destaca o papel vital dos territórios indígenas e das áreas de proteção para a conservação da floresta na região.”

As áreas de proteção na Amazônia brasileira estão sujeitas a diferentes arranjos de governança estaduais e nacionais e têm diferentes objetivos de gestão, incluindo proteção integral ou uso sustentável. Os pesquisadores descobriram que, de 2003 a 2021, a perda bruta de floresta caiu 48% nas áreas de proteção integral e 11% nas áreas de uso sustentável.

“Esses efeitos variados na conservação da floresta exigem análises específicas mais aprofundadas por parte dos pesquisadores e convidam as partes interessadas, os tomadores de decisão e o público a reavaliar as políticas existentes para essas áreas., disse Sa e Silva.

As reservas legais são importantes, mas se a lei não for aplicada, a proteção pretendida das florestas e da biodiversidade será ilusória. Essa é uma área em que o Brasil está falhando conscientemente.
Fabio de Sa e Silva, professor assistente de estudos internacionais da Universidade de Oklahoma

Política florestal e desmatamento

Os resultados do estudo também mostram que a perda anual de área florestal foi afetada pelas políticas florestais brasileiras.

Houve uma grande redução da perda de área florestal no início dos anos 2000 até meados dos anos 2010, correspondendo ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003 -2010). Os dados também revelam um aumento constante da perda de área florestal mesmo entre os territórios indígenas e as áreas protegidas de 2019 a 2021, período que corresponde ao governo do presidente Jair Bolsonaro (2019-2022).

“Reconstruir políticas efetivas e reduzir a perda de área florestal na Amazônia brasileira nos próximos anos será um dos grandes desafios do governo Lula e das comunidades internacionais”, disse Xiao.

*Esta notícia é uma adaptação e tradução da publicada por Chelsea Julian, da Universidade de Oklahoma
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