Proteger a natureza é inteligência, diz representante do coletivo Wyka Kwara

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Militantes e representações indígenas debatem sobre as consequências da exploração da Amazônia

Na manhã deste sábado (30), penúltimo dia do X Fórum Social Pan-Amazônico (FOSPA), lideranças indígenas e militantes de movimentos sociais se reuniram na Casa da Mãe Terra para debater o “Ecossocialismo ou a extinção: a luta em defesa da Amazônia no enfrentamento à crise climática global”. O evento foi organizado pelo coletivo estudantil Afronte.

O Ecossocialismo compreende novas formas de produção que se preocupem com a vida. Não a sustentabilidade pregada pelo capitalismo, que desapropria casas e remove povos de locais ocupados e protegidos há milênios. E a preservação da Amazônia, em toda sua grandiosidade de cultura e biodiversidade, é o principal ponto desse debate.

Miguel Khawary abriu a mesa saudando os presentes com uma canção. O líder indígena destacou que muitos aspectos da cultura dos povos milenares foram perdidos no processo de gentrificação instaurado no Brasil com a chegada dos colonizadores.

A imposição de nomes portugueses, a proibição dos cultos religiosos e o apagamento total dos registros oficiais das nações indígenas são apenas alguns dos exemplos desse processo citados por Khawary.

“O estado brasileiro vêm apagando culturas indígenas desde o começo. Trocaram nossos nomes, dizem ter extinguido nossas culturas, nossos idiomas. Não somos brasileiros! Nós somos tupiniquins, somos cariris, somos apianga. Somos esses povos que eles dizem que estão extintos, que não existem.”, afirmou.

A indignação dos indígenas tem motivo. Khawary disse que apenas 10% do território brasileiro é reconhecidamente indígena e ou quilombola e boa parte dessa terra é predada por atividades exploratórias como garimpo e madeireiras ilegais. Enquanto isso, as políticas implementadas pelo país fazem pouco ou nada para combater essas atividades ilegais e proteger o território das comunidades milenares.

Sem Amazônia, sem futuro

Para Khawary não existe futuro sem a Amazônia, por isso, proteger a floresta e a natureza não deve estar atrelado a agendas políticas de governos. Proteger a natureza, na opinião do líder indígena, é inteligência e bom senso. “Toda a degradação ambiental dos últimos séculos está cobrando seu preço: a água está acabando, esse está sendo o ano mais quente do século”, explicou.

Marquinho Mota, indigenista e membro do Fórum da Amazônia Oriental (FAOR), concordou. “Não existe sustentabilidade que mata a sua origem, que prejudica povos e animais. Eles vendem a exploração da floresta como desenvolvimento. Como a gente pode ter desenvolvimento com um monte de gente morrendo?”.

Mota ressaltou a dificuldade de pessoas que moram na cidade se aceitarem como parte desse sistema, como os amazônicos. Segundo o pesquisador, tudo está interligado. A Amazônia é um ser vivo, sem separação entre o que são plantas, o que são rios e o que são seres humanos – tudo é uma coisa só. Agredir esse equilíbrio natural é atentar contra nossa própria vida.

As hidrelétricas, os projetos de mineração não afetam só quem vive na floresta. Exemplo disso é o que aconteceu após a instalação da hidrelétrica no rio Madeira em Rondônia que mais de um milhão de quilos de peixes morreram na foz e o impacto foi sentido em Santarém.

A mobilização deve ser coletiva, abrangendo áreas urbanas e rurais, jovens e adultos, negros, indígenas e não-racializados. Carol Lucena, da Bancada das Mulheres Amazônidas, destacou o papel dos jovens na mobilização. Segundo a ativista, existe uma movimentação relevante entre jovens. “A nossa resposta tem que ser nas urnas e na cobrança depois. Não adianta tirar o Bolsonaro e deixar um congresso de direita, barrando o Lula. Assim como não adianta também colocarmos ele lá e não cobrarmos, não criticarmos”.

Ana Vitória Monteiro Gouvêa é graduanda em jornalismo da Universidade Federal do Pará (UFPA). Foi bolsista de iniciação científica, além de colaboradora da Revista Brasileira de História da Mídia e do projeto DivulgAí. Estagia na TV Liberal e está produzindo um documentário sobre Barcarena, vencedor do Prêmio Jovem Jornalista 2022 do Instituto Vladimir Herzog.
Imagem em destaque: Ana Vitória Monteiro Gouvêa/Amazônia Latitude

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