Mudanças climáticas afetam crescimento de árvores na Amazônia

Vista aérea de árvores de madeira teca na floresta amazônica.
Um estudo realizado com plantações de teca indica que a intensificação de eventos como o El Niño pode interferir, inclusive, na qualidade da madeira.

Derretimento de geleiras, aumento do nível do mar, secas e inundações anormais são alguns dos resultados da crise climática. Nas últimas décadas, as alterações no clima começaram a afetar, também, o crescimento de árvores e a qualidade de sua madeira em florestas tropicais. É o que mostra um estudo feito por pesquisadores da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), sobre plantios florestais de Tectona grandis Linn F. – conhecida popularmente como teca – na Amazônia. A pesquisa foi publicada no periódico Acta Botânica Brasílica, da Sociedade de Botânica do Brasil.

A teca é uma árvore que costuma ser uma boa opção para plantios de agroflorestas e reflorestamento por seu retorno financeiro. Sua madeira é muito utilizada na marcenaria de móveis nobres, devido à sua coloração peculiar e durabilidade.

Outro uso que eleva o valor da madeira de teca no mercado é a construção naval, visto que é um material muito resistente ao tempo e aos efeitos da exposição à água.

Os resultados do estudo Variações climáticas afetam o período de crescimento de jovens ‘Tectona grandis Linn F.na Amazônia, contudo, alertam sobre o impacto negativo das mudanças climáticas no crescimento das árvores e na qualidade da madeira.

“Essa redução no crescimento tem impacto direto na comercialização do produto, pois quanto menos madeira, menos capital”, alerta João Vicente De Figueiredo Latorraca, doutor em Engenharia Florestal, professor na UFRRJ e co-autor da pesquisa.

Para chegar à conclusão de que as mudanças no clima afetam, sim, a produção de teca, os pesquisadores analisaram dados climáticos locais coletados entre 2007 e 2018. Nesse meio tempo, foi observada a influência do fenômeno El Niño de 2015/2016. O evento é caracterizado pelo aumento da temperatura do oceano Pacífico Equatorial. Durante o período do estudo, o El Niño promoveu o aumento de 0,7 ºC na temperatura da região amazônica.

O estudo foi conduzido em uma dúzia de plantações de teca no sudeste do Pará. Para a análise da largura dos anéis das árvores, foram coletados discos de cada uma das plantações. Além disso, o monitoramento remoto auxiliou na observação de outros aspectos das plantas, como a cobertura das folhas.

“Foi utilizada a técnica de análise de redundância [RDA] para verificar a associação da largura dos anéis de crescimento e do índice de vegetação [analisado por sensoriamento remoto] com as variáveis climáticas”, esclarece Latorraca.

Comparando os períodos pré e pós El Niño, os pesquisadores descobriram que o evento teve influência negativa sobre o crescimento da teca. A duração da estação de crescimento das árvores foi reduzida em mais de vinte dias durante a ocorrência do fenômeno. A associação negativa também foi observada em relação aos anéis, que diminuíram.

De acordo com a pesquisa, a diminuição dos anéis e do período de crescimento da teca aconteceu porque o El Niño “reduziu a precipitação total e aumentou a temperatura média durante o período. Tais variáveis são conhecidas por influenciar o desenvolvimento da teca”.

O professor da UFRRJ lembra que outros estudos já apontaram a intensificação de eventos extremos promovida pelas mudanças climáticas.

“Para florestas tropicais, esses eventos são responsáveis pelo aumento de temperatura e redução da precipitação. Isso gera impacto direto no crescimento de espécies florestais, umas mais, outras menos sensíveis”, afirma.

Outro exemplo citado por Latorraca é o fenômeno La Niña, quando há uma diminuição na temperatura do oceano Pacífico Equatorial e o aumento da precipitação nos trópicos. Os resultados do estudo também implicam que chuvas em excesso ou escassas podem igualmente afetar o estado vegetativo das árvores de teca.

Com mais água disponível, a queda das folhas pode acontecer antes do período esperado. Como a troca das folhas é importante para que a planta absorva nutrientes, a absorção pode ser comprometida se isso acontecer antes do tempo ideal. A redução de nutrientes pode afetar o período de crescimento.

Por outro lado, quando as chuvas ocorrem em menor quantidade, não há cobertura das nuvens e a exposição das plantas ao sol é maior. Nessas condições, a produção de novas folhas é atrasada e as já existentes são expostas a temperaturas elevadas, o que afeta a fotossíntese e, como consequência, reduz o ganho de carbono.

“O sequestro de carbono ocorre principalmente por meio da fotossíntese, no qual as árvores absorvem luz solar, água e CO2 atmosférico. Neste processo, as plantas produzem o próprio alimento e liberam oxigênio e água”, explica Fernanda Dotti do Prado, doutora em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), que não participou da pesquisa.

Atrás dos oceanos, as árvores são responsáveis pelo sequestro de uma grande quantidade de carbono da atmosfera. Antes do desmatamento e das queimadas vistos nos últimos anos, a Floresta Amazônica executava essa função com maestria, sendo considerada um dos maiores sumidouros de carbono do planeta. Apesar dos danos, a floresta ainda retira da atmosfera uma quantidade significativa do gás.

Além da absorção de CO2, uma pesquisa recente indica que as florestas possuem outra função de importância significativa para o bem estar do planeta: manutenção da temperatura. Por meio dos processos de transformação de energia e água e de aspectos biofísicos das árvores, elas podem resfriar o ambiente em cerca de 0,5 ºC.

No caso das florestas tropicais, essa estatística sobe para um 1 ºC de resfriamento. Esses processos também promovem a formação de nuvens e o aumento da precipitação.

“A manutenção de temperatura se dá principalmente pela transpiração e evaporação que ocorre nas árvores, o que também é importante para regular diversos processos hídricos como umidade do solo, sistemas fluviais e sistemas de chuva através das correntes de ar”, acrescenta Prado.

Causada por ações humanas, como o aumento das liberações de gás carbônico na atmosfera, a crise climática acarreta na aceleração do efeito estufa e a intensificação de eventos como o El Niño e o La Niña.

Reduzir ações intensificadoras das mudanças climáticas é essencial para manter o crescimento saudável das árvores de florestas tropicais. Além do caráter econômico de algumas delas, como a qualidade da madeira da Tectona grandis Linn F., o resfriamento do ambiente e a manutenção da quantidade de carbono na atmosfera fazem das árvores importantes mecanismos na resistência ao aquecimento global.

Foto em destaque: “Acima das árvores teca”. Luis Quijada/Unsplash.

 
 

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