O ‘desenvolvimento’ global matou possibilidades e ameaça a vida na Terra

Foto: Marcos Colón/Amazônia Latitude

Foto: Marcos Colón/Amazônia Latitude

Tradução de Flávia Alvim de Carvalho

  • O conceito de “desenvolvimento” foi institucionalizado num discurso de Harry Truman, ex-presidente dos EUA, quando definiu a maior parte do mundo como “áreas subdesenvolvidas” e convocou a superação dessa situação
  • O “desenvolvimento” tornou-se o destino comum da humanidade, uma obrigação inegociável
  • Não faltaram –e não faltam– intervenções que supostamente procuram proteger ou introduzir a democracia como base política para se alcançar o “desenvolvimento” desejado
  • Países periféricos fecharam as portas para as possibilidades de um caminho próprio; marginalizaram seus sonho, capacidades, saberes e práticas ancestrais
  • Alguns países conseguiram entrar no grupo de “emergentes”, mas o que foi alcançado é “desenvolvimento”?
  • Algumas posturas heterodoxas fizeram críticas ao “desenvolvimento” e propuseram novos caminhos, mas de forma limitada, sem questionar os núcleos conceituais desse modelo
  • O “desenvolvimento” (como uma reedição do estilo de vida dos países centrais) é irrepetível em nível global, porque ameaça o equilíbrio ecológico e marginaliza cada vez mais as massas
  • Paradoxalmente, a ânsia de progresso levou os países “desenvolvidos” a se encontrarem, de fato, em situações de subdesenvolvimento
  • À medida que o desencanto se expande, emergem discussões e propostas com crescente força que estão a moldar um cenário de pós-desenvolvimento; muitas delas provêm de grupos tradicionalmente marginalizados e permanentemente explorados
    Urge mudar o rumo e transitar por caminhos pluriversais; caso contrário, o fantasma do “desenvolvimento” continuará provocando destroços e frustrações cada vez mais irreparáveis

Desde meados do século 20, a promessa global de “desenvolvimento” percorre o mundo, impulsionada pelo progresso que constitui uma das bases da modernidade. Com dilemas irresolúveis, as sombras dessa promessa envolvem grande parte do planeta.

Sem negar a vigência de um processo anterior e antigo, por meio do qual os seres humanos procuraram satisfazer da melhor maneira suas necessidades, assumimos o “desenvolvimento” como um mandato global desde 1949. Esta reivindicação foi institucionalizada quando o presidente dos EUA, Harry Truman, no discurso inaugural de seu segundo mandato, definiu a maior parte do mundo como “áreas subdesenvolvidas” e convocou a superação dessa situação. Em poucas palavras, ele estabeleceu um poderoso mandato ideológico, afirmando, inclusive, que: “o velho imperialismo [exploração para benefício estrangeiro] não tem espaço em nossos planos. O que estamos vislumbrando é um programa de desenvolvimento baseado no jogo limpo democrático”.

Consciente de que os Estados Unidos e outras nações industrializadas estavam “no topo da escada social evolucionária” (Wolfgang Sachs), Truman antecipou que todas as sociedades teriam de aspirar a um único objetivo: o “desenvolvimento”. Desde então, iniciou-se aquela que pode ser considerada a maior cruzada da história da humanidade, na qual as maiores diferenças aparecem ao lado dos caminhos, mais do que pelo horizonte.

A metáfora do “desenvolvimento”, tirada da vida natural, ganhou um vigor inusitado. Transformou-se em uma obrigação que, na visão do presidente, implicou na divulgação do modelo norte-americano de sociedade, herdeiro de muitos valores europeus e que se tornou um objetivo a ser alcançado por toda a humanidade. Partindo de outras visões, poderíamos dizer, em oposição a Washington, que também foram forjados modelos de referência como o proposto pela União Soviética e, pouco depois, pela China.

Assim, quando começou a Guerra Fria, em meio ao surgimento da ameaça e do terror nuclear, com o discurso sobre o “desenvolvimento”, uma estrutura dicotômica de dominação foi estabelecida (e se consolidou!): desenvolvido-subdesenvolvido, pobre-rico, avançado-atrasado, civilizado-selvagem, centro-periferia. Até mesmo a partir de posições críticas ao capitalismo, esta dualidade foi, de alguma forma, assumida.

Tudo isso, desconhecendo a enorme complexidade que realmente possui o sistema mundial, em que, inclusive, entre centros e periferias pode haver subcentros, ou “periferias de periferias”, como é o caso das regiões amazônicas e seus países ribeirinhos.

A partir dessa perspectiva dualista, o mundo foi ordenado para alcançar o “desenvolvimento”. Afloraram-se planos, programas, projetos, teorias, metodologias e manuais de “desenvolvimento”, bancos especializados para financiar o “desenvolvimento”, ajuda para o “desenvolvimento”, capacitação e treinamento para o “desenvolvimento”, comunicação para o “desenvolvimento”, etc. De forma longa e muitas vezes supérflua, tudo
isso veio à tona.

Ao redor do “desenvolvimento”, em plena Guerra Fria, gerou-se o confronto entre capitalismo e socialismo real (“comunismo”). Se inventou o mal, chamado “Terceiro Mundo”; seus membros foram instrumentalizados como peões no jogo de xadrez da geopolítica
internacional. Uns e outros, direitas e esquerdas, estabelecendo as diversas especificidades e diferenças, assumiram o desafio de alcançar o “desenvolvimento”. Por todo o planeta, comunidades e sociedades foram –e continuam a ser– rearranjadas para se adaptarem ao
“desenvolvimento”.

A busca do ‘desenvolvimento’ como obrigação inegociável

O “desenvolvimento” tornou-se o destino comum da humanidade, uma obrigação inegociável. E, de fato, este esforço lançou as bases conceituais para outra forma de imperialismo: o próprio “desenvolvimento”.

Em nome do “desenvolvimento”, países “centrais” ou “desenvolvidos” –pontos de referência para os países “subdesenvolvidos” – nunca renunciaram à interferência direta ou indireta nos assuntos internos desses países que deveriam ser ajudados a desenvolver-se.

Registramos, a título de exemplo, as intervenções econômicas recorrentes por meio do FMI e do Banco Mundial, assim como as ações militares destinadas a promover o “desenvolvimento” dos países atrasados, protegendo-os da influência de alguma das potências rivais. A chamada “ajuda ao desenvolvimento”, hoje conhecida como “cooperação para o desenvolvimento”, também, se insere nesse âmbito, pois quase sempre responde aos interesses políticos dos doadores. Não faltaram –e não faltam– intervenções que supostamente procuram proteger ou introduzir a democracia como base política para se alcançar o “desenvolvimento” desejado.

Como o ‘desenvolvimento’ matou possibilidades nos países marginalizados

Enquanto isso, os países pobres, em uma subordinação e submissão generalizada, aceitaram tal processo desde que fossem condecorados com a enteléquia de países “em desenvolvimento”. No mundo da diplomacia e das organizações internacionais, incluindo a academia, não é comum falar de países “subdesenvolvidos”, muito menos aceitar que são países empobrecidos ou empurrados para a periferia pelas histórias coloniais ou mesmo pela própria busca do “desenvolvimento”.

De fato, os países “atrasados”, quase sem o benefício do inventário, aceitaram aplicar um conjunto de políticas, instrumentos e indicadores para sair do “atraso” e alcançar o “desenvolvimento” desejado. Ao fazer isso, eles marginalizaram seus sonhos, suas visões de futuro, seus horizontes autônomos para resolver seus problemas e, até mesmo, marginalizaram suas próprias capacidades.

Assim, negam suas raízes históricas e culturais para se modernizar, emulando os países avançados, ou seja, modernos. Fecharam as portas para as possibilidades de um caminho próprio.

A economia, em termos de acumulação capitalista e crescimento permanente, domina o cenário. A ciência e a tecnologia –quase sempre importadas– regem a organização social. Nesse caminho de fetichismo e mercantilização ao extremo, foi aceito que tudo pode ser comprado, tudo pode ser vendido, tudo é mercadoria. Assim, para que os pobres saiam de sua pobreza e “sejam como os ricos”, foi estabelecido que os pobres devem, agora, pagar para imitá-los: comprar até mesmo seus conhecimentos, marginalizando ou mesmo negando seus próprios saberes e práticas ancestrais.

Afinal, houve desenvolvimento?

A leitura dos avanços alcançados por esse empenho global pode ser sintetizada, entre uma longa lista de realizações, como:

  • Redução da pobreza e da pobreza extrema
  • Melhoria dos níveis de educação
  • Diminuição da mortalidade materna e infantil
  • Aumento da expectativa de vida
  • Expansão das tecnologias de comunicação

Sem negar essa realidade, a questão que se coloca é se estes países do Sul global alcançaram a meta de desenvolvimento. A resposta é complexa. Poderíamos reconhecer que alguns poucos conseguiram entrar no grupo exclusivo dos países “emergentes”.

Entretanto, surge outra questão: o que foi alcançado é “desenvolvimento”?

Ao longo do caminho, quando os problemas começaram a minar a fé no “desenvolvimento” e quando sua grande teoria fez água pelos quatro cantos, procuramos por alternativas ao “desenvolvimento”. Como uma criança sem pai para reconhecê-la, demos sobrenomes ao
“desenvolvimento” –como Aníbal Quijano1Consultar Aníbal Quijano (2000); “El fantasma del desarrollo en América Latina”, In: Alberto Acosta (compilador), El desarrollo en la globalización – El resto de América Latina. Nueva Sociedad e ILDIS, Caracas. apropriadamente colocou– para diferenciá-lo do que nos deixa desconfortáveis.

Mesmo assim, continuamos no caminho do “desenvolvimento”: “desenvolvimento” econômico, “desenvolvimento” social, “desenvolvimento” local, “desenvolvimento” global, “desenvolvimento” rural, “desenvolvimento” sustentável, “eco-desenvolvimento”, “etno-desenvolvimento”, “desenvolvimento” em escala humana, “desenvolvimento” endógeno, “desenvolvimento” com equidade de gênero, “co-desenvolvimento”, “desenvolvimento” transformador…

Durante esse período, não faltaram pesquisas sobre as causas do “subdesenvolvimento”, que, especialmente no início, tratavam questões próprias de visões míopes ou colonizadas, que explicavam os problemas a partir de posições religiosas, raciais ou geográficas; abordagens que, de uma forma ou de outra, ainda aparecem em certas ocasiões.

Críticas ao ‘desenvolvimento’ não alcançaram a essência do conceito

O “desenvolvimento” –que se tornou uma crença que nunca foi questionada– foi simplesmente redefinido, destacando esta ou aquela característica. As críticas nunca foram contra o “desenvolvimento” como um conceito e essência, mas sim contra os caminhos a serem seguidos para alcançá-lo. A América Latina, inclusive, desempenhou um papel importante na geração de revisões contestadas do “desenvolvimento” convencional, como o estruturalismo ou as diferentes ênfases dependentistas2Entre os dependentistas e estruturalistas destacamos -em ordem alfabética- Agustín Cueva, Theotonio dos Santos, Celso Furtado, André Gunder Franck, Ruy Mauro Marini, Raúl Prebisch, Aníbal Quijano, Samir Amin, Fernando Velasco, até alcançar posições mais recentes, como o neo-estruturalismo. Suas críticas foram contundentes, mas suas propostas não prosperaram, nem ousaram ser mais do que alternativas de “desenvolvimento”.

Essas posturas heterodoxas e críticas são de considerável importância, mas, também, têm várias limitações. Por um lado, suas abordagens falharam; algumas nem mesmo tentaram questionar seriamente os núcleos conceituais da idéia convencional de “desenvolvimento”, quase sempre entendida como progresso linear e, frequentemente, expressa em torno do crescimento econômico. Por outro lado, cada questionamento gerou uma onda de revisões que não puderam somar-se nem articular-se entre si. Em alguns casos, geraram um apogeu nas críticas e até mesmo nas propostas, mas logo após esses esforços definharam e as ideias convencionais recuperaram o foco das atenções.

A discussão, muitas vezes, ficou presa em questões que não tratavam do cerne da questão, tais como: mais Estado ou mais mercado; mais abertura exterior ou mais preocupação dentro de casa. O problema girava em torno da aceitação de um ou outro caminho para o “desenvolvimento”.

Levou tempo para entender que os caminhos não são o maior problema. A dificuldade está no conceito. O “desenvolvimento”, como uma proposta global e unificadora, ignora violentamente os sonhos e histórias dos povos “subdesenvolvidos”. Desse modo, o “desenvolvimento”, em uma espécie de continuação do domínio próprio da conquista e da colônia –que ainda se mantém na era republicana atual– contribuiu para a perda de capacidades próprias e, também, de identidades. Essa negação do que nos é próprio foi, muitas vezes, produto da ação direta ou indireta das nações “desenvolvidas”;
recordemos, a título de exemplo, as mencionadas políticas fundomonetaristas.

O esforço para se alcançar o “desenvolvimento” a qualquer custo foi inútil, especialmente quando sabemos que muitas vezes existiu –e ainda existe– um processo de “desenvolvimento do subdesenvolvimento”, como André Gunder Frank tão lucidamente
observou.

O objetivo, talvez não explicitamente buscado, foi apagar as aspirações locais e substituí-las pelo ideal de progresso imposto por e a partir dos centros do poder mundial. É como dizer que os países “desenvolvidos” representam um ideal completamente inatingível para os “subdesenvolvidos” (e mesmo para os “desenvolvidos”), mas funcional aos interesses da acumulação do capitalismo mundial.

Sim, o “desenvolvimento”, como uma reedição dos estilos de vida dos países centrais, é irrepetível em nível global. Esse modo de vida, consumista e depredador, ameaça o equilíbrio ecológico e marginaliza cada vez mais as massas de seres humanos das (supostas) vantagens do cobiçado “desenvolvimento”.

‘Desenvolvimento’ situação oposta a países ‘desenvolvidos’

Essa dura observação em relação ao sul global, não deve nos levar a acreditar que as iniquidades e desigualdades estão ausentes nos países enriquecidos ou que estes conseguiram resolver os graves problemas ambientais. Paradoxalmente, a ânsia de progresso levou os países “desenvolvidos” a se encontrarem, de fato, em situações de subdesenvolvimento. Para além do fato de terem enriquecido, em grande medida, explorando muitas regiões dependentes, transformadas em fontes de matérias-primas ou de mão-de-obra baratas.

É sóbrio constatar a enorme pobreza das crianças em meio à opulência. Nos EUA, há grupos étnicos em que a pobreza infantil supera 30%. 39% das crianças afro-americanas, 36% das crianças indígenas americanas e 32% das crianças hispânicas viviam em famílias pobres em 2013, segundo a Unicef. Na Alemanha, em 2018, segundo a Fundação Berstelmann, 21% das crianças viviam em situação de pobreza permanente, com um percentual de 9% que entrava e saia dessas condições. Para ver os elevados níveis de desigualdade basta revisar os números desse mesmo país europeu, um dos países considerados como modelo de “desenvolvimento” no mundo: em 2008, os 10% mais ricos da população alemã detinham 53% dos ativos (1998: 48%), ao passo que metade da população era proprietária de 1% dos ativos (1998:3%); uma situação que não só não melhorou desde 2008, como poderia ter piorado (Revista Der Spiegel 19.2014).

Ao que foi dito anteriormente, junta-se a insatisfação, mesmo entre os beneficiários de uma acumulação material crescente; a crescente violência multidimensional que vai desde a segregação racial ao neofascismo, passando pela crescente criminalidade, solidão e suicídios; a incapacidade dos instrumentos tradicionais para lidar com o desemprego crítico; a destruição incessável da Natureza.

‘Desenvolvimento’ devasta recursos naturais e populações

Agora, aqueles países “exitosos” dos últimos anos transitam pelo mesmo caminho subdesenvolvido. A China, por exemplo, ao efetivar “seu direito ao desenvolvimento”, conseguiu reduzir a pobreza de amplos segmentos de sua população, ao mesmo tempo em que está devastando os recursos naturais do planeta e se tornou o maior emissor de gases com efeito estufa do mundo.

O “desenvolvimento”, como meta, é irreproduzível a nível mundial, pois se todos os habitantes da Terra alcançarem os mesmos níveis de produtivismo e consumismo que um habitante estadunidense médio, seriam necessários mais de cinco planetas.

Certamente, o subdesenvolvimento atinge a periferia com mais força do que as metrópoles capitalistas. No entanto, a questão é ainda mais grave, porque os países empobrecidos dependem das lógicas de acumulação de capital transnacional, lógicas que condenam esses países a se acorrentarem ao extrativismo-mineração, petróleo, agricultura,
silvicultura, pesca –cada vez de forma mais violenta e voraz; lógicas que envolvem esses países em esquemas de dominação.

Corolário: o mundo vive um “mau desenvolvimento” generalizado, incluindo aqueles países considerados “desenvolvidos”. José Maria Tortosa, notável sociólogo, faz-nos compreender que “o funcionamento do sistema mundial contemporâneo é ‘mal-desenvolvido’ (…) Em outras palavras, o sistema mundial está mal desenvolvido por sua própria lógica e é a esta lógica que a atenção deve ser dirigida”.3Entre os múltiplos e valiosos aportes de tortosa se recomenda o texto Maldesarrollo y mal vivir – Pobreza y violencia escala mundial, In: Acosta, Alberto y Martínez, Esperanza (editores), série Debate Constituyente, Abya–Yala, Quito, 2012.

À medida que crises múltiplas e sincronizadas envolvem o planeta, vemos como o fantasma do “desenvolvimento” provocou e segue provocando consequências funestas. Embora possa não ter conteúdo ou projecção, o “desenvolvimento” justifica os meios. Tudo se tolera para, supostamente, sair do “subdesenvolvimento” e alcançar o progresso. Tudo se santifica em nome de uma meta elevada e promissora: temos que, ao menos, nos parecer com os superiores, “ser como eles” diria Eduardo Galeano, e para conseguir isso, qualquer sacrifício é aceito.

O “desenvolvimento”, para citar apenas um entre os muitos abusos existentes, consiste em uma forma grave de destruição social e ecológica provocada pelo extrativismo, ampliando-o, cada vez mais, mesmo quando aprofunda-se na modalidade de acumulação primária de exportação herdada desde os tempos coloniais. Paradoxalmente, é uma das causas diretas do empobrecimento na grande maioria dos países periféricos.

A urgência de se pensar de fato num pós-desenvolvimento

Em resumo, apesar de as questões terem surgido quase no início desta cruzada e terem se intensificado nos últimos anos, a procura de “desenvolvimento” ainda é incessante e desesperada. Vai desde as versões mais economicistas que enquadram “desenvolvimento” como crescimento econômico até as versões mais complexas de “desenvolvimento” à escala humana ou “desenvolvimento” sustentável, para citar apenas um par delas.4Dentro da interminável lista de textos sobre o tema, é recomendável o livro do reconhecido economista peruano Jürgen Schuldt (2012); Desarrollo a escala humana y de la naturaleza, Universidad del Pacífico, Lima. No entanto, à medida que o desencanto se expande pelo mundo, emergem discussões e propostas com crescente força que estão a moldar um cenário de pós-desenvolvimento.5Ver os aportes de várias autoras e autores no livro Alberto Acosta, Pascual García, Ronaldo Munck – editores (2021): Posdesarrollo – Contexto, contradicciones y futuros, , UTPL – Abya-Yala.

Podemos dizer que a ideia de organizar a vida fora do “desenvolvimento” está emergindo, especialmente ao rejeitar os núcleos conceituais da ideia convencional de “desenvolvimento”.

O que é destacável e profundo nessas propostas alternativas é que muitas delas provêm de grupos tradicionalmente marginalizados e permanentemente explorados. Um exemplo claro são os povos originários que, mesmo que em situações de adversidade, conseguiram e ainda tentam manter seus valores, experiências e práticas, mas que aos olhos do “progresso” ocidental são vistos como meros sinais de atraso. O Bem Viver é apenas um exemplo dessas propostas relacionadas com muitas outras, tais como Swarag na Índia, Ubuntu na África ou Kyosei no Japão.

Já é tempo, então, de deter essa corrida maluca atrás de um fantasma. É indispensável, inclusive, enfrentá-lo superando “o furacão do progresso”, tal como entendeu Walter Benjamin. Para conseguir tal intento, urge mudar o rumo e transitar por caminhos pluriversais.6Um aporte recomendável, que recorre a aportes de 120 pessoas dos 5 continentes, é o de Ashish Kotahri, Ariel Salleh, Arturo Escobar, Federico Demaria, Alberto Acosta: editores (2019); Pluriverso: dicionário do pós-desenvolvimento, Editorial Elefante, Brasil Caso contrário, esse fantasma seguirá provocando destroços e frustrações cada vez mais irreparáveis.

Alberto Acosta é economista equatoriano e profesor universitario. Foi subgerente de comercialização da estatal Petrolera Ecuatoriano (CEPE, 1982-1983). ministro de Minas e Energia (2007), presidente da Assembleia Constituinte (2007-2008) e candidato à Presidência do Equador (2012-2013). É consultor de energia.
Este texto não representa, necessariamente, o posicionamento da Amazônia Latitude.
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