A história do bairro Umarizal, em Belém, nas crônicas de Murilo Menezes
Em ‘A Capital do El Dorado’, de 1954, autor descreve ruas, largos e avenidas que foram ocupando o espaço do bosque de umaris
Avenida Generalíssimo Deodoro, Umarizal, em desenho de Sebastião Godinho.
Aconteceu de achar no mar encapelado de meus livros, este “A Capital do El Dorado”, autoria de Murilo Menezes, da Academia Paraense de Letras, lançado em 1954, que tem como subtítulo “Crônica Sentimental de Belém e Comentários sobre alguns dos seus Problemas”.
A Rua São Vicente, hoje Manoel Barata, rumo do nordeste, esbarrou logo depois da Travessa do Príncipe, hoje Quintino, com um espesso bosque de umaris, que foi pouco a pouco derrubado pelos que adquiriram terrenos para edificar. O caminho aberto para a nova via urbana foi chamado de Rua Cônego Pimentel, prolongamento da Manoel Barata. À sua direita tem a Rua Bernal do Couto, Rua Boaventura da Silva até o Largo do Esquadrão de Cavalaria, hoje Praça Brasil que atinge a antiga Estrada São João, atualmente Avenida Senador Lemos. As duas artérias, São João e Cônego Pimentel, formaram bairros diferentes entre si, tanto que assim que se lançaram os trilhos iniciais para as vias de tração animal, levados a efeito por duas companhias distintas, cada uma tomou posse da sua. Na de São João foram bondinhos de bitola estreita, cujo terminal ficava onde está a igreja de São Raimundo, no São João do Bruno. Na outra eram os carris de bitola larga, que percorriam a rua todinha, indo dobrar na Travessa Dom Romualdo de Seixas, entrava pela Bernal do Couto, de ida e de volta, contornava pela Rua Oliveira Belo, procurando a estrada 2 de Dezembro, atual Generalíssimo Deodoro, rumo de Nazaré. Esta linha de bitola larga chamava-se Umarizal. A 2 de Dezembro passou muitas décadas sem passeios laterais, nem calçamento, marginada de velhas rocinhas com cercados na frente e humildes barracas de palha, constituindo seu leito temível lameiro produzido pelos cascos dos animais que puxavam os veículos e os sulcos das rodas das carroças. O bairro da Pedreira, que nasce num dos extremos do Umarizal era conhecido apenas por Acampamento. Não havia uma linha Circular. Cada linha de bondes tinha seu destino. A linha São José percorria a Estrada de São José, a Estrada Conselheiro Furtado, a Travessa Presidente Pernambuco, ou Jaqueira, a Estrada da Constituição, hoje Gentil, seguia pela Dr. Morais e São Braz até Nazaré, chegando na Estação Central onde quem precisasse, tomava os bondes para Marco ou Santa Izabel. Na esquina da Dona Januária, hoje Almirante Wandenkolk, havia a mercearia ‘O anil das lavadeiras’. Adiante havia a Escola Industrial, depois dividido em dois onde ficava a Mercearia Antonio da Mangueira, depois chamada A Pérola do Umarizal. Havia a Praça Santa Luzia, onde havia um grupo escolar e um grande gramado que ia até a 14 de março até que começou a ser construída a Santa Casa de Misericórdia, com apoio do Senador Lemos que pressionou o Congresso Estadual para que votasse as leis para o auxilio ao Governo na construção.
Há outras crônicas, uma sobre o comércio, a partir da João Alfredo e arredores, costumes da época, frequentadores. Há outra sobre a diversão de jovens em um bairro de Batista Campos ainda recente, mas com sua praça, onde namorados buscavam breves momentos para uma prosa, antes da chamada dos pais. Meu avô é citado, por estar paquerando Celina, minha avó. Uma delícia de ler.
Estamos sempre nos deparando com a história de Belém, do Pará e a imensidão que não conhecemos e não é ensinada nas escolas. Faltam informações e falta um Carlos Rocque para nos contar. Quanto ao autor, tem belo estilo, oscilando entre o coloquial e algo mais encorpado, quando trata de assuntos políticos e que tais.