GT do V Sialat discute a importância da educação museal no sul-global
Michelly Fernandes no V Seminário Internacional América Latina e Caribe. Foto: Marcelo Dias/Amazônia Latitude
Quantos museus você já teve a oportunidade de visitar para ampliar seu repertório cultural? A partir da exposição a diferentes modelos, ideias e espaços culturais, os museus podem nos proporcionar novas experiências pessoais e coletivas.
Segundo o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) e o Conselho Internacional de Museus (Icom), museus são instituições permanentes, sem fins lucrativos, abertas ao públicos e dedicadas à pesquisa, preservação, interpretação, exposição, contemplação, ao estudo e turismo, conjuntos e coleções de valor histórico, artístico, científico, técnico e cultural.
Foi essa a temática discutida pelo grupo de trabalho Pensamento social, utopias e epistemologias na América Latina e no Caribe, coordenado por Edna Castro e Saint Clair Trindade, professores do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (Naea), e Sirlei Silveira, da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), durante o encerramento do V Seminário Internacional América Latina e Caribe (Sialat), na última sexta-feira (26).
Promoção dos saberes ancestrais a partir da educação museal
Michelly Fernandes, mestranda da Universidade Estadual do Pará (UEPA), apresentou a pesquisa Por uma educação museal do sul-global: saberes originários presentes em museus, que desenvolve junto a seu orientador Sérgio Corrêa, professor na instituição.
“Os museus, historicamente, refletem muito do colonialismo, essa estrutura de poder na qual fomos inseridos. Mas eles também podem nos mostrar caminhos para uma desconstrução do legado colonial que os museus possuem”, pontuou a pesquisadora.
Apontando uma possível solução para o desmantelamento, ou, pelo menos, para a revisão da colonialidade presente nessas instituições, Fernandes destaca a importância dos movimentos sociais, das políticas de identidade e representatividade e da introdução da categoria “Sul” como uma resposta epistemológica frente ao discurso de artes e culturas importadas e também impostas.
Para os invasores, a tática de silenciar e invisibilizar os povos originários foi uma estratégia de poder para perpetuar uma narrativa histórica e universal do Ocidente, com o objetivo de moldar a memória coletiva em torno dos valores ocidentais.
Dessa maneira, a pesquisadora aponta que desconstruir a narrativa histórica e o domínio é expor a “cultura do silêncio”, implicando em reconhecer, apoiar, valorizar e tornar visível a produção e a narrativa históricas dos sujeitos subalternizados e colonizados que residem no lado não reconhecido.
Instituir uma educação museal originária do sul-global seria promover os conhecimentos dos povos originários e locais, desafiando, assim, as perspectivas eurocêntricas enraizadas nos museus convencionais.
“A gente tem muito aquela noção dos museus europeus. Louvre, na França, ou o Metropolitan Museum of Art, nos Estados Unidos, museus que a gente conhece a partir dos livros didáticos e da mídia. Mas, às vezes, desconsideramos que, aqui perto desta universidade, por exemplo, também temos museus que contam um pouco das narrativas dos povos locais”, ponderou.
Além disso, Fernandes explicou que a presença dos saberes de tais povos nos museus ultrapassa a exposição de artefatos ou representações visuais. Então é necessário promover a transformação na concepção e oferta de experiências educativas, considerando o relacionamento com os indígenas.
Sendo assim, é substancial levar à sociedade a reflexão sobre as representatividades desses sujeitos como colaboradores ativos nas ações museais.
Texto: Marcelo Dias
Edição: Alice Palmeira
Revisão: Isabella Galante
Direção: Marcos Colón