Agustín Laó-Montes debate sobre decolonialidade e diáspora africana no Caribe

Em sua participação no V Sialat, o autor porto-riquenho abordou geopolítica, religiões e culturas afro-indígenas no Caribe

Agustin Lao-Montes
Agustín Laó-Montes falando sobre decolonialidade. Foto: Manuela André/Sialat
Agustin Lao-Montes

Agustín Laó-Montes falando sobre decolonialidade. Foto: Manuela André/Sialat

Nesta quarta-feira (24), durante a conferência de abertura do 5° Seminário Internacional América Latina e Caribe (Sialat), o professor doutor Agustín Laó-Montes foi destaque. Ele trouxe a discussão sobre a afro-diáspora ocorrida no período de colonização das Américas, além de levantar propostas decoloniais.

Natural de Porto Rico, Laó-Montes é doutor em Sociologia Histórica. Professor no campo sociológico na Universidade de Massachusetts Amhers, nos Estados Unidos, ele atua no Centro de Estudos Latino-Americano e Caribenho. Além disso, é autor de livros que debatem diáspora negra, cidadania e políticas raciais nas Américas.

“Todos falam de Caribe. Nos Estados Unidos, quando se fala de América Latina e Caribe, Caribe é como uma chave… Falar sobre o Caribe é se posicionar no universo histórico, epistêmico e político”, explica Laó-Montes.

Partindo do período de colonização da região do Caribe, marcado por uma diáspora violenta, conquistadora e escravagista, Laó-Montes trouxe para sua apresentação discussões sobre afro-epistemologias, levantando conceitos como quilombismo, termo usado por Abdias do Nascimento, que trabalha vivências e experiências históricas de povos negros unificando a construção da identidade e a transculturação.

Segundo o professor, as regiões caribenhas e amazônicas desempenham um papel protagonista na configuração da diáspora africana global. No entanto, há muito o que discutir sobre esse espaço em diferentes campos, na cultura, religião e geopolítica. Para Agustín Laó-Montes, “tanto a Amazônia quanto o Caribe são zonas de fronteira, regiões translocais, cidades afro-indígenas”.

“Nossas luas são as mesmas. As diásporas foram africanas, no plural, por se tratar de vários fenômenos, mas em unicidade, em elementos que o professor enumera como pertencentes a mesma opressão, aos mesmos elementos que são acionados em um contexto de perseguição, de racismo e outros tipos de agressões que o povo negro sofre na América Latina e no Caribe”, opinou a profa. dra. Sônia Albuquerque, que estava como ouvinte durante a sessão.

Na cultura

Durante a conferência de abertura, Laó-Montes falou sobre ritmos e danças presentes na cultura latina. Entrando em questões como corpo e religiosidade, o autor mostrou a visão de um imaginário colonial empregado nas manifestações culturais latino-americanas, explicando que muito dessa corporeidade ganha uma característica profana, mesmo tendo um viés diversas vezes sagrado, como no caso da religiosidade de matriz africana, que utiliza sons e danças em seus ritos.

Essa visão de um Caribe perigoso e selvagem ganha associação com a figura da literatura Caliban, criada por William Shakespeare. Como dito em sua fala durante o evento, no período colonial, o mundo ocidental via a região latina como selvageria. Esse pensamento se estende não apenas ao campo cultural, adentrando também a religião.

Na religião

Durante sua participação no V Sialat, Agustín abordou o campo afro-religioso, enfatizando a figura do vodum e outras religiosidades que transcendem à ideia colonial. Exu, por exemplo, o mensageiro que está no ponto de encruzilhada, entre os pontos de vida e morte, num pensamento ocidental, tem sua existência demonizada.

“Pensar que todos os contextos africanos, em especial o vodum, transcende uma ideia monoteísta, uma ideia fechada, que o cristianismo vai nos furtar. Vai nos desconstruir a possibilidade de pensar além do contexto cristão. Então Laó-Montes propõe uma decolonialidade, e a religião, a ideologia é fundamental para a construção dessa decolonialidade, desse quilombismo e dessa afroepistemologia no sentido pleno”, relatou a profa. dra. Sônia Albuquerque.

Na geopolítica

“Não se pode falar de América Latina sem falar da Revolução Haitiana”, expôs o conferencista, que usou o processo de luta por independência do país caribenho para exemplificar o processo de decolonialidade que a região vem passando. “A modernidade capitalista é uma totalidade complexa, na qual o Caribe é deixado como um microcosmo de sua totalidade. O processo de regionalização caribenho expressa poder imperial e desenvolvimento capitalista”, finalizou.

Produção: Addam Gonçalves
Edição: Isabella Galante e Alice Palmeira
Direção: Marcos Colón

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