Não é Rorãima, nem é Roráima; é o Kukenán

Artigo discute como nome atribuído ao estado se refere a paisagem do Monte Roraima vista do território venezuelano

Vista do Monte Roraima a partir da Venezuela. Foto: Raphael Barros
O tepui Kukenán, localizado totalmente na Venezuela, amplamente divulgado como o Roraima. Foto: Raphael Barros
Vista do Monte Roraima a partir da Venezuela. Foto: Raphael Barros

O tepui Kukenán, localizado totalmente na Venezuela, amplamente divulgado como o Roraima. Foto: Raphael Barros.

O Território Federal do Rio Branco foi criado no da 13 de setembro de 1943, desmembrando-se do estado do Amazonas, porém após realização de um plebiscito com os habitantes, passou a se chamar Território Federal de Roraima, em 13 de dezembro de 1962. E finalmente passou a ser o Estado de Roraima, em 05 de outubro de 1988.

Outros nomes como Uailã, Parima, Paraviana também foram sondados. A indicação do nome Roraima no certame foi feita em referência ao Monte Roraima (pronuncia-se Roráima, conforme a língua indígena local). É sabido que o Monte marca a tríplice fronteira Brasil-Guiana-Venezuela, sendo a maior porção da área localizada em território venezuelano (aproximadamente 85%). O Brasil tem a menor área dentre os três países, com cerca de 5% da porção total do tepui.

O nome Rio Branco referia-se ao rio que surge da confluência dos rios Uraricoera e Tacutu, no atual município de Boa Vista, e segue até o rio Negro na divisa com o estado do Amazonas, o qual é afluente. Há quem diga que o rio mesmo era para continuar sendo chamado Uraricoera.

Tendo em vista o histórico da nomeação desta unidade federativa, nos parece ainda haver uma identidade indefinida em relação à morada de Makunaima (isto mesmo, com K, e pronuncia-se localmente Makunáima, e não Macunaíma), o esplendoroso Monte Roraima, com seus 2.780m de altitude.

Nossa observação inicia-se na composição do Brasão do Estado de Roraima. É possível ver além da garça, a imagem de um garimpeiro, ramos de algodão, arroz, e instrumentos indígenas, a imagem do Monte acompanhada do Monte Kukenán, à esquerda.

Devemos aqui também lembrar que é empregado o termo de origem indígena Tepui como um sinônimo de Monte. A imagem dos dois tepuis corresponde a vista que se tem da histórica trilha Paraitepuy, no Parque Nacional Canaima, na Venezuela. Esta trilha é o percurso que culmina na escalada do Roraima. Ou seja, a identidade do Estado de Roraima é uma imagem vista estando em solo venezuelano. 

A imagem dos dois tepuis corresponde a vista que se tem da histórica trilha Paraitepuy, no Parque Nacional Canaima, na Venezuela. Foto: Raphael Barros.

O tepui Kukenán e o Roraima vistos da trilha Paraitepuy na Venezuela. Foto: Raphael Barros.

Além disso, observamos que em estabelecimentos comerciais, embalagens de produtos como água mineral e café, material de divulgação de eventos públicos, livros, capa de disco e até em uma tela no interior do próprio Palácio do Governo Estadual são utilizadas imagens do tepui Kukenán (também chamado de Matawí), sendo este situado totalmente na Venezuela. 

Possivelmente, isso ocorre devido à imagem turística amplamente divulgada pelos venezuelanos. Esteticamente, da vista da trilha Paraitepuy, o Kukenán é bem mais “fotogênico”e “instagramável’ que o paredão do Roraima.

A questão que apresentamos aqui tem três situações: a imagem do Roraima e a imagem do Kukenán, vistos da trilha Paraitepuy, e também a imagem vista estando em solo brasileiro. A face brasileira do Monte Roraima é possível ser vista quando se estar na Comunidade Indígena Caramambatai-Mapaé, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Nesta posição, além de se ter a parte brasileira do Monte, é possível também ver o tepui Wei-Assipú, popularmente chamado de Roraiminha, à sua frente.

Mas destacamos aqui que fatos como este podem ocorrer por desconhecimento da população em geral sobre o Monte que dá nome ao Estado. É necessário deixar claro para todos que a face brasileira do Monte, embora não seja possível de subir, é possível ser vista estando em solo brasileiro e assim caracterizar a identidade do povo brasileiro roraimense.

Rodrigo Leonardo Costa de Oliveira é pernambucano de Vitória de Santo Antão. Vive em Roraima desde 2006, onde atua como professor de Biologia na Universidade Estadual de Roraima (UERR).

Montagem da Página e acabamento: Alice Palmeira
Revisão:
 Glauce Monteiro
Direção: Marcos Colón

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