Representantes de processos organizacionais discutem defesa da terra na América Latina

Os convidados partilharam experiências e ativismos na defesa de Abya Yala

Professores participam da mesa redonda em defesa da terra
Profa. Edna Castro e Prof. Jesús Díaz na mesa redonda "Sociedades en movimiento y defensa de la vida en Abya Yala. Experiencias altercomunicativas". Foto: Manuela André/Sialat
Professores participam da mesa redonda em defesa da terra

Profa. Edna Castro e Prof. Jesús Díaz na mesa redonda Sociedades en movimiento y defensa de la vida en Abya Yala – Experiencias altercomunicativas. Foto: Manuela André/Sialat

Mediada por Andrés Ortiz, doutor em Sociologia e Antropologia pela Universidade Federal do Pará (UFPA), a mesa redonda Sociedades en movimiento y defensa de la vida en Abya Yala – Experiencias altercomunicativas trouxe para V Seminário Internacional América Latina e Caribe (Sialat) representantes de países da América Latina.

Gabriela Condori (Bolívia), Vilma Angélica Chuy (Guatemala), Mónica Montalvo (México), Diana Yate (Colômbia) e Andrés Tapia (Equador) experienciaram seus processos e lutas sociais em defesa da terra e embates existentes contra a exploração e invasão de áreas protegidas. Durante suas falas, os convidados partilharam os cenários políticos de seus países e os impactos na luta em defesa de povos indígenas e territórios.

Bolívia

Gabriela Condori é ativista na luta em defesa de povos originários bolivianos e integra a rádio Red de la Diversidad, voltada à comunicação alternativa em prol da luta e defesa de vidas e territórios indígenas. Durante sua participação no evento, partilhou seu trabalho que desafia as fronteiras da comunicação e denuncia a invasão de mineradoras em áreas protegidas por lei.

“A Bolívia se encontra marcada por grandes conflitos e invasão por meio de cooperativas mineradoras em vários territórios. Muitos acidentes acontecem justamente por essa atividade mineradora descuidada”, relatou.

Denunciando a exploração desenfreada de recursos naturais em terras indígenas e violências sofridas por povos originários, Gabriela também falou sobre o crescimento do feminicídio. “Nossa conjuntura se encontra marcada por assassinato de muitas irmãs, mulheres, por denunciarem a corrupção, a violência. É um sistema de política boliviana altamente ineficaz”, acrescentou.

Guatemala

Vilma Angélica Chuy é defensora dos direitos individuais e coletivos dos povos indígenas. A ativista comunitária participou do V Sialat para abordar sua resistência na Guatemala, relatando violências sistemáticas sofridas pelos povos guatemaltecos diante de sistemas políticos governamentais estruturalistas e racistas, que se prendem a processos colonialistas responsáveis pelo desrespeito a terras e direitos.

Fazendo um recorte histórico, a indígena trouxe para a mesa redonda um recorte temporal que mostra que, desde o processo de colonização do país, nações indígenas sofrem violências e perseguições. Por conta disso, desde os anos 60, etnias locais se organizaram na luta por direitos individuais e coletivos, levantando propostas de um Estado pluriétnico e plurinacional na democracia, economia, cultura e justiça.

“É uma mobilização legítima. Durante décadas, nós, povos originários, fomos persistentes e resistimos. Então, desde a resistência histórica e atual, já não podemos deixar que a escravidão siga, que o racismo siga. Violentando nossos povos, nossas mulheres e nossos homens indígenas”, refletiu.

Gabriela Condori (Bolívia), Vilma Angélica Chuy (Guatemala), Mônica Montalvo (México), Diana Yate (Colômbia) e Andrés Tapia (Equador)

Andrés Gordillo, Gabriela Condori, Mónica Montalvo, Diana Yate e Andrés Tapia participaram da mesa redonda por videoconferência. Foto: Manuela André/Sialat

México

Antropóloga social, doutora em Desenvolvimento Rural, Mónica Montalvo falou sobre o cenário político mexicano e o uso da terra por parte do governo e dos grandes empresários que realizam, de forma irresponsável, projetos desenvolvimentistas. “Eles estão fazendo da mesma maneira que muitos outros já fizeram. Sem se preocupar com as reais consequências, sem priorizar o que as pessoas desses territórios desejam”, defendeu.

Montalvo ainda relatou os impactos ambientais que os territórios sofrem por conta do turismo desenfreado. Uma delas é a degradação ambiental causada por construções em áreas naturais, como a ocupação da costa litorânea do México para fins de estabelecimentos hoteleiros.

Durante sua fala, a mexicana pontuou a luta por narrativas contra-hegemônica que visam dar voz às comunidades rurais e aos povos originários. “Essas narrativas têm como objetivo questionar o desenvolvimento, o progresso, sem cair nas promessas vazias feitas pelos políticos durante campanhas eleitorais ou pelas empresas quando querem permissão para poder ocupar essas terras. Acreditamos nessas narrativas, em seu poder transformador”, opinou.

Além disso, a antropóloga explicou a importância de buscar diferentes narrativas e dar voz à população: “Compartilhar a multiplicidade de ações e esperanças vividas. Poder falar de processos que recuperem a memória para poder entender melhor porque chegamos aqui, e pensar nos novos caminhos que faremos coletivamente. Assim, desde as rádios comunitárias, o coletivo de formação, os grafites, estamos nos escutando para poder entender de outra maneira a realidade”.

Equador

Andrés Tapia é licenciado em Ciências Biológicas, mestre em Ciências e em Biodiversidade de Áreas Tropicais e sua Conservação. Foi dirigente de Comunicação na Confederação das Nações Indígenas na Amazônia Equatoriana (Confeniae) e contou sobre o uso de terras no país e as violências sofridas pelo povo andino.

Explicando o cenário político do Equador, o comunicador deu um panorama sobre o governo direitista e a resposta popular que se dá em manifestações e consultas públicas. O biólogo também criticou a postura do Estado e a mineração, bem como denunciou a onda de militarização nos territórios andinos.

“O atual governo se preocupa em fortalecer suas alianças e colocar o Equador como um destino para a mineração. Ação que causa detrimento aos setores rurais e camponeses que defendem seus territórios, nesse caso, os Andes”, detalhou.

Tapia finalizou sua fala mostrando que de um lado há um Estado com intenções de usar a terra como mercadoria e, de outro, estão os movimentos sociais que defendem o território contra ações que o prejudicam.

Colômbia

Diana Isabel Yate é indígena Pijoa. Licenciada em Pedagogia Infantil e Técnicas em Sistema, com estudos em Democracia e Justiça Ambiental, a jovem representou a Colômbia ao contar sobre o atual governo, que foi descrito como apoiador de pautas rurais e indigenistas. Por outro lado, ela explicou que ainda há diversos conflitos internos que causam insegurança nos territórios de povos indígenas.

A ativista considerou a resistência de nações originárias para dar voz aos mais velhos, mantendo viva suas origens e sua língua materna. Yate também abordou a busca por preservação e cuidado à terra. Durante a sessão, criticou os impactos na natureza do turismo nacional e do uso de fontes de energia não renováveis.

“Sabemos que na Colômbia o turismo é muito importante, mas quando damos enfoque ao ambiental, sabemos que isso impacta a natureza. Refletimos sobre a existência turismo, mas um ecoturismo, um turismo comunitário, que respeite nossa mãe terra. Quanto às energias, estamos falando sobre uma energia mais limpa, menos poluente”, concluiu.

Produção: Addam Gonçalves
Edição: Isabella Galante e Alice Palmeira
Direção: Marcos Colón

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